"Mãe, se calhar tens de ir para o lixo". A vida depois dos 35
"Mãe, se calhar tens de ir para o lixo". A vida depois dos 35
Tudo começou com uma conversa de elevador entre mim e o meu filho:
- A mãe tá a ficar velha.
- Porquê?
- Porque estou a ficar com cabelos brancos.
- Se calhar tens de ir para o lixo mãe.
Trinta, 35, 40, pouco importa. Mas há uma certa idade que quando a dobramos é como dobrar o Bojador. A mim bateu aos 35. Do dia para a noite fenómenos bizarros começaram a acontecer com o meu corpo.
É que não são só os cabelos brancos. Isso é o menos. O problema são os pêlos na cara, ossos que sofrem deslocações estranhas, ausência de pêlo onde se quer, e um fartote deles onde não se quer.
E para cima só mesmo os cabelos brancos porque tudo o resto começa a desafiar a gravidade. Pilates, hot yoga, boxing, o diabo a sete, músculos onde andam vocês?
Salve-se o acne tardio que ainda me permite conservar alguma juventude.
Outras mulheres falam-me no ganho de peso de um dia para o outro, aumento da gordura visceral, dores nas mais variadas articulações.
Mas nunca ninguém me alertou para isto!? Ai… "envelhecer está na moda, não sabias!". Certo, mas há uma diferença entre envelhecer de forma saudável e o envelhecer com pêlos na cara.
É altamente injusto que tenhamos de compactuar com estas bizarrias. O que para eles passa a ser "charme", para nós passa a ser o "nota-se mesmo que os anos passaram por aquela, coitada", "a idade toca a todos", "já não é o corpo que era".
Nunca a imagem foi tão importante e tão inútil ao mesmo tempo como agora. Tudo começa a valer, finalmente. A beleza começa a não ter formas e barreiras. E agora até tem defeitos. Porreiro. Mas, pêlos na cara? Eu recuso-me.
Tenho uma tia que diz que o 40 são o auge de uma mulher. Espero bem porque, pelo meu filho, nem a reciclagem me valerá.
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