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Qual o desfecho da guerra? Eis cinco cenários possíveis
Mundo 6 min. 05.03.2022 Do nosso arquivo online
Guerra na Ucrânia

Qual o desfecho da guerra? Eis cinco cenários possíveis

Estação de Kiev, Ucrânia
Guerra na Ucrânia

Qual o desfecho da guerra? Eis cinco cenários possíveis

Estação de Kiev, Ucrânia
AFP
Mundo 6 min. 05.03.2022 Do nosso arquivo online
Guerra na Ucrânia

Qual o desfecho da guerra? Eis cinco cenários possíveis

Ana Patrícia CARDOSO
Ana Patrícia CARDOSO
A cada dia, há desenvolvimentos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Ao mesmo tempo que se espera uma terceira ronda de negociações, especialistas colocam vários cenários em cima de mesa.

No final de fevereiro, a Rússia invadiu a Ucrânia e estalou uma guerra com contornos que ninguém podia prever. O número de refugiados aumenta a cada dia - já ultrapassou um milhão - e as principais cidades ucranianas são já uma sombra do que eram há praticamente duas semanas. 

À medida que as conversações vão avançando entre as delegações dos dois países, a passos curtos e com avanços e recuos, a ameaça nuclear paira na mente de todos como o cenário a evitar a todo o custo. 

Vladimir Putin já disse que a ofensiva militar está a correr como "planeado" mas ninguém sabe, na verdade, quais os seus planos de futuro. A NATO não vai intervir, para já, para não oficializar o início da Terceira Guerra Mundial. 

A narrativa bélica pode ter vindo para ficar. Segundo vários especialistas, ir para a guerra pode ser mais fácil do que sair dela. Entre os cenários possíveis na Ucrânia, cinco aparecem regularmente nas projeções avançadas como hipóteses fortes do desenrolar deste conflito. 

Putin cai

O cenário que o ocidente deseja. Ao atingirem a economia russa com sanções económicas fortes, o objetivo é enfraquecer o regime de Vladimir Putin até este recuar. 

O exército poderia decidir não o seguir, o povo poderia revoltar-se face a uma grande crise económica, os oligarcas poderiam afastar-se após a apreensão dos seus bens. "A mudança de regime na Rússia pode parecer a única forma de sair desta tragédia", escreveu o investigador da RAND Corporation Samuel Charap no Twitter. No entanto, "o cenário de um sucessor liberal reformador implorando perdão pelos pecados de Putin seria ótimo, mas ganhar a lotaria também seria ótimo", ironizou.  

Andrei Kolesnikov do Centro Carnegie é igualmente cauteloso, garantindo à AFP que Putin continua a ser popular de acordo com análises independentes. E "de momento, uma pressão financeira ocidental sem precedentes" transformou a classe política e os oligarcas russos "em apoiantes inabaláveis" do seu líder. 

Ucrânia perde

É o fim escrito por Putin. O exército russo é claramente superior ao da Ucrânia. No entanto, as dificuldades que está a encontrar pelo caminho podem ser um indicador de que não será assim tão fácil. 


"III Guerra Mundial? Já entrámos nela há algum tempo", diz biógrafa de Putin
"Putin está a agir de forma cada vez mais emocional e poderá usar todas as armas ao seu dispor. Incluindo as nucleares. É importante não ter nenhumas ilusões, mas também não perder a esperança", diz a ex-conselheira nacional de defesa norte-americana, Fiona Hill. (Recorde o artigo).

 "Esta é uma guerra que Vladimir Putin não pode vencer, não importa quanto tempo dure ou quão cruéis sejam os seus métodos", assegura o historiador britânico Lawrence Freedman do King's College London à AFP. "Entrar numa cidade não é o mesmo que segurá-la", adverte. 

Bruno Tertrais, diretor adjunto da Fundação para a Investigação Estratégica (FRS), esboça várias alternativas. A anexação direta? "Isto quase não tem hipótese de acontecer", escreve ele. Divisão da Ucrânia, como a Coreia ou a Alemanha em 1945? "Dificilmente mais plausível", diz ele. Isso deixa a opção onde "a Rússia consegue derrotar as forças ucranianas e instalar um regime fantoche em Kiev". 

