Acusações de racismo contra família real britânica motivam pedido de investigação
Acusações de racismo contra família real britânica motivam pedido de investigação
A denúncia de Meghan Markle, confirmada pelo príncipe Harry, teve eco na política britânica. A transmissão da entrevista do casal dissidente à apresentadora norte-americana Oprah Winfrey, no domingo, está a dar que falar.
Já se compara com aquela distante crise institucional causada por Diana de Gales quando decidiu, em 1995, aparecer em frente das câmaras. Num tempo em que a consigna "Black Lives Matter" [Vidas Negras Importam] está bem viva e quando estátuas de personalidades históricas com um passado colonial estão a ser demolidas, o racismo assume maior gravidade no plano institucional.
Meghan Markle, que é filha de uma mulher afroamericana, denunciou as 'preocupações' da família real, durante a sua gravidez, com a possibilidade de o filho dos príncipes vir a ser negro.
O Palácio de Buckingham decidiu, contudo, permanecer em silêncio. No mundo analógico em que ainda habitam, a entrevista nem sequer existia porque no domingo só tinha sido transmitida para a audiência norte-americana do outro lado do Atlântico e os britânicos não teriam a oportunidade de a ver na íntegra até segunda-feira à noite. Não importava que os media digitais britânicos a tivessem transmitido minuto a minuto e que as redes sociais estivessem em polvorosa.
O primeiro veredito mediático veio de um jornal tão que é já uma instituição britânica. O The Times afirmou que "as revelações são piores do que o Palácio poderia ter temido". Nos Estados Unidos, a entrevista teve uma audiência maior do que qualquer outro evento televisivo.
Em duas horas de programa, os duques queimaram todas as pontes com a família real britânica. Sem darem nomes ou apelidos às suas acusações, asseguraram que um membro do Palácio de Buckingham- não foi a Rainha nem o seu marido, o Príncipe Philip, segundo Harry - terá sido o responsável pela polémica 'preocupação'. O racismo terá sido a razão principal da decisão que levou a que o pequeno Archie não receba o título de príncipe no futuro ou que tenha medidas de segurança que acompanham essa condição.
A atriz americana denunciou a falta de atenção - quase desprezo - que recebeu quando, grávida de cinco meses, procurou ajuda médica para refrear os instintos suicidas que causaram o seu isolamento forçado no Palácio Kensington. "Eu tinha perdido a vontade de viver", admitiu na entrevista. "A única coisa que lamento é ter acreditado neles quando me garantiram que me iriam proteger", lamentou Markle. Ela é a protagonista da entrevista, mas o neto de Elizabeth II corrobora na sua escassa participação todas as alegadas queixas. Especialmente a que se refere ao racismo.
Para o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, "as questões levantadas por Meghan em torno do racismo e da saúde mental são muito sérias. São um sinal de que muitas pessoas sofrem agressões racistas no Reino Unido no século XXI, e nós temos de levar isto muito, muito a sério". "É algo que vai além do reino da família real", acrescentou o político de esquerda.
O primeiro-ministro, Boris Johnson, foi o único que abrandou o seu ritmo e instruiu a sua equipa para encaminhar quaisquer questões sobre o assunto para Buckingham. "Há muito tempo que não comento os assuntos da família real e não tenho qualquer intenção de me desviar dessa abordagem, disse Johnson aos repórteres.
Toda a controvérsia não deve beliscar a popularidade e respeito entre a maioria do povo britânico pela rainha de Inglaterra. Tanto o príncipe Harry como Meghan Markle fizeram questão de elogiar a monarca e absolvê-la de qualquer culpa.
"Não querer uma república porque se gosta da rainha é como não querer mais eleições porque se gosta de Boris Johnson". Não se pode parar a música porque se gosta da pessoa no jogo da cadeira", escreveu a associação Republic, ainda marginal no Reino Unido, mas que esta segunda-feira conseguiu dominar as redes sociais com o hashtag #abolishthemonarchy [abolir a monarquia].
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