Planeta. Duas em cada cinco espécies vegetais estão em risco de extinção
Planeta. Duas em cada cinco espécies vegetais estão em risco de extinção
Duas em cada cinco espécies vegetais do mundo estão em risco de extinção como consequência da destruição do mundo natural. Esta é uma das principais conclusões do relatório anual do projeto "Estado das Plantas e Fungos do Mundo" da fundação Kew que avalia a diversidade de plantas e fungos na Terra, bem como as ameaças globais que estas enfrentam e quais as políticas existentes para as salvaguardar.
Produzido por um simpósio científico internacional de 210 cientistas de 97 instituições em 42 países, este é um trabalho anual de análise em profundidade sobre a forma como podemos proteger e utilizar de forma sustentável as plantas e fungos do mundo em benefício das pessoas e do planeta.
Os investigadores basearam a sua avaliação na lista de espécies em vias de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza. No entanto, nem todas as espécies estão proporcionalmente representadas nessa lista, sendo que apenas uma pequena fração das 350 mil espécies de plantas conhecidas foi avaliada. Fator que levou os cientistas a utilizarem técnicas estatísticas para torná-lo mais aproximado da realidade.
Os investigadores utilizaram mesmo a inteligência artificial para avaliar áreas pouco conhecidas. "Temos agora abordagens de AI que são até 90% precisas", escreveu Eimear Nic Lughadha, um dos responsáveis pela investigação na RBG Kew. "Estas são suficientemente boas para dizer: esta área tem muitas espécies que não foram avaliadas mas que estão quase certamente ameaçadas". Em 2019, Nic Lughadha relatou que 571 espécies tinham sido exterminadas desde 1750, embora o número real fosse provavelmente muito mais elevado.
"Sempre que perdemos uma espécie, perdemos uma oportunidade para a humanidade", escreveu Alexandre Antonelli, diretor de ciência no Royal Botanical Gardens (RBG), que está iserido na Kew, no Reino Unido. "Estamos a perder uma corrida contra o tempo, pois provavelmente estamos a perder espécies mais depressa do que podemos encontrar e nomeá-las".
A ONU revelou na semana passada que os governos mundiais não conseguiram atingir nenhum dos objetivos a que se propuseram para travar as perdas de biodiversidade na última década.
Os investigadores basearam a sua avaliação da proporção de espécies ameaçadas de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. No entanto, nem todas as espécies estão proporcionalmente representadas nessa lista e apenas uma pequena fração das 350.000 espécies de plantas conhecidas foi avaliada. Fator que levou os cientistas utilizaram técnicas estatísticas para se ajustarem a tendências nos dados, tais como a falta de trabalho de campo em algumas regiões. Utilizaram também a inteligência artificial para avaliar áreas pouco conhecidas.
"Temos agora abordagens de AI que são até 90% precisas", escreveu Eimear Nic Lughadha, líder da investigação na RBG Kew. "Estas são suficientemente boas para dizer: esta área tem muitas espécies que não foram avaliadas mas que estão quase certamente ameaçadas". Em 2019, Nic Lughadha relatou que 571 espécies tinham sido exterminadas desde 1750, embora o número real fosse provavelmente muito mais elevado.
O relatório sobre o Estado das Plantas de 2016 revelava que uma em cada cinco espécies estavam ameaçadas, mas a nova análise revela o risco real de ser muito mais elevado. A principal causa das perdas de plantas é a destruição de habitat selvagem para agricultura. A colheita excessiva de plantas selvagens, a construção, as espécies invasoras, a poluição e, cada vez mais, a crise climática são também importantes causas da perda de espécies vegetais.
Milhares de milhões de pessoas dependem de medicamentos à base de plantas como fonte primária de cuidados de saúde, e o relatório concluiu que 723 destas espécies utilizadas como tratamento estão mesmo ameaçadas. Estas incluem um tipo de trombeta de anjo vermelho na América do Sul utilizada para doenças circulatórias que se encontra agora extinta na natureza e uma planta de jarro indiana tradicionalmente utilizada para doenças de pele.
John Halley, Professor de Ecologia Universidade de Ioannina na Grécia e investigador neste projeto pede que se imagine um cenário onde um desastre repentino destrói 90% de uma floresta."Enquanto algumas plantas serão imediatamente extintas localmente, a maioria das espécies ainda irá existir nos 10% que restam. No entanto, a área reduzida significa que algumas, especialmente espécies que, de qualquer forma, eram raras, serão agora permanentemente expostas a níveis de população perigosamente baixos. Assim, uma proporção da população de plantas que podemos ver crescer agora, e que podemos pensar que são estão ameaçadas estão, de facto, num jogo de roleta russa contra o ambiente para passar de uma geração para a seguinte. A extinção é adiada mas não evitada", escreve.
