Época de caça
Época de caça
Com Jerónimo de Sousa em convalescença, João Oliveira (líder parlamentar) sem mais capacidade de desdobramento e João Ferreira, candidato comunista a tudo e mais alguma coisa, que esta terça se soube estar infectado com covid-19, obrigou o PCP a fazer nesta campanha algo de impensável nos 100 anos da sua história: a demonstrar a sua hierarquia interna. Bernardino Soares, bastante discreto desde a copiosa debacle nas autárquicas em Loures, lá teve de sair dos confins da sua terapia ocupacional para participar de corpo presente na campanha.
O regresso ao terreno não foi auspicioso. O número 4 do partido, pelos vistos, terceiro na sucessão, fez uma visita a um restaurante para auscultar como tem passado por esta crise o sector da restauração. A escolha do restaurante não deixa de ser curiosa: O Cotrim, no concelho de Loures, outrora terra santa, que Bernardino Soares conhece bem, aconselhando a quem ali se desloque que prove uma sopa da pedra, que é mais ou menos como o caminho que o espera.
Não faz muito tempo, Rui Rio descreveu o PAN (Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza) como um partido fundamentalista. Com a crise política decorrente do chumbo do Orçamento de Estado e a consequente marcação de eleições antecipadas, foi como se a água de mil rios tivesse passado debaixo da ponte. O PAN entrou nesta campanha como uma espécie de julgado de paz entre António Costa e Rui Rio, ambos em clima de charme com Inês Sousa Real, que agradece a deferência, como quem gere um jackpot.
No debate com António Costa, a porta-voz do PAN mandou recados a Rui Rio, no debate com Rui Rio mandou recados a António Costa, e no debate com Cotrim de Figueiredo que, tanto quanto se sabe não é proprietário de um restaurante para os lados de São João da Talha, mandou recados a ambos. Os animais começam a ficar em pulgas.
Para deixar bem vincado que está preparada para terrenos pantanosos, Inês Sousa Real apresentou-se junto à Base Aérea nº 6, no Montijo, carregada de simbolismo, com umas galochas vermelhas, até aos joelhos. A líder do PAN aventurou-se mesmo nas águas da praia fluvial do Samouco, alertando para o facto de, dentro de três décadas, toda aquela área se encontrar inundada.
"O projecto do novo aeroporto vai meter muita água e nela se vão afundar muitos dinheiros públicos". Ao que parece, houve quem não resistisse a perguntar-lhe se estava a preparar-se para atravessar algum rio. Inês riu.
(Autor escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico.)
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