Polémica. Igreja francesa pede ajuda aos fiéis para indemnizar as vítimas de abusos sexuais
Polémica. Igreja francesa pede ajuda aos fiéis para indemnizar as vítimas de abusos sexuais
Dias depois da divulgação do Relatório da Comissão Independente sobre os abusos sexuais na Igreja Católica francesa (CIASE) que revelou terem sido mais de 300 mil os menores que foram vítimas de padres, religiosos e funcionários da Igreja, desde 1950 até 2020, o presidente da Conferência Episcopal de França lançou nova polémica ao fazer um apelo aos fiéis para ajudarem a pagar as indeminizações.
Eric de Moulins-Beaufort declarou à FranceInfo que a Igreja francesa não tem dinheiro e que o valor do património é insuficiente, pelo que o pagamento às vítimas só pode ser feito com a ajuda de doações dos católicos. O presidente do CIASE é contra este apelo, vincando que a dívida é da Igreja.
“Um dos reptos é que todos os fiéis se sintam preocupados. Não culpados, mas junto com a Igreja, somos responsáveis pelas vítimas”, frisou este bispo na entrevista no passado dia 6.
Segundo a imprensa francesa as indemnizações a todas as vítimas poderão ascender a vários milhares de milhões de euros. Moulins-Beaufort assumiu que a Igreja francesa já criou um fundo monetário para os abusos sexuais de cinco milhões de euros composto por dinheiro pessoal dos bispos e pelas contribuições dos fiéis. “Só que já não há nada”, frisou. Também o património não tem valor arquitetónico e “o Vaticano não financia a Igreja de França, somos nós que financiamos o Vaticano”, realçou o também arcebispo de Reims.
“Não temos dinheiro escondido nas caves”, vincou o presidente da Conferência Episcopal de França criticando o facto da comissão independente que investigou os abusos sexuais exigir que o dinheiro seja pago apenas pela Igreja.
Para o presidente da comissão independente, Jean-Marc Sauvé a gravidade do que aconteceu deve-se a uma “falha institucional e envolve a responsabilidade da Igreja”, como declarou também à FranceInfo, numa entrevista dada no dia anterior à do bispo Moulins-Beaufort.
A Igreja Católica “como um todo não conseguiu ver e ouvir os sinais fracos emitidos pelas vítimas”, vincou Sauvé. E quando foi informada, “não tomou as medidas rigorosas e necessárias, ou seja, prescreveu cuidados e não colocou as crianças fora do alcance desses padres e religiosos. E, portanto, é uma responsabilidade global".
Muito crítico, o presidente da Comissão Independente declarou que a igreja francesa foi negligente e tem “responsabilidades no plano jurídico e moral”.
Por tudo o que as mais de 300 mil vítimas passaram, “com consequências para o resto da vida” a Igreja tem de arcar com as responsabilidades das indeminizações monetárias.
"A Igreja tem uma dívida"
“O que a Igreja deve pagar às vítimas não é uma liberdade, nem um dom, mas sim um direito. As vítimas têm um crédito e a Igreja tem uma dívida. A Igreja deve pagar essas indenizações assumindo o seu património, e ainda menos cabe ao Estado pagar. Também somos contra o apelo à doação dos fiéis”.
De acordo com a investigação que durou mais de dois anos apoiada em entrevistas a padres e religiosos, testemunhos e arquivos da Igreja, o relatório conclui que de 1950 até 2020 houve entre 2.900 e 3.200 abusadores na igreja católica francesa. O relatório aponta que 216 mil menores foram vítimas de padres ou clérigos, aumentando para mais de 330 mil vítimas, somando os funcionários das entidades religiosas.
A comissão independente exige que as vítimas sejam indemnizadas por tão graves atos, anunciando ainda existirem processos crime em aberto.
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