União Europeia e EUA querem transição energética ultrarrápida
União Europeia e EUA querem transição energética ultrarrápida
Num encontro virtual esta quinta-feira entre Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, e o enviado especial dos Estados Unidos, John Kerry e as suas equipas, ambos os responsáveis pelas políticas do clima afirmaram que "as mais recentes consequências da guerra da Rússia contra a Ucrânia só fortaleceram o imperativo de acelerarmos a transição para as energias renováveis. Quando mais depressa os países conseguirem diversificar as suas fontes de energia e aumentarem a eficácia energética, melhor".
Os dois políticos aliados na luta para manter a subida das temperaturas dentro da janela de 1,5ºC de aquecimento (em relação à era pré-industrial) - um objetivo que foi reforçado na COP26 em Glasgow - reuniram-se para avaliar o progresso feito nas promessas na Escócia e preparar o terreno para a próxima COP. A grande reunião sobre alterações climáticas no âmbito da ONU vai decorrer este ano em novembro, em Sharm el–Sheikh, no Egito.
UE paga mil milhões de euros por dia por combustíveis russos
Mas há dois novos desenvolvimentos que tornam ainda mais urgente os alertas vermelhos que foram dados em Glasgow de que está quase fechada a janela de oportunidade para garantir um planeta habitável para os jovens de hoje.
Uma delas é a guerra na Ucrânia, e a luta desesperada da União Europeia para se libertar da dependência dos combustíveis fósseis russos – cujas exportações estão a contribuir para a máquina de guerra da Rússia. O próprio alto responsável pela diplomacia da UE, Josep Borrel, confirmou uma aritmética dolorosa: "Demos à Ucrânia mil milhões de euros – pode parecer muito, mas mil milhões de euros é o que pagamos a Putin todos os dias pela energia que lhe compramos".
Aviso dramático: três anos para diminuir as emissões que não param de subir
O outro desenvolvimento foi o terceiro capítulo do Sexto Relatório sobre o estado do planeta produzido pelo Painel Inter-Governamental Contra as Alterações Climáticas (IPCC), publicado na segunda-feira. Neste terceiro capítulo, conduzido por cientistas do mundo inteiro - e que é considerado a referência em matéria de clima para toda a comunidade científica e política - ficou claro que as emissões de gases com efeito de estufa têm que cair a partir de 2025, e reduzir para metade em 2030. Ou seja, há menos tempo do que se esperava: apenas três anos para inverter a tendência de subida das emissões. "Agora é o momento de ser ambicioso e acelerar para a transição verde", pode ler-se no relatório.
No comunicado, os políticos norte-americanos e da União Europeia salientam que "a crise climática, que coloca um risco existencial, só aumentou e que o tempo para resolver este problema está a esgotar-se". Segundo um relatório da Agência Internacional de Energia, as emissões de gases atingiram o seu nível máximo de sempre em 2021, mesmo com o efeito dos confinamentos da pandemia no mundo inteiro.
A União Europeia está a negociar um pacote legislativo de medidas para reduzir as emissões, o chamado "Fit for 55", que se implementado em todos os países exaustivamente permitirá que as emissões de carbono e outros gases poluentes se reduzam em 55% até 2030. O pacote recentemente apresentado pela Comissão, Repower EU - ainda não aprovado - prevê reduzir a dependência europeia do gás russo em dois terços.
O relatório do IPCC publicado esta-segunda-feira, 4 de abril, sublinha que não há esperança de travar as alterações climáticas sem uma mudança radical para a energia elétrica (não produzida por gás) e usando ainda sistemas de remoção de carbono, cuja eficácia ou capacidade de serem implementados em larga escala ainda não foi provada. "Estamos numa encruzilhada. As decisões que tomarmos hoje podem permitir um futuro habitável", disse Hoesung Lee, presidente do IPCC.
A guerra tem, no entanto, desviado as atenções da necessidade de cortar em todos os combustíveis fósseis, quando tanto a Comissão Europeia, como os aliados americanos procuram novos fornecedores, sobretudo de LNG, o gás natural liquefeito, ou o anúncio recente dos EUA de que iriam aumentar a produção de petróleo para preencher as lacunas.
"Investir em novas infraestruturas de combustíveis fósseis é uma loucura moral e económica", disse o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, após a publicação do relatório. "Estes investimentos serão rapidamente ativos obsoletos e uma praga na paisagem", considerou.
Além da eletrificação radical de toda a economia e sobretudo do transporte rodoviário (suportada por energias renováveis) o relatório do IPCC recomenda ainda que os governos têm que desenvolver políticas e campanhas que levem as pessoas a cortar radicalmente nos seus consumos energéticos. Incluindo investimentos em infraestruturas verdes, reformas no parque habitacional para aumentar a eficiência térmica e campanhas públicas que levem à alteração de comportamentos: como o uso generalizado de transporte público e mudança para uma alimentação à base de plantas.
Onze países, incluindo Luxemburgo, querem acelerar a transição
Numa carta dirigida aos restantes países da UE, os ministros do ambiente de onze países (Luxemburgo, Dinamarca, Alemanha, Finlândia, Países Baixos, Irlanda, Áustria, Espanha, Lituânia, Suécia e Eslovénia) pedem aos restantes colegas que acelerem a aprovação do pacote "Fit for 55".
"Isto é essencial para tornar a UE independente dos combustíveis fósseis russos e a única maneira de respondermos à crise climática, respondendo ao comportamento agressivo da Rússia, e assegurar um fornecimento de energia barato, limpo e de confiança", sustentam na carta.
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