Tensão na Cimeira da NATO nos 70 anos da organização
Tensão na Cimeira da NATO nos 70 anos da organização
A Cimeira da NATO que decorre até quarta-feira em Londres e que assinala os 70 anos da Aliança Atlântica não podia ter começado da pior forma quando as tensões entre Estados Unidos e a União Europeia atingem um nível inédito. As duras críticas do presidente francês Emmanuel Macron à NATO, há alguns dias, irritaram Donald Trump, que até há pouco tempo era o que mais questionava a organização. O presidente dos EUA não hesitou esta terça-feira em chamar as declarações de Macron, que atribuiu à NATO "um estado de morte cerebral", de "insultuosas". Trump criticou a França depois da reunião com o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, horas antes do início da cimeira.
Trump, que se deve reunir ainda hoje com Emmanuel Macron, juntou-se em Londres, aos líderes de 30 países, incluindo o primeiro-ministro português, António Costa. Em Londres, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que a organização tem “medidas preparadas” e “recursos” destinados à defesa dos três países bálticos e da Polónia, num evento paralelo ao início da cimeira de líderes. Após um pequeno almoço de trabalho com o Presidente dos EUA Donald Trump, o ex-primeiro-ministro social-democrata norueguês participou hoje num seminário com outros líderes políticos e académicos, para debater algumas das questões mais prementes sobre o futuro e a função da Aliança.
Entre as questões mais difíceis assinalou a advertência do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de que se oporá aos planos da Aliança para o reforço militar dos Estados do Báltico (Estónia, Letónia e Lituânia) e Polónia face a uma possível ameaça por parte da Rússia, caso a NATO não reconheça como uma “organização terrorista” as milícias curdas da Síria.
A tensão entre o país euro-asiático e os aliados relaciona-se com a rejeição por alguns membros da Aliança à ofensiva turca no nordeste da Síria e à compra por Ancara do sistema russo de defesa antiaérea S-400.
A última ofensiva no norte da Síria, desencadeada em 09 de outubro, ocorreu três dias após os Estados Unidos terem ordenado a retirada das tropas norte-americanas da zona fronteiriça com a Turquia, deixando sem apoio logístico e militar as milícias sírias curdas Unidade de Proteção Popular (YPG), seus aliados no combate ao grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico nessa região.
“Temos planos para proteger os países bálticos e outros aliados; e mais que planos, temos recursos humanos”, assegurou o secretário-geral da NATO face à advertência de Erdogan.
Stoltenberg acrescentou ainda que a deslocação de forças militares “constitui a expressão mais forte" do "compromisso de defesa coletiva”, porque “envia uma mensagem muito clara" sobre a "determinação em defender" os aliados.
O chefe da NATO esclareceu ainda “que não é correto” referir, como alguns argumentam, que os Estados Unidos “vão abandonar” a NATO, assegurando pelo contrário que “está a aumentar a sua presença da Europa”.
Jens Stoltenberg também abordou os polémicos comentários do Presidente francês Emmanuel Macron sobre o estado de “morte cerebral” da organização militar aliada a nível estratégico.
O ex-líder social-democrata norueguês recordou que a NATO é uma organização que demonstra diariamente que “é ágil, ativa e apresenta resultados”, e considerou que “não se deve questionar a unidade e a determinação política” [dos aliados] de se manterem unidos e de se defenderem.
Apesar de reconhecer que uma organização com 29 Estados-membros registe “divergências”, sustentou que a NATO demonstrou “uma incrível fortaleza e resiliência e capacidade de resolver diferenças”.
Stoltenberg também se referiu a outro ponto determinante, o crescente poderio da China, um tema que passou a estar incluído na agenda dos líderes da aliança militar ocidental devido aos “desafios” colocados pela potência asiática.
“No passado a China não era um problema para a NATO, mas agora reconhecemos que tem implicações de segurança para todos os aliados”, admitiu.
Referiu-se ainda à questão do orçamento da Aliança e à expectativa de que os aliados aumentem as suas contribuições e cumpram o compromisso de investir 2% do seu produto interno bruto (PIB) na Defesa até 2024.
A NATO compromete-se “a investir mais e gastar melhor”, concluiu o político norueguês.
Com Lusa
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