O relatório também constata que os níveis atuais da apicultura em cidades como Londres estão a ameaçar as abelhas selvagens, uma vez que não há néctar e pólen suficientes para suportar o número de colmeias e as abelhas de cativeiro estão a ultrapassar as abelhas selvagens nessa corrida.
Terra: Uma arca do tesouro
No campo das boas notícias, mais de 3000 espécies de plantas e fungos foram identificadas pela primeira vez em 2019. O grande desafio, porém, é que muitas delas já se encontram em perigo de extinção. As plantas e os fungos sustentam a vida na Terra e por isso os cientistas afirmam estar numa corrida contra o tempo para encontrar e identificar espécies antes que estas desapareçam.
Em causa está a possibilidade destas espécies serem valiosas não só como alimentos, medicamentos ou fibras, mas também como importantes atores nos ecossistemas, podendo ter papéis fundamentais nos seus habitats, tais como ajudar a circulação de nutrientes. Segundo os cientistas, não é possível avaliar quão ameaçada uma espécie está até sabermos que ela existe. "É isso que faz da localização, descrição e identificação das espécies uma tarefa crítica", escrevem.
"Há ainda um vasto número de espécies neste planeta de que nada sabemos e que nem sequer temos nomes para", pode ler-se no documento. Segundo Martin Cheek, líder da Kew em África e Madagáscar, "uma vez identificada uma espécie, o próximo passo é descobrir quais são as suas potenciais utilizações, e se é uma prioridade para a conservação."
"Não conseguiríamos sobreviver sem plantas e fungos. Toda a vida depende delas e está realmente na hora de abrir a arca do tesouro", considera Alexandre Antonelli, director de ciência no Royal Botanical Gardens, Kew, no Reino Unido.
Do sudeste asiático e da China chegaram 30 espécies anteriormente anónimas de Camellia, o género ao qual o chá-da-índia e muitos arbustos de flores ornamentais pertencem. Entretanto, seis espécies de Allium, o género que inclui alho, cebola, alho-porro e cebolinho, foram encontrados pela primeira vez por cientistas na Turquia. Na Califórnia descobriram-se dez novos "parentes" de espinafres do género Chenopodium e no Brasil indentificaram novos parentes selvagens da mandioca (Manihot esculenta). Também anteriormente desconhecidos pela ciência, estavam os parentes selvagens de inhames (Dioscorea) e batata-doce (Ipomoea).
Entre as novas plantas médicas incluem-se uma espécie de azevinho do mar no Texas, cujos parentes podem tratar inflamações, uma espécie de Artemisa antimalária no Tibete e três variedades de Onagra (Onagraceae). "Apenas 7% das plantas [conhecidas] têm utilizações documentadas como medicamentos e, portanto, as plantas e fungos do mundo permanecem em grande parte inexploradas como fontes potenciais de novos medicamentos", escreveu Melanie-Jayne Howes, uma das cientistas líderes do estudo. "Portanto, é absolutamente crítico que protejamos melhor a biodiversidade para estarmos mais bem preparados para os desafios emergentes ao nosso planeta e à nossa saúde".
Monique Simmons, que investiga os usos das plantas e dos fungos na RBG Kew, disse que a natureza era um local chave para procurar tratamentos para os coronavírus e outras doenças com potencial pandémico: "Tenho a certeza absoluta de que algumas das pistas para a próxima geração de medicamentos nesta área virão de plantas e fungos".
Apenas 15 plantas fornecem 90% de todas as calorias diárias
O relatório destaca também o número muito reduzido de espécies de plantas de que a humanidade depende para a alimentação. Metade da população mundial depende do arroz, milho e trigo e apenas 15 plantas fornecem 90% de todas as calorias.
E destaca também potenciais alimentos no futuro, onde se incluem o feijão morama, uma leguminosa sul-africana tolerante à seca que sabe a castanha de caju quando torrada, e uma espécie de fruto pandano que cresce desde o Havai até às Filipinas.
"O aproveitamento deste cabaz de recursos inexplorados para tornar os sistemas de produção alimentar mais diversificados e resilientes à mudança deveria ser o nosso dever moral", consideram mesmo os cientistas. O relatório "Estado das Plantas e Fungos do Mundo" é lançado anualmente desde 2016.
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