A TAP e a Igreja
A TAP e a Igreja
O Governo cumpriu o seu dever, ao despedir a CEO da TAP, alegando justa causa. Mas só o fez, pressionado pela opinião pública.
Com esta decisão, o executivo tentou resolver o assunto de uma vez e esvaziar politicamente a Comissão Parlamentar de Inquérito. Tanto mais que a Inspecção-Geral de Finanças resolveu a outra parte da questão e instou Alexandra Reis a devolver quase meio milhão de euros que tinha recebido da companhia, a título de indemnização.
Gafe involuntária ou não, Fernando Medina, depois de anunciar o despedimento de Christine Ourmière-Widemer por justa causa, elogiou a sua prestação. Quer dizer que, em tribunal, a senhora vai usar esta insensata declaração de Medina.
Mas muita água ainda vai correr debaixo das pontes, para desespero de António Costa. O relatório da Inspecção-Geral de Finanças é arrasador para o Governo e denuncia a forma irresponsável e danosa como alguns ministros trataram deste caso.
Ficámos a saber que o Governo, afinal, sabia do pagamento da indemnização à gestora e que o ex-ministro Pedro Nuno Santos o autorizou, através de uma prosaica mensagem de telemóvel. Nem se preocupou em saber se a decisão não estava ferida de ilegalidade.
E afinal era tão ilegal que a IGF considerou nulo e sem qualquer efeito o acordo entre a administração da TAP e a sua gestora Alexandra Reis, para que a senhora abandonasse a companhia, silenciada por uma faraónica indemnização de meio milhão de euros.
Pedro Nuno Santos, com a cumplicidade do seu então secretário de Estado tratou do assunto de forma dissoluta, como se o dinheiro público fosse para ele gastar como muito bem entendesse.
Depois disto, demitiu-se e, com a coragem dos fracos, desapareceu, sem deixar rasto. Mudemos de assunto, por que a TAP vai regressar em breve.
A Igreja portuguesa - com algumas felizes excepções - decidiu desvalorizar as conclusões de um ano de trabalho de uma comissão por si escolhida, para ouvir e validar os testemunhos de pessoas que, na infância, foram sexualmente abusadas, por dignitários da sacra instituição.
O Bispo de Beja, que já se tinha recusado a colaborar com a Comissão Independente, provou agora as razões da sua renúncia. Numa declaração cheia de ambiguidades, disse que o assunto se pode resolver com o perdão, não havendo por isso necessidade de suspender o padres acusados de pedofilia.
Em Lisboa, o Patriarcado, sem considerar a piedosa proposta de Beja, também deixou os denunciados sossegados.
Entendimento diferente tiveram os titulares das Dioceses de Évora, Angra do Heroísmo, Faro e Braga que suspenderam os padres acusados de abusos, como medida cautelar.
Mas isto não evitou o escândalo e indirectamente denunciou aqueles que, ao longo de muitos anos, encobriram a tragédia.
(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)
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