Vencer a pandemia e perder as eleições
Vencer a pandemia e perder as eleições
Winston Churchill, pouco antes de ser severamente derrotado nas eleições de 1945, disse no Parlamento que as perdas do Governo são os ganhos da oposição. Ele pressentia que o eleitorado lhe ia pregar uma partida, mesmo depois de ter ganho a Segunda Guerra.
Talvez António Costa deva reflectir sobre este episódio da História contemporânea. A vitória na Segunda Grande Guerra não foi suficiente para impedir os Conservadores de Churchill de perderem 190 lugares no Parlamento e averbarem uma estrondosa derrota.
Quem sabe se a vitória do PS numa guerra exaustiva contra uma pandemia não será suficiente para impedir uma futura derrota numas próximas eleições legislativas.
Pedro Passos Coelho é o homem mais desejado para liderar o PSD e ajudar a ressuscitar o CDS que está sem sinais vitais.
No PSD, já são visíveis os movimentos de personalidades que pretendem desalojar António Costa, da cadeira do poder. Há uma semana falei aqui no assunto, mas nos últimos dias muitas mais coisas se passaram.
Pedro Passos Coelho é o homem mais desejado para liderar o PSD e ajudar a ressuscitar o CDS que está sem sinais vitais. Com alguma ambiguidade, ele vai apontando prazos, para um hipotético regresso à actividade política. Os seus mais próximos falam até em compromissos familiares que o obrigam a ficar afastado, até 2026.
Não será coincidência inocente o facto de, para aquele ano, estarem marcadas eleições presidenciais e eleições legislativas, se o Governo conseguir atravessar toda a legislatura, claro. Pedro Passos Coelho tem assim duas pistas para correr - ou a Presidência da República, ou a chefia do Governo.
Estas ambiguidades não atrapalham apenas António Costa e o PS, mas também Luís Montenegro e até Carlos Moedas que até hoje não descartou a possibilidade de se candidatar à liderança social-democrata.
Tudo isto ajuda a alimentar a crise, no interior do Governo. Outros factores de instabilidade são de ordem socio-laboral e vêm dos médicos, dos professores, dos ferroviários, dos agricultores, do pessoal da TAP e de outros sectores, com greves marcadas.
Acrescentam-se ainda as asneiras de alguns ministros, como João Gomes Cravinho que provocou um incidente diplomático com o Brasil, ao que parece, já resolvido. Talvez ele tenha tido outras cumplicidades nesta trapalhada. O que, a confirmar-se, vieram do interior do Governo, ou, com menos probabilidade, de Belém. A questão que se levanta é esta: quem mandou o ministro dos Negócios Estrangeiros convidar Lula da Silva, para discursar, no parlamento, na sessão solene comemorativa do 25 de Abril?
António Costa deve pensar no exemplo de Churchill. A vitória contra a pandemia não garante a vitória nas próximas legislativas.
(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)
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