Há um problema com o crime em Mont-Saint-Martin? "Não é uma região sem lei"
Há um problema com o crime em Mont-Saint-Martin? "Não é uma região sem lei"
Desde 19 de setembro que as linhas de autocarros transfronteiriças 703 e 732 para Mont-Saint-Martin, Meurthe-et-Moselle, foram suspensas a partir das 18h30 pelo Ministério dos Transportes do Luxemburgo. O motivo? Os vários incidentes violentos registados nos últimos meses.
"Motoristas foram agredidos e autocarros também foram danificados. Já não podíamos garantir a segurança dos condutores e passageiros", disse ao jornal Virgule Alex Kies, diretor da administração dos transportes públicos do Luxemburgo (RGTR).
Quando voltam os autocarros à zona a partir daquela hora - e se voltam nos mesmos contornos - deverá ser discutido entre os representantes e a Câmara Municipal de Mont-Saint-Martin, nos próximos dias.
Kies explica que o problema não é de hoje mas "tornou-se mais sério" e "os motoristas já não se sentem seguros a conduzir para esse destino". O diretor reconhece que a decisão "perturba as viagens dos passageiros, particularmente dos trabalhadores fronteiriços", mas, na situação atual, "a segurança tem precedência sobre a oferta".
Reforça ainda que não se trata de poupar dinheiro "mas de garantir a segurança de todos, o que não somos capazes de fazer, e isso é um grande problema. Não somos responsáveis nessa região. Em caso de agressão em solo luxemburguês, podemos trabalhar com as autoridades. Mas, na Moselle, é preciso medidas concretas de França".
"Tiroteios em autocarros com pistolas de ar"
Cabines para os motoristas poderiam ser uma solução para o problema? "Não sei se resolverá neste caso, porque há assaltos a passageiros e também é importante protegê-los. Também houve tiroteios em autocarros com pistolas de ar. Recentemente, houve outro incidente em que a janela do motorista foi partida", contou Kies, que considera a "situação simplesmente inaceitável".
O diretor das linhas RGTR afirmou ainda que "estes problemas de agressão só foram detetados na linha Mont-Saint-Martin durante anos" e "não noutras linhas RGTR para outras comunas francesas". "Em Mont-Saint-Martin existe um certo potencial para o crime. E não só em relação ao transporte", acrescentou.
Paul Gloutchitski, secretário dos Transportes da LCGB, afirma que "gostaria de ver uma mudança na forma como os autocarros funcionam". A decisão do ministério "apenas contorna o problema", de acordo com o sindicalista.
"É como colocar um penso rápido numa perna de madeira. Se houver um problema ao meio-dia, vamos abolir completamente esta linha ao meio-dia? O que faremos com estas linhas no Luxemburgo? Não haveria mais autocarros", defende.
Ao contrário de Kies, Glouchitski não considera que Mont-Saint-Martin seja uma exceção. "Há quase três meses, um motorista foi atacado em Yutz". Não é só em França. "Não nos devemos esconder atrás das linhas transfronteiriças, este fenómeno também existe no Luxemburgo. Há algumas semanas, um motorista foi atacado com uma faca", lembra.
"Não é uma região sem lei. É obra de sete ou oito jovens", diz autarca
Afinal, existe ou não um problema de crime em Mont-Saint-Martin? Serge De Carli, presidente da Câmara Municipal, refuta este termo: "Não é uma região sem lei. É obra de sete ou oito jovens, esse é o problema. E, por causa disso, uma linha de autocarros é suspensa", diz.
De Carli lamenta ter tomado conhecimento da suspensão das linhas regionais numa carta enviada pelo ministro da Mobilidade, François Bausch. "Fui presenteado com um facto consumado, não é assim que eu trabalho. Nessas matérias, é necessário dialogar".
É impossível falar de crime Mont-Saint-Martin sem mencionar o homicídio de Diana Santos, a portuguesa que foi encontrada desmembrada em meados de setembro.
De Carli afirma que a comunicação social também tem um papel aqui: "Há algum tempo, a morte de uma mulher foi-nos apontada. Ela não foi assassinada em Mont-Saint-Martin, mas o seu corpo foi despejado aqui e isso está a fazer muito mal ao nosso município".
De Carli, membro do Partido Comunista, defende que esta é uma "cidade jovem e dinâmica que cria empregos". "É uma comunidade popular com 45 nacionalidades de várias origens que vivem em paz. Há preocupações de tempos a tempos, sim", admite.
"Temos médicos e trabalhadores, mas também há dificuldades que não negamos e para as quais temos toda uma gama de serviços sociais, educacionais, culturais e de apoio".
O autarca quer soluções concretas que não prejudiquem os residentes: "95% da população não deve ter de sofrer as consequências de atos cometidos por estes menores", defende.
Como alternativa, propõe que as paragens de autocarro sejam deslocadas para que os autocarros já não entrem no distrito, parando antes a algumas centenas de metros de distância, na Boulevard de Metz.
(Artigo original publicado no Virgule. Adaptado para o Contacto por Ana Patrícia Cardoso.)
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