Três meses de guerra. Qual o ponto de situação na Ucrânia?
Três meses de guerra. Qual o ponto de situação na Ucrânia?
Após terem afastado as forças russas das duas maiores cidades do país, a capital Kiev e Kharkiv em maio, os ucranianos têm vindo a reconhecer nos últimos dias as "dificuldades" no Donbass, formado pelas autoproclamadas repúblicas de Lugansk e Donetsk.
"As próximas semanas de guerra serão difíceis", advertiu o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no seu discurso diário na televisão, na segunda-feira à noite.
"Os ocupantes russos estão a tentar mostrar que não irão abandonar as áreas ocupadas da região de Kharkiv (nordeste), que não irão entregar a região de Kherson (sul), os territórios ocupados da região de Zaporíjia (sudeste) e o Donbass (leste). Estão a avançar em alguns sítios e a reforçar as suas posições noutros", continuou.
A situação é mesmo "extremamente difícil" no Donbass: os russos estão a tentar "eliminar tudo o que está vivo", acusou Zelensky.
Moscovo está a concentrar o seu poder de fogo precisamente no reduto ucraniano na região de Lugansk, tentando cercar as cidades de Severodonetsk e Lyssychansk. O Ministério da Defesa ucraniano também relatou fortes combates nas proximidades, perto das cidades de Popasna e Bakhmut, o que salienta a existência de uma estratégia de cerco.
Cidade no Donetsk torna evacuações obrigatórias
A queda de Bakhmut, em Donetsk, daria aos russos o controlo de um cruzamento crucial que atualmente serve de centro de comando improvisado para grande parte do esforço de guerra ucraniano.
Em todo o caso, os residentes estão relutantes em fugir, apesar dos riscos: "As pessoas não querem partir", lamenta o vice-presidente da câmara de Bakhmut, Maxim Soutkovyi, diante de um autocarro meio vazio pronto para levar os civis para um território mais seguro.
"Chegámos a um ponto em que estamos a tornar as evacuações obrigatórias", diz o chefe da administração militar de Bakhmut, Sergei Kalian.
Contudo, "o inimigo melhorou a sua posição tática no território de Vasylivka", escreveu o estado-maior do exército ucraniano no Facebook na manhã desta terça-feira, que assegura que "a maior atividade hostil" é observada "perto de Lyssychansk e Severodonetsk".
Segundo Kalian, os russos pretendem "cercar as cidades de Lyssychansk e Severodonetsk, com posterior acesso à fronteira administrativa da região de Lugansk" para completar a sua tomada de controlo.
Severodonetsk está a ser bombardeada "24 horas por dia" pelos russos, que "usam táticas de terra queimada e estão deliberadamente a destruir a cidade", avisou no domingo o governador ucraniano de Lugansk, Sergei Gaidai.
O destino de Severodonetsk faz lembrar Mariupol, a grande cidade portuária do sudeste que foi quase completamente destruída após várias semanas de cerco.
Uma franja meridional desta bacia carbonífera é constituída desde 2014 por duas repúblicas separatistas pró-russas, e foi para as defender de um alegado "genocídio" que o presidente russo Vladimir Putin anunciou uma "operação militar especial" a 24 de fevereiro, poucos dias após o reconhecimento da independência destas autoproclamadas repúblicas, que estão dentro de fronteiras que cobrem toda a região de Donbass.
Vinte países vão enviar mais armas a Kiev
A frente sul parece estável, embora os ucranianos estejam a reclamar ganhos. O comando sul informou na segunda-feira à noite que as suas divisões estavam a "avançar" "através da região de Mykolaiv em direção à região de Kherson", onde o rublo russo foi introduzido, acusando os "ocupantes" russos de matar civis que tentavam fugir de carro, com estradas minadas, bombas e execuções.
Enquanto Moscovo aumenta a pressão no Donbass, Kiev insiste no fornecimento de armas, e está a receber apoio dos países ocidentais a este respeito.
Numa reunião virtual do "Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia", 44 países discutiram na segunda-feira a assistência militar à Ucrânia. Vinte deles comprometeram-se a ceder armas adicionais a Kiev, e outros irão treinar o exército ucraniano, anunciou o secretário de Defesa dos EUA.
Lloyd Austin recusou-se, no entanto, a especificar as armas fornecidas pelos EUA após o Congresso ter aprovado uma ajuda adicional de 40 mil milhões de dólares à Ucrânia.
Mas entre o equipamento ocidental está o sistema de mísseis antinavio Harpoon, prometido pela Dinamarca, que poderia permitir à Ucrânia contrariar o bloqueio da marinha russa ao porto de Odessa, vital para as exportações de trigo do país, que, por sua vez, são vitais para muitos outros países. Os mísseis podem mesmo chegar à Crimeia, que Moscovo ocupa desde 2014.
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, disse que "espera poder apresentar os resultados da utilização" das armas prometidas na segunda-feira, "que deverá mudar a situação no campo de batalha".
Mais de 6,5 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia
Em três meses, milhares de pessoas, tanto civis como soldados, morreram, mas não há números precisos. Só na cidade de Mariupol, contudo, as autoridades ucranianas falam em 20 mil mortos.
Em termos militares, o Ministério da Defesa ucraniano estima as perdas russas em mais de 29.200 homens, 204 aviões e quase 1.300 tanques desde o início da invasão a 24 de fevereiro. O Kremlin, por seu lado, admitiu "perdas significativas".
Fontes ocidentais dizem que cerca de 12 mil soldados russos foram mortos, enquanto que uma fonte militar francesa confirmou à AFP um número estimado de cerca de 15 mil. Estas perdas em três meses são próximas das registadas em nove anos pelo exército soviético no Afeganistão, disse o Ministério da Defesa britânico. A Ucrânia não deu qualquer indicação das suas próprias perdas militares.
A guerra também virou a demografia do país do avesso: mais de oito milhões de ucranianos foram deslocados internamente, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Outros 6,5 milhões fugiram para o estrangeiro, mais de metade dos quais - 3,4 milhões - para a Polónia.
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