Mulheres perdem empregos mais rentáveis para estarem mais perto dos filhos
Mulheres perdem empregos mais rentáveis para estarem mais perto dos filhos
Um novo estudo do Instituto de Pesquisa Socioeconómica do Luxemburgo (Liser, na sigla em inglês) mostra que as mulheres quando têm filhos tendem a passar menos tempo nas deslocações entre a casa e o trabalho e que aceitam, menos que os homens, trabalhos mais distantes, independentemente do salário.
Sob o título, "O Efeito do Parto nas Deslocações para o Trabalho e a Diferença de Género no Emprego", a investigação conclui que as mulheres abdicam de empregos mais bem remunerados no Luxemburgo para ficarem mais perto do seu local de residência, nos primeiros anos após o nascimento dos filhos.
No estudo, os investigadores citam dados do Eurostat que revelam que a diferença de género no trabalho reduziu de 18,8%, em 2002, para 11,3%, em 2021, no conjunto dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE). No entanto, ao mesmo tempo, as diferenças de género em empregos mais distantes da residência aumentaram em 25%, na UE.
A investigação do Liser revela que após o nascimento de uma criança, os homens mudam-se para empregos mais longe se puderem ganhar um salário mais elevado, enquanto as mulheres se mudam para empregos mais perto de casa e que deixam de trabalhar em empregos distantes, independentemente do seu nível salarial e do estatuto profissional do parceiro.
Num país como o Luxemburgo em que cerca de metade da mão-de-obra vem dos países vizinhos, esta realidade tem impacto nas trabalhadoras transfronteiriças.
Para este trabalho do Instituto de Pesquisa Socioeconómica do Luxemburgo, os investigadores analisaram a trajetória da carreira de 86.500 residentes belgas, na Província do Luxemburgo, que entre 2007 e 2017 podem ter tido o seu primeiro parto. "Devido à proximidade geográfica com o Luxemburgo, as pessoas estudadas poderiam ter tido acesso a melhores oportunidades de emprego, trabalhando do outro lado da fronteira, o que, no entanto, requer muito tempo de deslocação diária devido ao forte congestionamento do tráfego", refere um resumo da investigação.
No estudo, que tenta compreender a realidade pós-parto e o seu impacto no trabalho das mulheres e no seu nível de rendimentos, lembra-se que "as oportunidades de emprego melhor remuneradas requerem frequentemente mais tempo de deslocações", salientando que "esta tendência é uma fonte de preocupação para a igualdade entre os sexos".
Conduzida por Andrea Albanese, Adrián Nieto e Konstantinos Tatsiramos, a investigação analisa até que ponto o parto e o pós-parto são diretamente responsáveis pelo fosso entre géneros nos empregos à distância e conclui que este pode ocorrer devido aos "cuidados infantis superiores e responsabilidades domésticas ainda serem uma tendência feminina".
"Os resultados do estudo mostram que o parto gera uma importante diferença de género no trabalho concentrado em empregos não locais. Devido ao parto, as mães tendem a passar menos tempo a deslocar-se e, portanto, a renunciar aos empregos mais bem pagos no Luxemburgo para permanecerem mais perto do seu local de residência. Além disso, as famílias experimentam uma redução substancial na probabilidade de mudarem a sua zona de residência, que torna a taxa de emprego das mulheres mais vulnerável a condições adversas do mercado de trabalho local."
Nascimento do primeiro filho aumenta a diferença de género
Nas conclusões, os investigadores explicam que apesar dos níveis de emprego de homens e mulheres seguirem uma tendência paralela e semelhante antes do nascimento de um primeiro filho, verificamos que as suas trajetórias divergem após o parto, com as mães a sofrer uma quebra consideravelmente maior no emprego.
Segundo detalham os investigadores, "75% desta diferença de género no emprego é explicada por uma divergência no emprego não local", que, referem "não tem origem em mudanças na mobilidade residencial - uma vez que tanto as mães como os pais são igualmente menos propensos a mudar para uma região diferente após o parto - mas a partir de decisões sobre o local de trabalho, uma vez que o parto reduz o tempo passado a deslocar-se mais para as mães do que para os pais".
O estudo diz ainda que as mulheres experienciam uma maior quebra no emprego não local, independentemente da taxa de desemprego na sua região de residência, enquanto os homens se adaptam à condições económicas regionais e trabalham mais frequentemente em empregos não-locais quando vivem em regiões onde a oferta de emprego é menor. "A redução do acesso a mercados de trabalho não locais torna assim mulheres mais vulneráveis às piores condições do mercado de trabalho local."
Considerando as conclusões da sua investigação, os investigadores recomendam que os decisores políticos pensem as decisões de localização de emprego no âmbito da conceção das políticas para o mercado de trabalho, abordando as disparidades de género no contexto laboral, bem como tendo em conta características individuais, familiares e regionais que obrigam as mães a abandonar o emprego não local após o parto.
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