Comissão Europeia faz ameaças a AstraZeneca por não cumprir contrato
Comissão Europeia faz ameaças a AstraZeneca por não cumprir contrato
A vacina da AstraZeneca está nos últimos dias do processo de avaliação e deverá ter autorização da Agência Europeia do Medicamento (EMA) até ao fim da semana, mas a Comissão Europeia avisou o fabricante que entregar menos doses do que o contratado “é inaceitável”.
Numa declaração hoje ao fim da tarde, a comissária europeia da Saúde, Dtella Kyriakides, avisou que há problemas do lado do fornecimento. “Na sexta-feira passada, a companhia AstraZeneca surpreendentemente informou a Comissão e os Estados-membros que pretende nas próximas semanas entregar um número de doses consideravelmente inferior ao acordado e anunciado”.
“Este novo calendário não é aceitável para a União Europeia”, avisou Kyriakides. Ontem, domingo, a comissária escreveu uma carta aos responsáveis da companhia britânica, onde, disse, colocou “questões sérias e importantes”.
Tal como fez com as outras farmacêuticas com as quais celebrou contratos, a Comissão Europeia pré-financiou o desenvolvimento e a produção da vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca (ainda antes de saber se a investigação conduziria a resultados) e, agora, “quer ver os retornos”. Ao todo, a EU investiu 27 mil milhões de euros neste esquema de investimento e financiamento prévio de vacinas com sete farmacêuticas.
A União Europeia exige “saber exatamente quantas doses foram produzidas pela AstraZeneca e exatamente para onde e para quem foram entregues”, disse Kiryakides.
Houve uma reunião entre a administração da farmacêutica e o comité responsável pelos contratos que inclui representantes dos 27 países da EU, mas “as respostas da companhia não foram satisfatórias”, segundo a declaração de Kyriakides.
Hoje durante a noite haverá uma segunda reunião. “A União Europeia quer que as doses encomendadas e pré-financiadas sejam entregues o mais depressa possível. E queremos que o nosso contrato seja cumprido na íntegra”.
A fuga das vacinas. Objetivo de 70% até ao verão em risco
A falta de doses de vacinas tem sido a maior dor de cabeça dos chefes de governo da UE e isso foi um dos pontos de discussão da reunião da passada quinta-feira convocada para discutir a escalada de casos na Europa e a lentidão das campanhas de vacinação nos vários países.
Na reunião do passado dia 21, foi pedido que a Comissão Europeia encostasse as farmacêuticas à parede, nomeadamente a Pfizer/BioNTech e a Moderna por atrasos na entrega das doses prometidas.
Os líderes europeus estabeleceram o objetivo de atingir a vacinação de 70% da população adulta até ao verão, o que permitiria alcançar a imunidade de grupo para os cerca de 450 milhões de europeus antes das férias.
O processo de lenta entrega de vacinas está, porém, a pôr entraves a este objetivo, numa altura em que as autoridades sanitárias receiam perder a corrida contra variantes mais contagiosas do SARS-CoV-2 (inglesa, sul-africana e brasileira).
Os eurodeputados do comité de Saúde Pública têm sido muito críticos do processo de contratação acusando a falta de transparência e têm pedido para ver os documentos assinados entre a Comissão e as farmacêuticas. Até ao momento, o comité ENVI apenas conseguiu ter acesso a partes do contrato da CureVac.
O receio do desvio de vacinas para outras latitudes fez Stella Kyriakides avisar hoje: “Queremos clareza nas nossas transações e completa transparência no que diz respeito à exportação de vacinas”. A AstraZeneca alegou que está a ter problemas com a linha de produção na Bélgica.
“No futuro, todas as empresas que produzam vacinas contra a covid-19 na EU terão que fazer uma notificação prévia quando exportarem doses para países terceiros”. A exceção a esta notificação prévia são as entregas humanitárias.
Numa posição dura – e suportada pelas crescentes críticas das várias capitais à aparente fuga das vacinas – a Comissão Europeia ameaça que “serão tomadas todas as ações necessárias para proteger os cidadãos europeus e os seus direitos”.
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