França. Descriminação de sotaques passa a ser considerado racismo
França. Descriminação de sotaques passa a ser considerado racismo
A partir desta quinta-feira, a França reconhece como racismo os actos de discriminação com base no sotaque.
Apoiado pelo ministro francês da Justiça, Eric Dupond-Moretti, o projeto de leia "que visa promover a França dos sotaques e combater a discriminação com base no sotaque", passou com 98 votos a favor e três contra.
O texto introduz o sotaque como critério de discriminação no código do trabalho e no código penal. Proíbe também qualquer discriminação baseada no sotaque na função pública.
"É uma questão de lutar contra a discriminação essencialmente na altura da contratação e não, como li aqui e ali, para proibir o humor", disse quinta-feira o autor do projeto de lei, Christophe Euzet, deputado de centro-direita.
"Numa altura em que as minorias 'visíveis' beneficiam da atenção legítima das autoridades públicas, as minorias 'audíveis' são as principais pessoas esquecidas do contrato social baseado na igualdade", argumentou Euzet.
A discussão deu a oportunidade a vários deputados de partilha das suas experiências pessoais e a discriminação que possam ter sofrido na sua juventude. "Sou filha de retornados da Argélia e posso dizer-vos que fui muito gozada na escola", disse Patricia Mirallès, do La République en Marche!.
A sua colega Michèle Peyron partilhou a mesma experiência quando, em 1971, "subiu" da "sua pequena aldeia no Camargue para Champigny-sur-Marne na região de Paris". "Em alguns meios de comunicação, se tiveres um sotaque que não seja o sotaque padrão de um parisiense próximo, nunca serás um apresentador", acrescentou Libertés et Territoires MP Paul Molac.
A deputada da Polinésia Francesa, Maina Sage, recordou ter realizado um estudo em 2019 para apoiar os produtores audiovisuais dos territórios ultramarinos: "[Disseram-nos que] quando ofereciam filmes aos canais nacionais eram abertamente solicitados a suavizar as imagens, retirar sotaques, colocar legendas quando tudo era compreensível em francês".
Alguns membros opuseram-se ao texto, como Emmanuelle Ménard, jornalista e deputada independente: "Gosto muito dos sotaques e apoio a sua promoção". Contudo, questionou "a oportunidade" de examinar tal texto "no meio de uma crise de saúde", durante "uma grande crise económica" e numa altura em que a França "enfrenta toda uma série de ataques terroristas".
Tomada de posição contrastante com a do ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, que disse estar "muito convencido" sobre a necessidade da nova lei.
No mês passado, Jean-Luc Melenchon, dirigente do movimento da extrema-esquerda France Insoumise, foi apanhado pelas câmaras a ser indelicado com um jornalista com sotaque sulista que lhe fez uma pergunta na Assembleia Nacional. "Alguém pode fazer-me uma pergunta em francês? E (torná-la) um pouco mais compreensível...", disse então Melenchon, dirigindo-se a um grupo de repórteres, o vídeo foi amplamente difundido nas redes sociais.
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