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Investigadores portugueses querem saber o que leva a nova emigração a regressar
Sociedade 5 min. 24.07.2020 Do nosso arquivo online

Investigadores portugueses querem saber o que leva a nova emigração a regressar

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Investigadores portugueses querem saber o que leva a nova emigração a regressar

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Foto: Vasco Santos
Sociedade 5 min. 24.07.2020 Do nosso arquivo online

Investigadores portugueses querem saber o que leva a nova emigração a regressar

Ana TOMÁS
Ana TOMÁS
Luxemburgo é um dos três países europeus que terá uma análise mais aprofundada num estudo que refletirá também as perspetivas de retorno ao país face à atual pandemia.

Perceber o que motiva o retorno a Portugal dos emigrantes recentes e avaliar esse regresso são os objetivos de um novo estudo, que está a ser realizado por uma equipa de investigadores de universidades e institutos portugueses e que tem no Luxemburgo um dos países centrais da sua análise.

O projeto, intitulado “Experiências e expectativas de regresso dos novos emigrantes portugueses: reintegração e mobilidades”, parte de inquéritos online à população das comunidades portuguesas no estrangeiro, com foco nos fluxos migratórios das duas última décadas, pretendendo, por um lado, “compreender as perspetivas de regresso dos emigrantes e as relações que estes mantêm com o seu país de origem”, e, por outro, “analisar o processo de integração na sociedade portuguesa dos que já regressaram a Portugal”, explica ao Contacto José Carlos Marques, do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria, que coordena o estudo.

A recuperação da crise económica em Portugal, iniciada após 2015, combinada com o lançamento do Programa Regressar, e as novas crises na Europa, como o Brexit, abriram uma expetativa de aumento dos movimentos de regresso ao país, que serve de base para esta investigação, na qual três países serão estudados de forma mais aprofundada: França, Luxemburgo e Reino Unido.


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As razões para a essa escolha, explica o sociólogo, justificam-se com o facto de serem países que registaram um aumento da população portuguesa, sobretudo após 2005. Além disso, são três destinos de emigração onde se revela a influência de diferentes contextos estruturais sobre a expectativa de regresso dos emigrantes. “Em termos políticos e sociais, cada um desses países experimentou, nos últimos tempos, particularidades que tornam a análise especialmente pertinente: no Reino Unido, os efeitos do Brexit; na França, o influxo de refugiados e outros migrantes e a polarização do debate sobre questões migratórias; no Luxemburgo, o impacto de imigração no sistema de segurança social e as questões relativas à integração dos imigrantes”, detalha José Carlos Marques.

Desemprego, a Troika e a pandemia

A investigação baseia-se na realização de inquéritos dirigidos aos emigrantes que saíram de Portugal depois de 2000. A ideia é conseguir estabelecer comparações com o estudo feito anteriormente, que incidia sobre a emigração portuguesa a partir desse ano, e ao mesmo tempo conhecer “uma emigração muito pouco estudada e que importa conhecer em maior profundidade”. “Trata-se de um período em que Portugal voltou a conhecer uma intensificação das saídas, com números a aproximarem-se dos que se registaram durante os anos 60 e 70 do século passado”.

O inquérito online que está agora a ser lançado, sob a coordenação do Instituto Politécnico de Leiria e que pode preencher em https://bit.ly/ 2LoXlhu, reconhece também importância de estudar os regressos dos que emigraram antes de 2000, esperando também a sua participação nessa consulta.

Estes regressos têm o potencial, de acordo com o investigador, para desenvolver demográfica e economicamente o país, “devido aos investimentos que poderão ser feitos e, também, à transferência de conhecimento acumulado durante o processo de residência no estrangeiro que poderão ser relevantes para a promoção do desenvolvimento regional das áreas de origem”. José Carlos Marques admite, porém, que a atual pandemia e a crise que se lhe irá seguir poderá tornar esse processo mais imprevisível. “Antever a evolução dos movimentos migratórios na atualidade é uma tarefa particularmente difícil. É reconhecido que os efeitos económicos decorrentes da covid-19 serão profundos e com impacto em múltiplas áreas da vida em sociedade. Uma dessas áreas será certamente o emprego.” Em junho de 2020, o número de desempregados, no Luxemburgo, registou um aumento de 32% face ao mesmo mês de 2019. Segundo o Statec, a taxa de desemprego no Grão-Ducado situa-se atualmente nos 7%. Em Portugal é de 5,5%, segundo dados do INE. Mas o número de “inativos” é muito superior, uma vez que a taxa de subutilização do trabalho está acima dos 14%. O governo português prevê uma taxa de desemprego este ano de 9,6% e de 8,7% em 2021.

O sociólogo refere que a evolução dos fluxos “será influenciada pela intensidade, extensão geográfica e duração da crise económica” e que nesse sentido há a considerar vários cenários na evolução dos regressos dos emigrantes. “Pode admitir-se que a intensificação da crise nos países de residência faça regressar um número importante de emigrantes, em especial os grupos que se poderão ver confrontados com uma redução dos rendimentos, decorrente de situações mais ou menos prolongadas de desemprego ou subemprego, e que não têm nos países em que se encontram estruturas de suporte que permitam a sua permanência”. Outro dos cenários a que se poderá assistir é um retorno maior daqueles que já estão “no final da carreira laboral e que já estavam a equacionar o regresso a Portugal”, para gozar a reforma. Em sentido oposto, poderá haver um adiamento ou interrupção na intenção de regressar, sobretudo nos emigrantes em idade ativa e que ponderam “prosseguir a sua atividade laboral em Portugal, quer num emprego subordinado, quer numa atividade independente”. Mesmo tratando-se de uma crise global, e sem precedentes, é previsível a saída de uma nova vaga de pessoas para procurar trabalho no estrangeiro, em especial se a evolução da situação económica nos potenciais países de acolhimento for mais favorável que a nacional. Esse fluxo será tanto maior quanto maior for o desfasamento na recuperação entre origem e destino. “Dado que as diferentes perspetivas apresentadas por várias instituições internacionais apontam para uma evolução económica mais desfavorável em Portugal, parece plausível admitir que a emigração portuguesa registará uma retoma quando voltarem a estar disponíveis oportunidades de emprego no exterior”, resume o sociólogo. 

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