COVIRNA. Um novo teste para ajudar a proteger doentes covid-19 de problemas cardíacos
COVIRNA. Um novo teste para ajudar a proteger doentes covid-19 de problemas cardíacos
O impacto, muitas vezes grave, da covid-19 ao nível cardiovascular tem inquietado médicos e investigadores que tentam perceber que riscos e sequelas o vírus SARS-Cov-2 pode trazer às pessoas que tenham sido infetadas. O Instituto de Saúde do Luxemburgo (LIH) é um dos organismos que pretende contribuir para o estudo desse impacto, liderando um consórcio europeu que está a trabalhar num novo teste de diagnóstico para identificar pacientes covid-19 que correm o risco de desenvolver complicações cardiovasculares fatais.
O projeto, que inclui 15 parceiros das áreas da saúde, academia e indústria, oriundos de 12 países europeus, entre os quais Portugal, chama-se COVIRNA e é liderado pelo Dr. Yvan Devaux, chefe da Unidade de Investigação Cardiovascular do LIH, que explicou, em entrevista ao Contacto, alguns pormenores sobre o desenvolvimento deste instrumento inovador.
Que tipo de teste é este e como vai funcionar?
O teste COVIRNA é um teste de diagnóstico molecular baseado na medição de RNAs longos não codificantes (ou seja, espécies de RNA que não codificam proteínas) em amostras de sangue de doentes com covid-19, no momento do diagnóstico, e é capaz de identificar doentes que possam correr risco de morte ou sofrer consequências negativas resultantes da infeção pelo vírus SARS-CoV-2.
Qual é o objetivo deste teste?
O teste visa identificar esses doentes em risco de morte ou que desenvolvam essas consequências negativas, como por exemplo, problemas cardiovasculares, tais como arritmias ou insuficiência cardíaca, e que beneficiariam de cuidados de saúde adaptados à sua condição.
Que tipo de impacto espera que este teste tenha, a nível cardiovascular, em pacientes com COVID-19? Que informações relevantes é que ele pode dar?
O objetivo final do teste é melhorar a recuperação dos pacientes, e, mais especificamente, diminuir o risco de desenvolver problemas cardiovasculares graves e fornecerá informação sobre a suscetibilidade dos pacientes de desenvolverem esses problemas após a infeção.
Os efeitos secundários e as sequelas das infeções são ainda um campo com muito por revelar e apurar. O que é que já se sabe sobre os efeitos secundários cardiovasculares da COVID-19?
Estima-se que cerca de 20% dos doentes infetados desenvolverão problemas cardiovasculares inesperados. Pouco se sabe sobre os mecanismos responsáveis por estes efeitos secundários.
Do que se sabe, é possível que pessoas saudáveis desenvolvam problemas cardíacos depois de terem sido infetadas?
Sim, essa é a questão principal, a de que pessoas saudáveis, sem predisposições óbvias para problemas cardíacos, desenvolverão, de facto, um problema cardiovascular grave após a infeção pelo vírus.
De acordo com as informações disponíveis no site do LIH, a equipa do COVIRNA realizará um grande estudo retrospetivo de vários coortes (grupos) de doentes covid-19, em toda a Europa. O que será feito exatamente neste estudo?
Iremos medir retrospetivamente RNAs longos não codificantes em 1500 pacientes COVID-19 e em 500 indivíduos não infetados, para identificar aqueles [RNAs não codificantes] com capacidade para prever a reação do paciente. Será construída e explorada uma grande base de dados de RNAs longos não codificantes com parâmetros demográficos e clínicos dos participantes no estudo. O objetivo é identificar a maioria dos modelos preditivos que serão utilizados para prever a reação do paciente, utilizando métodos de inteligência artificial. A associação funcional entre RNAs longos não codificantes e a reação dos pacientes será investigada utilizando abordagens in vitro, o que poderá eventualmente levar à descoberta de novos alvos terapêuticos.
Quanto tempo demorará o trabalho deste consórcio e quando espera publicar os primeiros resultados?
A duração do projeto é de dois anos, após os quais os resultados serão publicados e colocados à disposição da comunidade biomédica.
Estão previstos ensaios clínicos em doentes com COVID-19, nos diferentes países que participam no projeto COVIRNA?
Uma vez que este projeto é retrospetivo, não estão planeados ensaios clínicos no âmbito deste projeto, mas poderão vir a ser o objetivo de projetos internacionais de seguimento.
É possível virem a ocorrer no Luxemburgo?
É uma possibilidade que um ensaio clínico de seguimento possa vir a ser realizado no Luxemburgo, uma vez que dispomos de todas as infraestruturas necessárias para realizar tal ensaio. Os pormenores desses ensaios terão de ser determinados no seu devido tempo.
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