Ministério Público acusa assassino de Bruno Candé de crime de ódio racial
Ministério Público acusa assassino de Bruno Candé de crime de ódio racial
O assassino de Bruno Candé foi acusado pelo Ministério Público português de homicídio por ódio racial.
O ator foi morto, com 39 anos, a 25 de julho do ano passado, um sábado, em pleno dia, na principal e mais movimentada rua de Moscavide, na zona de Lisboa.
Segundo o despacho do MP, de que o jornal Público dá notícia, Evaristo Marinho, de 76 anos, é acusado do crime de homicídio qualificado de Bruno Candé, por ódio racial.
A acusação lembra as expressões racistas usadas pelo ex-combatente na Guerra Colonial, antes e no dia do homicídio. O homicida desferiu vários tiros à queima-roupa contra o ator.
O Diário de Notícias adianta, citando o mesmo documento, que o motivo inicial para os insultos foi o facto de a cadela de Candé ter ladrado a Evaristo Marinho quando este passou. Depois de uma primeira reação contra o animal, o idoso começou a ofender o ator com frases como, "vai para a tua terra preto! Tens a família toda na senzala e devias também lá estar!", e ameaças de morte.
Nessa discussão, ocorrida dias antes do homicídio, a vítima reagiu às ofensas e empurrou Evaristo Marinho, afirmando: "Só não lhe bato porque é velho".
Os dois homens acabaram por ser afastados um do outro com a intervenção de uma terceira pessoa, mas, refere o mesmo jornal. Quando Bruno Candé entrou num carro que parou para o apanhar, Evaristo terá feito a ameaça que viria a concretizar no sábado seguinte: "Tenho lá armas em casa do Ultramar e vou-te matar!".
Testemunhas ouvida pela reportagem que o Contacto realizou na altura também confirmaram essas afirmações, adiantando que o idoso continuou a agredir Bruno Candé com a bengala no dia em que discutiram e já depois de terem sido separados e que proferiu insultos racistas e machistas à mãe do ator.
Inicialmente, a PSP afirmou que os depoimentos que recolheu não apontavam para crime de ódio racial, mas remeteu novos esclarecimentos para a investigação da Polícia Judiciária, encarregada dos crimes de homicídio.
A acusação do MP baseou-se na investigação da PJ e no relato de 13 testemunhas ouvidas por esta polícia, refere o DN. O homicida foi também acusado de posse de arma ilegal.
A SOS Racismo, que sempre referiu que o "caráter premeditado não deixa margem para dúvidas de que se trata de um crime com motivações de ódio racial", reagiu esta terça-feira à confirmação dessas motivações por parte da acusação do Ministério Público e criticou o líder do Chega por, na altura, ter convocado uma manifestação para provar que não havia racismo em Portugal.
"Foi a propósito do homicídio de Bruno Candé que Ventura convocou uma manifestação em Lisboa, para, segundo o próprio, demonstrar que não existe racismo em Portugal. Uma vez mais, Ventura mostra-se exatamente como é e ao que vem: um verdadeiro racista, um completo aldrabão", criticou a associação, na sua página do Facebook.
O homicida Evaristo Martinho continua em prisão preventiva e aí deverá permanecer até ao julgamento.
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