Provoca cancro. É o aviso que a Irlanda vai pôr nas garrafas de vinho
Provoca cancro. É o aviso que a Irlanda vai pôr nas garrafas de vinho
Avisos semelhantes aos que conhecemos nos maços de cigarros a alertar para as consequências para a saúde do consumo de tabaco estarão brevemente nas garrafas de vinho e bebidas alcoólicas na Irlanda. As etiquetas terão impressos avisos do tipo: ‘O consumo de álcool provoca doenças do fígado’, ‘prejudica a saúde dos fetos’ e ‘está diretamente ligado a cancros fatais’.
Vários países europeus – sobretudo os grandes produtores e exportadores de vinho como a Itália e a França – bem como as destilarias e grandes marcas de bebidas espirituosas, estão a fazer intensa pressão para a que a decisão da Irlanda não vá para a frente.
A Comissão Europeia já autorizou Dublin a avançar com a medida que se insere num plano iniciado em 2018 para reduzir o consumo de álcool e o peso excessivo que o alcoolismo tem no sistema de saúde do país. Parte desse plano já foi posto em prática, com uma medida interna que enfureceu os consumidores uma vez que agora há um preço mínimo para a venda de bebidas alcoólicas. Ou seja, não há bebidas em saldo.
Letras a vermelho nos avisos
A partir do momento em que o decreto for assinado – ainda está em discussão – será contado um período de três anos a partir do qual todas as garrafas de bebidas alcoólicas terão os avisos dissuasores. Segundo uma primeira versão do diploma, a que o jornal Politico teve acesso, os avisos terão que ser impressos em letras maiúsculas e a vermelho, a ideia é estarem visíveis de forma muito notória.
Os produtores de bebidas alcoólicas europeus estão preocupdos com a possível implementação da medida. Citado pelo Politico, o presidente da associação de produtores de vinho italiana, Lamberto Frescobaldi, entende que a medida “atinge as fundações da economia europeia e põe em causa o livre movimento de bens”.
Ettore Prandini, presidente da associação italiana Coldiretti, disse àquele jornal que “não é justo comparar álcool aos cigarros. Consumido na quantidade certa, um copo à refeição, o vinho faz bem à saúde”.
O ministro italiano dos Negócios Estrangeiros – e antigo presidente do Parlamento Europeu – Antonio Tajani, acusou, esta segunda-feira, em Bruxelas, o plano irlandês de ser um ataque ao seu país e à dieta mediterrânica – que faz parte da classificação de património cultural imaterial da humanidade da UNESCO.
Irlanda foi o primeiro país a banir o fumo. Até nos pubs
Além das barreiras à exportação de bebidas europeias para a Irlanda que a obrigatoriedade de etiquetagem e a provável redução do consumo vão originar, os produtores da UE temem também que o país do outro lado da Mancha seja a primeira peça de um dominó que irá começar a rolar. Até porque a Irlanda tem fama de criar precedentes.
Foi o primeiro país a banir o consumo de tabaco em sítios fechados, incluindo num território considerado "sacrossanto" – o pub. Além disso, impôs as mais altas taxas de toda a UE nos maços de cigarros. Depois da Irlanda, as medidas restritivas ao tabaco começaram a tornar-se normais em toda a UE. Justificadamente, os produtores receiam que a prática de alertas contra a bebida acabe por se alastrar e tornar-se norma.
Comissão quer reduzir 10% de consumo na UE até 2025
Num dos grandes projetos do mandato da Comissão de Von der Leyen, o Plano para Vencer o Cancro, o álcool é uma das substâncias visadas, no capítulo de “Reduzir o consumo prejudicial de álcool”. Entre as mortes provocadas pelo álcool, o cancro era a principal em 2016. E o objetivo da Comissão é reduzir em 10% até 2025 o uso excessivo de álcool.
Para isso, deverá propor mudanças na legislação europeia. E pretende já durante este ano de 2023 avançar também com a criação de avisos de saúde obrigatórios a afixar nas garrafas. Não se sabendo, no entanto, se os avisos que a Comissão vai criar serão tão explícitos como os que a Irlanda está a tentar implementar.
A Irlanda antecipou-se à medida da Comissão com, provavelmente, um ataque mais duro à bebida do que aquele que os legisladores em Bruxelas irão poder criar. Tendo em conta que a nível europeu é muito mais difícil fazer passar uma proposta que vá de forma tão dura contra os hábitos culturais, e contra a grande indústria do vinho, cerveja e bebidas.
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