Editorial. O momento histórico que não queríamos viver
Editorial. O momento histórico que não queríamos viver
Andamos acordados no meio de um cenário de filme de catástrofe. Estávamos habituados que as mortes resultantes da gestão do mundo fossem silenciosas e invisíveis, como são os refugiados afogados no Mediterrâneo, os bombardeados no Terceiro Mundo ou os mortos em consequência da pobreza ou poluição. O coronavírus veio tornar todos os habitantes do planeta alvos de uma ameaça que avança de uma forma invisível por todos os cantos da Terra. Ninguém parece seguro.
Explicam-nos que 80% dos infetados não terão complicações graves, omitindo que se 2% dos infetados morrerem, muito menos que os 7% que falecem em determinadas zonas de Itália, e se a grande maioria das pessoas for infetada como garantem os epidemiologistas, teremos uma mortandade bastante maior que a gripe espanhola em 1918, que matou dez vezes mais que a Primeira Guerra Mundial.
O caminho negro do Covid-19 foi facilitado pela inépcia dos governos, com alguns, como o brasileiro, dos Estados Unidos ou o britânico, a garantirem que nada se passa e a pretenderem com a sua paralisia criar situações de darwinismo social, em que mais pobres, mais fracos, mais doentes e mais idosos são limpos e, milagrosamente, a sociedade ganharia uma imunidade coletiva ao novo vírus.
Esta crise mostra a necessidade de construir sociedades em que o valor máximo não seja o lucro e em que a saúde pública seja defendida por serviços nacionais com o músculo suficiente para cumprirem a sua missão.
“O que revela esta pandemia é que há bens e serviços que devem ser deixados fora das leis do mercado (...) Delegar a nossa alimentação, a nossa proteção, a nossa capacidade de curar, a nossa vida a privados é uma loucura”, garantiu o Presidente Francês, Emmanuel Macron, muito insuspeito de tendências esquerdistas, depois de explicar que “o dinheiro gasto no Estado providência não são custos nem gastos, mas bens preciosos e instrumentos fundamentais para quando o destino se abate sobre nós”.
Quando isto passar muitas coisas vão ter que mudar, para não se repetir uma situação que criamos com a forma de explorar a Terra, que multiplica perigos e catástrofes.
Mas mesmo aí, ainda não estaremos salvos das consequências desta crise. Esta mortandade vai ter consequências sociais e económicas gigantescas, com economias muito destruídas, se não for alterada a política económica dos bancos centrais e governos de se preocuparem apenas em garantir a estabilidade do capital financeiro, sem sem apoiarem pessoas e empresas produtivas. Vai haver uma deriva totalitária. Teme-se que esta verdadeira peste negra seja usada para colocar ainda mais a peste castanha dos ditadores de turno no poder, de forma a salvar um modelo económico cego que nos levou à beira do precipício. Uma crise é sempre um desastre, mas pode ser um poderoso alerta para traçar novos caminhos para uma sociedade mais justa, ecológica e sustentável que seja feita para bem de todos e não como o dividendo de muito poucos.
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