Cientistas conseguem recriar energia das estrelas
Cientistas conseguem recriar energia das estrelas
Replicar a energia das estrelas para a transformar em eletricidade tornou-se hoje um pouco mais próximo de se tornar realidade. Os cientistas conseguiram um novo recorde de energia libertada através da fusão nuclear no Joint European Torus (JET), um laboratório experimental em Oxfordshire. A experiência anunciada esta quarta-feira gerou 59 megajoules de calor – o equivalente a uma explosão de 14kg de TNT – durante uma fusão de cinco segundos, mais do que duplicando o anterior recorde de 21.7 megajoules estabelecido em 1997, no mesmo laboratório. Ou seja, há 25 anos.
Segundo o jornal inglês The Guardian, um dos muitos que estão a dar destaque à notícia, o feito anunciado esta quarta-feira foi antecedido de mais de duas décadas de testes e adaptações no Centro Culham para a Energia de Fusão. E está a ser considerado como um grande marco "para a fusão se tornar uma fonte viável e sustentável de energia sem emissões de carbono".
"Estes resultados extraordinários levam-nos a um enorme passo, que nos aproxima muito de conquistar o maior desafio científico e de engenharia de todos", salientou Ian Chapman, o diretor executivo da Autoridade de Energia Atómica do Reino Unido. A fusão atómica (diferente da tecnologia atual de fissão nuclear), disse, "oferece um imenso potencial para solucionar a questão das alterações climáticas".
Comissão Europeia propôs etiqueta verde para o nuclear
De momento, as questões à volta da energia são centrais em todo o mundo, pela necessidade de resolver a crise climática e por questões geopolíticas. E são um dos tópicos mais quentes na União Europeia, com os eventuais cortes de abastecimento do gás natural da Rússia – caso Putin invada a Ucrânia e os países da NATO retaliem.
Mais ainda, a Comissão Europeia acaba de apresentar um muito polémico sistema de classificação em que inclui o nuclear como uma energia de transição para os objetivos de descarbonização.
As associações ecologistas acusaram a UE de enterrar o Acordo de Paris e o Luxemburgo ameaçou processar a Comissão por causa do greewashing energético. A proposta da Comissão Europeia, que será discutida nos próximos quatro meses, entre o Parlamento Europeu e os países, baseia-se no pressuposto de que tanto o nuclear como o gás são um mal menor para chegar a zero de emissões em 2050.
São energias de transição, para preencher as falhas que as energias renováveis não vão conseguir preencher, admitiu a comissária europeia pelos Sistemas Financeiros, Mairead McGuinness. A comissária referiu também que a energia atómica, baseada na fissão dos átomos de urânio, com os seus problemas de segurança, tem que evoluir para novas tecnologias mais seguras em termos de radioatividade e de depósitos geológicos profundos do lixo atómico.
Dez vezes mais quente que o interior do Sol
A fusão nuclear é vista como uma tecnologia do futuro, sem os mesmos problemas criados pelos reatores de fissão atómica ainda a operar. A fusão nuclear alcançada agora no JET, em Inglaterra, deu-se através de plasmas, que são aquecidos a 150 mil graus Celsius, dez vezes mais quente que o centro do Sol. A estas temperaturas extremas, os núcleos dos átomos fundem-se formando novos elementos e criando enormes quantidades de energia.
Segundo o The Guardian, a experiência anunciada esta quarta-feira com enorme regozijo dos cientistas tentava provar se a fusão seria possível com um combustível de dois isótopos de hidrogénio: deuterium e tritium. A experiência provou que é possível e é uma luz verde e informação crucial para o reator de fusão nuclear ITER -um projeto de vários países da União Europeia, e sustentado por fundos europeus que está a ser construído no sul de França. O ITER poderá começar a operar em 2035.
Com um milhão de componentes e dez milhões de partes, o Tokamak do ITER é anunciado como o mais potente reator de fusão do mundo. Foi desenhado para produzir 500 MW de energia por cada 50 MW de calor introduzido (um ratio de amplificação de 10). Anuncia o próprio site do ITER que este reator europeu "fará parte na história como o primeiro reator de fusão a criar energia".
Cinco segundos de uma experiência pode não parecer muito, mas para os cientistas é uma prova de que a fusão nuclear pode ser uma das energias do futuro para resolver por um lado, o crescente apetite por eletricidade a nível mundial, e a necessidade de parar completamente as emissões de dióxido de carbono produzidas pelos combustíveis fósseis.
Ian Fells, professor catedrático de energia na Universidade de Newcastle resumiu ao jornal inglês que esta "libertação de energia recorde" é um marco científico: "Agora cabe aos engenheiros traduzir isto em eletricidade sem carbono e mitigar o problema das alterações climáticas".
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