O racismo é uma droga dura
O racismo é uma droga dura
No século passado, em um cinema, hoje transformado em loja da Zara, passavam regularmente filmes de realizadores de países estranhos como a França. Lembro-me de um filme dirigido por Alain Resnais e dava pelo nome de o “O Meu Tio da América”. Aí a vida comum acontecia entre experiências com ratos brancos. Numa delas, era explicado que um rato sozinho que leva periodicamente choques elétricos costuma morrer depressa, mas que se juntarmos outro rato e se os dois passarem otempo a andar à pancada, enquanto levam com choques elétricos, sobrevivem muito mais tempo. Se o outro rato fosse preto, tínhamos aqui uma parábola para que serve o racismo.
Não gosto de ter de explicar com dados lógicos que o racismo e o sentimento anti-imigrante são prejudiciais para a imensa maioria das pessoas do ponto de vista económico e social. Não porque não haja explicações que sustentem estas evidências, mas porque mesmo que não as houvesse, estas situações não deixariam de ser totalmente intoleráveis. É verdade que estudos da OCDE, elaborados em 2014, que se debruçaram sobre as previsões económicas até 2060, concluíram que se a Europa e os EUA não absorverem, cada uma, 50 milhões de imigrantes, não será possível manter o crescimento económico e ter gente suficiente para coletar e garantir as despesas do Estado. Nessa altura, os Estados da Europa entrarão em falência. Apesar destes dados económicos, o velho continente não consegue receber um milhão de refugiados sem que, em clima de crise política e económica, cresça a xenofobia e se instale o pânico generalizado.
É óbvio que o racismo e a xenofobia são drogas duras que servem para disfarçar a situação existente deixando tudo exatamente na mesma. Os Trumps desta vida não pretendem democratizar o planeta e combater as desigualdades crescentes. O que eles querem é garantir o poder e o dinheiro para si. Repetindo com novas roupagens aquilo que tem sucedido até agora. A única forma de combater a sua ascensão é dar mais poder a todas as pessoas que vivem e trabalham na Europa. Só uma agenda que dê direitos de cidadania a toda a gente pode combater de uma forma eficiente esta deriva ditatorial.
Não haverá nenhuma mudança para uma sociedade mais justa que seja feita a partir da discriminação. Impedir o crescimento dos populismos antidemocráticos e que pretendem manter as desigualdades não será feito pela adoção da agenda racista. Os populistas racistas são a continuação dos poderosos do costume por outros meios.
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