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Morre-se de fome em Mariupol
Mundo 4 min. 15.04.2022 Do nosso arquivo online
Guerra na Ucrânia

Morre-se de fome em Mariupol

Mariupol, Ucrânia
Guerra na Ucrânia

Morre-se de fome em Mariupol

Mariupol, Ucrânia
Maximilian Clarke/SOPA Images vi
Mundo 4 min. 15.04.2022 Do nosso arquivo online
Guerra na Ucrânia

Morre-se de fome em Mariupol

Lusa
Lusa
O diretor-executivo do Programa Alimentar Mundial disse hoje que a população da cidade sitiada de Mariupol está “a morrer à fome” e que a crise humanitária na Ucrânia piorará nas próximas semanas, quando a Rússia intensificar a ofensiva.

Em entrevista à agência de notícias norte-americana Associated Press (AP) em Kiev, David Beasley também advertiu de que a invasão russa da Ucrânia, grande exportadora de cereais, corre o risco de destabilizar países distantes e poderá desencadear vagas de migrantes em busca de uma vida melhor noutros lugares.

A guerra que começou a 24 de fevereiro foi “devastadora para o povo da Ucrânia”, afirmou, lamentando as dificuldades de acesso com que o Programa Alimentar Mundial (PAM) e outras organizações humanitárias se confrontaram ao tentarem chegar às populações necessitadas no meio do conflito.

“Não vejo nada a tornar-se mais fácil. Simplesmente, isso não está a acontecer agora”, comentou.


Mariupol, na Ucrânia.
Mais de 10.000 civis terão morrido em Mariupol. Ofensiva russa no Donbass intensifica-se
Os cerca de 120.000 civis que permanecem na cidade precisam urgentemente de comida, água, aquecimento e comunicações, alertou o autarca de Mariupol.

A natureza dinâmica do conflito, pela qual os combates se afastaram de zonas próximas da capital e em direção ao leste do país, tem tornado especialmente difícil chegar aos ucranianos com fome.

 Falta de acesso é parte do problema  

O PAM está a tentar colocar agora reservas de alimentos em zonas que poderão ser atingidas pelos combates, mas Beasley reconheceu que há “muitas dificuldades” à medida que a situação rapidamente evolui.

A falta de acesso é parte do problema, sublinhou, mas outra parte é a escassez de mão-de-obra e de combustível, porque os recursos estão a ser desviados para o esforço de guerra.

“Não serão só os próximos dias – as próximas semanas e próximos meses poderão ser ainda mais complicados do que agora está”, indicou, acrescentando: “Na verdade, [a situação] está a ficar cada vez pior, concentrada nalgumas áreas, e as linhas da frente ir-se-ão movendo”.

O responsável da maior agência humanitária do mundo expressou particular preocupação com a cidade portuária de Mariupol, onde um número cada vez menor de combatentes ucranianos resiste ao cerco do exército russo que deixou encurralados mais de 100.000 civis desesperadamente necessitados de comida, água e aquecimento.

As forças russas que controlam o acesso à cidade não autorizaram a entrada de ajuda humanitária, embora o PAM tenha exigido acesso.

 Rússia está determinada a tomar a cidade  

“Não vamos desistir das pessoas de Mariupol e de outras pessoas que não conseguimos alcançar. Mas é uma situação devastadora: as pessoas deixadas a morrer à fome”, frisou.


Mikhail Mizintsev, conhecido como o "carniceiro de Mariupol"
Austrália anuncia sanções contra "carniceiro de Mariupol" e mais 66 pessoas
A Austrália anunciou hoje a imposição de sanções financeiras e de movimentos ao coronel do exército russo Mikhail Mizintsev, apelidado de "o carniceiro de Mariupol", a outros 64 russos e a dois ucranianos, pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

A Rússia está determinada a tomar a cidade, para que as suas forças da anexada península da Crimeia possam formar uma frente unida com as tropas noutras zonas da região leste do Donbass, o coração industrial da Ucrânia e o alvo da próxima ofensiva.

O diretor-executivo do PAM alertou para efeitos em cadeia desastrosos, devido ao papel da Ucrânia como principal fornecedor internacional de cereais.

Uma escassez alimentar global causada pela guerra desencadearia “uma migração em massa de proporções além de tudo a que assistimos desde a Segunda Guerra Mundial”, sustentou, repetindo uma advertência feita no Conselho de Segurança da ONU no mês passado.

Juntas, a Rússia e a Ucrânia produzem 30% da oferta mundial de trigo e exportam cerca de três quartos do óleo de sementes de girassol do mundo. Metade dos cereais que o PAM compra para distribuição em todo o mundo procede da Ucrânia.

Cerca de 30 milhões de toneladas de cereais destinados à exportação não podem ser expedidos em navios mercantes por causa da guerra, referiu Beasley.

Os produtores agrícolas ucranianos estão com dificuldades no acesso a adubos e sementes, e aqueles que conseguem fazer as sementeiras, podem ver as suas colheitas apodrecer nos campos se a guerra se arrastar e não houver forma de as expedir por mar, alertou.

  “As pessoas vão morrer à fome”  

Os desafios dos transportes marítimos obrigaram o PAM a reduzir para metade as rações para milhões de pessoas, muitas em África, e poderão ser necessários ainda mais cortes, explicou.

“As pessoas vão morrer à fome”, declarou.


As autoridades ucranianas estimam que cerca de 100 mil pessoas permaneçam em Mariupol, no leste do país, que antes da invasão lançada pela Rússia tinha uma população de 430 mil pessoas.
Bombardeamentos russos impedem retirada de civis de Mariupol
Bombardeamento russos do principal porto ucraniano, Mariupol, no Mar de Azov, estão a impedir a retirada de civis através de vários corredores humanitários acordados entre os dois países.

Beasley também visitou zonas próximas de Kiev que foram destruídas pela invasão russa, incluindo a cidade de Bucha, onde indícios de assassínios em massa e outras atrocidades contra civis chocaram o mundo.

Descreveu bairros “completamente destruídos pelos bombardeamentos”, comparando o que viu com um pesadelo em que é impossível acreditar, mas não classificou os massacres como um genocídio, como o Presidente norte-americano, Joe Biden, fez esta semana.

Inquirido sobre as declarações de Biden, respondeu: “Bem, uma coisa eu sei: as pessoas estão a morrer. E não tenho qualquer dúvida de que esta é uma história de terror e que é verdadeiramente desolador”.

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