Tensão entre Itália e França por causa de desembarque de migrantes do Ocean Viking
Tensão entre Itália e França por causa de desembarque de migrantes do Ocean Viking
Nesta quarta-feira, 9, as tensões voltaram a aumentar entre França e a Itália por causa do navio humanitário Ocean Viking, o último de quatro navios humanitários encalhados no Mediterrâneo, que tem 234 migrantes a bordo.
Dos mais de mil migrantes resgatados em alto mar, depois de terem fugido da Líbia, apenas o grupo resgatados pelo Ocean Viking, pertencente à organização SOS Mediterranee, ainda está retidos ao largo da costa de Itália.
Atracados na Sicília desde domingo, os barcos dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) e da ONG Humanidade 1 puderam desembarcar os passageiros. Inicialmente, as autoridades italianas só tinham aceite mulheres, crianças e pessoas doentes, mas com a pressão política crescente, todos puderam abandonar os barcos na terça-feira à noite.
Resta agora o Ocean Viking mas a situação complicou-se. O Ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, disse em entrevista na quarta-feira que " triagem" foi um sinal para forçar a Europa a ajudar mais.
O Ocean Viking, depois de ver negados os 43 pedidos de ajuda, pediu assistência da França na terça-feira. Mas ainda não teve "nenhuma resposta oficial" disse à AFP Sophie Beau, a diretora da ONG. A embarcação "navega atualmente ao longo da costa siciliana, em direção ao norte e à Sardenha", acrescentou.
Diz que disse
Na terça-feira à noite, o gabinete da nova primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, dizia estar grato à França, que, segundo eles, tinha concordado em acolher o Ocean Viking.
Na quarta-feira, Tajani afirmava que o próprio Presidente Emmanuel Macron tinha decidido "abrir o porto de Marselha".
No entanto, Paris negou estas alegações, denunciando o "comportamento inaceitável" da Itália, "contrário à lei do mar e ao espírito de solidariedade europeia", de acordo com uma fonte governamental à AFP.
Roma deve "desempenhar o seu papel" e "respeitar os seus compromissos europeus", insistiu o porta-voz do governo francês, Olivier Véran, na rádio Franceinfo na quarta-feira.
"O direito internacional é muito claro", disse também o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin: "Quando um barco pede para atracar com náufragos a bordo, é o porto mais seguro e mais próximo que o deve receber, neste caso a Itália."
Com a chegada a Roma do governo de mais direita desde a Segunda Guerra Mundial, que se comprometeu a tomar uma linha dura com os migrantes, as tensões em relação ao assunto da imigração podem ressurgir.
O ministro dos NE italiano disse que o seu Governo vai levantar a questão da imigração num Conselho de Ministros da União Europeia, na próxima semana. Roma quer "um acordo para estabelecer, com base na população, como os migrantes com direitos de asilo são deslocalizados para diferentes países", afirmou.
A Itália está também a pressionar para acordos da UE com países do Norte de África para impedir a saída de migrantes e para "deter os traficantes, que destroem os motores das suas embarcações".
"Estamos a assistir a um momento de guerra diplomática entre a França e Itália, que abre a porta a outras situações deste tipo, porque a Itália está claramente a pôr em causa o acordo europeu (sobre solidariedade) que estava a seu favor", disse Matthieu Tardis, investigador do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri) à AFP.
Cerca de 88.100 pessoas chegaram à costa italiana desde um de janeiro, dos quais apenas 14% através de embarcações humanitárias, disse o Ministério do Interior italiano.
Desde o início do ano, desapareceram 1.891 migrantes no Mediterrâneo, incluindo 1.337 no Mediterrâneo central, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
(Com agências*)
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