Empate técnico

Os ucranianos surpreenderam os russos, o ocidente e eles próprios, com uma mobilização total, mesmo que a destruição e as perdas sejam devastadoras. 


Zelensky terá escapado a três tentativas de assassinato
O Presidente da Ucrânia terá sido alvo de três tentativas de assassínio na semana passada levadas a cabo por grupos de mercenários do Kremlin e das forças especiais da Chechénia, noticia hoje o jornal britânico The Times.

Ao contrário do discurso de Putin, a população local não parece aceitar os russos como libertadores e está disposta a lutar. A resistência é liderada por Volodymyr Zelensky, um antigo comediante que se tornou presidente da Ucrânia e que atordoou o mundo com a sua frieza e coragem. 

Apoiadas pela inteligência ocidental e pelos fornecimentos de armas, as forças ucranianas podem atrair os seus adversários para um conflito urbano destrutivo, mas onde o conhecimento do terreno será decisivo. A experiência mostra que os guerrilheiros raramente são derrotados. 

 O conflito alastra-se 

 A Ucrânia partilha as suas fronteiras com quatro membros da NATO que já fizeram parte do bloco soviético - pelo qual Putin não esconde a nostalgia. Após absorver a Bielorrússia e invadir a Ucrânia, poderá ele olhar para a Moldova, um pequeno Estado encravado entre a Ucrânia e a Roménia, e mesmo para a Geórgia, na costa oriental do Mar Negro? Moscovo poderia tentar perturbar o equilíbrio da segurança europeia e transatlântica "provocando incidentes nas fronteiras da Europa" ou através de ciberataques, de acordo com Bruno Tertrais. 

Mas a Rússia atreve-se a desafiar a NATO e o seu Artigo 5º, que exige que a aliança responda se um membro for atacado? "É improvável, pois ambas as partes querem evitá-lo", diz à AFP Pascal Ausseur, antigo almirante e diretor da Fundação Mediterrânica de Estudos Estratégicos (FMES). 

Contudo, "a reentrada das forças russas num país da NATO, a Lituânia, por exemplo, para ligar Kaliningrado (na Bielorrússia) ainda é possível", disse. "É também possível um mal-entendido ou um confronto nas fronteiras (europeias) da Ucrânia ou no Mar Negro, onde muitos aviões e navios de guerra são colocados num espaço restrito e numa atmosfera tensa".

Guerra nuclear 

Putin subiu a parada colocando as suas forças nucleares em "alerta especial" no domingo passado. Daí, há dois tipos de opiniões. 

Uma é a de Christopher Chivvis (Carnegie) que acredita que uma bomba, mesmo uma "tática" com impacto localizado, pode ser utilizada. "Atravessar o limiar nuclear não significaria necessariamente (...) uma guerra termonuclear global imediata. Mas seria um ponto de viragem extremamente perigoso na história mundial", escreveu. 


"A Rússia não deverá querer pressionar o 'botão vermelho'", defende especialista
Neste momento há um vazio na Europa na estratégia de defesa militar, alerta Karl Hampel, investigador da Universidade do Luxemburgo.

 Outros, como Gustav Gressel do Conselho Europeu das Relações Externas (ECFR), são mais tranquilizadores. "Não há preparação do lado russo para um ataque nuclear", diz ele. Os anúncios de Putin "são essencialmente dirigidos ao público ocidental para nos assustar". 

No entanto, o ataque à central nuclear de Zaporizhzhya adensou a preocupação. A Greenpeace Luxemburgo condenou o ataque russo ao complexo desta central nuclear, afirmando que o mesmo reforça os receios de sérios riscos de um desastre nuclear, decorrentes da guerra na Ucrânia, e que leva a refletir sobre o investimento energético na construção de centrais nucleares. "A invasão russa representa o risco de uma catástrofe nuclear que poderia tornar grande parte da Europa, incluindo a Rússia, inabitável durante, pelo menos, várias décadas", escreveu. 


(Com agências)

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