Carta ao jovem de 30 anos
Carta ao jovem de 30 anos
"Não me sinto com 50 anos." Sabes aquelas conversas que ouves às pessoas mais velhas, quando dizem que têm 60 mas num corpo de 30? É tudo verdade. Sentem mesmo isso e tu vais sentir também. Vais continuar mesmo a pensar da forma como sempre pensaste e continuar mesmo a ser a pessoa que sempre foste, mas agora num corpo mais envelhecido, com mais rugas, mais barriga, um rabo maior e menos cabelo.
Não bate a bota com a perdigota, eu sei: de um lado as marcas do tempo, do outro a tua cabeça fresca, mais ágil do que o resto do corpo. É como se os anos tivessem continuado a passar e a contar (e continuaram) mas tu não foste dando por eles. Sim, é tudo verdade. E também vais dizer isso: “não parece nada que tenho quase 50 anos”.
“Fazem estes rótulos com letras cada vez mais pequenas.” Deve ser aí pelos 40 anos, mais ou menos. Nos primeiros tempos vais esticar o braço para afastar o iogurte que tens na mão enquanto tentas ler o rótulo. Depois vais queixar-te que fazem as ementas dos restaurantes num corpo de letra reduzido. E um dia decidirás – até porque verás outros a fazer o mesmo – que está na altura de marcar a consulta no oftalmologista. Quanto mais cedo o fizeres, mais depressa te habituas aos óculos e passas a ser “o que vê melhor” no teu grupo de amigos.
“Hoje quando acordei só tinha uma dor.” As dores de costas não passam. Só aliviam. Ou pioram. Tudo o que dizem sobre o exercício é verdade. T-u-d-o! Previne lesões, proporciona bem estar, evita males maiores mais tarde. Eu sei que a falta de tempo, de dinheiro ou de pachorra são razões poderosas para te mexeres menos, mas o que não gastares agora vais gastar mais tarde em fisioterapia, consultas e farmácia. E acompanhado de dor. O teu corpo vai fraquejar e quanto mais preparado estiveres para isso, menos sofrimento terás a partir dos 40 e tal.
“Já tomei este hoje?” As drogas existem para nos fazer sentir bem. Ou para que não nos sintamos tão mal. De algumas vais precisar desde sempre, para corrigir ou compensar males crónicos, de outras precisarás por causa do colesterol, da tensão, das dores, da depressão, da ansiedade, da diabetes, do estômago ou para dormir. Talvez compres uma daquelas caixas com os dias da semana, para despejares lá para dentro as cápsulas e drageias diárias que terás de ingerir. Não lamentes isto, agradece: quando não havia tantos fármacos morria-se mais e sofria-se imenso.
“O meu fígado aguenta.” Come menos porcarias. Bebe menos porcarias. Ou come o que te apetecer mas compensa com muitos brócolos. Já pareço a tua mãe a falar e a recomendar-te que comas antes uma peça de fruta, mas isto é mesmo verdade: todos os chouriços e morcelas, toda a “comida” processada que basta tirar da embalagem e colocar no micro-ondas, todos os shots de bebidas destiladas e tudo o mais que colocares dentro do corpo em excesso vai acumular. E aos 20 ou 30 isso não se nota, mas aos 40 vai dar sinal e aos 50 vai-te fazer repensar e aos 60 talvez te deixe arrependido. E é um instante até lá chegares.
“Logo durmo quando morrer.” Pela tua rica saúde, dorme. Não penses que podes descansar quando fores velho e que tens cabedal para aguentar. Dorme e dá descanso à tua cabeça agora. Para poupares uma data de chatices mais tarde, para conseguires emagrecer mais facilmente, para processares de forma mais eficaz, para lidares melhor com os problemas e com a vida. Tu dorme, jovem.
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