2023, um ano de grandes lutas para as mulheres
2023, um ano de grandes lutas para as mulheres
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas (ONU), foi muito claro no alerta que deu esta semana: a igualdade de género está "cada vez mais distante".
"No Afeganistão, mulheres e meninas foram apagadas da vida pública. Em muitos lugares, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão a ser revertidos. Em alguns países, as meninas que vão à escola correm o risco de serem sequestradas e agredidas. Em outros, a polícia ataca mulheres vulneráveis que juraram proteger", enumerou Guterres, antes de avisar que "o patriarcado está a dar luta. Mas nós também. Estou aqui para dizer alto e claro: as Nações Unidas estão com as mulheres e meninas em todos os lugares".
Ainda que o aparente apoio das principais instituições recaia sobre as mulheres, a verdade é que são as políticas de cada país que define como estas vão viver. E, este ano, assistiu-se a retrocessos alarmantes tanto em regimes autoritários como nas grandes potências.
Mas também se viu a força da união das mulheres nas ruas e como têm resistido a apagar a sua voz.
Estes são alguns dos momentos mais marcantes da resistência feminina, perante o desrespeito pelos direitos humanos básicos, como a educação ou liberdade de escolha.
A revolta das mulheres no Irão
No Irão, deu-se a expressão mais potente do ano da luta feminina. Em meados de setembro, as ruas de várias cidades do Irão encheram-se de manifestantes, na maioria mulheres, que protestavam contra a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos. Masha, natural do Curdistão, foi detida por alegadamente usar a hijab (véu islâmico) de uma forma "imprópria". Segundo o código de vestuário das mulheres na República Islâmica do Irão, estas não podem mostrar os cabelos em público, usar saias curtas, calças justas, jeans, cores vivas, etc...Terá sido espancada e torturada.
Várias mulheres cortaram os seus cabelos em protestos contra a repressão e as suas vozes espalharam-se pelo mundo. Os homens juntaram-se ao protesto que tomam proporções inesperadas e a polícia subiu a escala de violência, prendendo e executando alegados participantes das manifestações.
Na sequência, o Irão foi expulso, com 29 votos favoráveis, da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, um órgão das Nações Unidas (ONU), devido às políticas contrárias aos direitos de mulheres e meninas e à repressão imposta a manifestantes.
Em dezembro, as mulheres do Irão receberam menção especial de "heroínas do ano" pela revista Time, que aplaude o seu movimento de "luta pela liberdade", que dura há cinco anos e é liderado pela geração Z.
Desde novembro, milhares de meninas têm sido envenenadas em centenas de escolas do Irão. O Governo já prendeu supostos autores dos crimes, no que se suspeita ser uma "vingança" dos protestos das mulheres e uma tentativa de apagar as mulheres da educação.
Direito ao aborto nos Estados Unidos
O Supremo Tribunal dos Estado Unidos, dominado por conservadores, emitiu, em junho de 2022, uma decisão histórica que anulou a decisão "Roe versus Wade", que garantia o direito das mulheres ao aborto durante meio século.
Cabe agora a cada estado definir a própria lei em relação à Interrupção Voluntária da Gravidez. Enquanto alguns estados definiram leis impossíveis de cumprir como o aborto possível até às seis semanas, outros declaram o procedimento ilegal. Milhares de mulheres têm agora de se deslocar para os estados que ainda permitem o procedimento em segurança. Muitas não têm condições para o fazer.
O cerco à liberdade das mulheres no Afeganistão
Como diz Guterres, o regime Talibã, no poder no Afeganistão desde 2021, baniu mesmo as mulheres da vida pública. Aliás, Organização das Nações Unidas (ONU) considerou esta quarta-feira que o Afeganistão se tornou, desde a tomada do poder pelos talibã, o país mais repressivo do mundo para as mulheres e meninas, privadas de muitos direitos básicos.
A admissão de mulheres nas universidades públicas e privadas de todo o país está proibida. No geral, o regime exclusão estudantes do sexo feminino do ensino, num quadro mais vasto de medidas discriminatórias contra as mulheres, que as afastam dos empregos e acabam por impor o respetivo dia a dia.
Não podem praticar desporto, frequentar parques públicos, trabalhar em ONG's, viajar sem consentimento do pai ou marido, são obrigadas a vestir burka na rua, para citar algumas das leis impostas desde 2021.
A Amnistia Internacional do Luxemburgo denunciou também o aumento exponencial de casamentos forçados no AfeganistãoAs razões para este aumento são diversas. Se por um lado, as famílias afegãs veem nestes casamentos uma forma de assegurar o futuro das suas filhas, por outro, esperam evitar com estas uniões que as mulheres sejam obrigadas a casar com um talibã, organizando-lhes casamentos o mais depressa possível.
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