Menino de nove anos espancado até à morte por dois irmãos em França
Menino de nove anos espancado até à morte por dois irmãos em França
Uma chamada de atenção na caderneta escolar do pequeno Seal-Evan, de nove anos, desencadeou uma espiral de violência sobre a criança, às mãos dos dois irmãos mais velhos, então com 22 e 20 anos, que o espancaram até à morte em casa. O crime aconteceu em 2018, a um domingo, 16 setembro, em Colmar, na região do Grande Este de França.
O espancamento de horas - com agressões, cinto e vassoura - foi filmado pela irmã e perante a passividade da namorada grávida de um dos irmãos. Quando pediram ajuda já era tarde demais. Também a mãe, ausente na altura, foi considerada cúmplice de violência, considerou o Tribunal de Haut-Rhin, onde quarta-feira foi proferida a sentença contra esta família.
Os dois principais arguidos, um homem de 26 anos e a sua irmã, de 24 anos, foram condenados a 15 anos e seis anos de prisão, respetivamente, pelo homicídio do irmão. Os dois condenados estavam a ser julgados desde segunda-feira por uma "violência deliberada contra um menor de 15 anos, resultando na sua morte sem intenção de matar".
A mãe da vítima, acusada de "cumplicidade na violência voluntária", foi condenada a quatro anos de prisão. O tribunal proferiu uma sentença suspensa de três anos de prisão à ex-namorada do irmão mais velho, acusada de "incapacidade de prevenir um crime".
Sofrimento de horas
Naquela tarde, Seal-Evan e outro irmão, de 11 anos, foram deixados aos cuidados dos irmãos mais velhos. A mãe, como acontecia com frequência, estava ausente. Naquela casa da família camaronesa, em Mulhouse, encontrava-se ainda a então namorada do irmão mais velho, de 26 anos, que estava grávida.
Ao final da tarde, os irmãos mais velhos viram a caderneta escolar de Seal-Evan, onde constava uma nota de atenção. Foi este o gatilho para o lento homicídio do menino. O espancamento ao menino durou horas, acabando por deixá-lo inconsciente. A irmã ligou para os serviços de emergência às 24h.
Na gravação feita pela jovem e mostrada na audiência de terça-feira, ouve-se Seal-Evan a implorar "Deus, ajuda-me, Deus", pedindo ao irmão "protege-me, tu és o rei", enquanto este lhe batia. A criança acaba por desmaiar. A irmã alerta os serviços de emergência, que chegam pouco depois da meia-noite, mas já não conseguem reanimar o menino.
A natureza criminosa da morte não foi logo estabelecida, mas "vestígios suspeitos" no corpo levaram o hospital a alertar a polícia, indicou a procuradora pública de Mulhouse, Edwige Roux-Morizot. A autópsia e exames posteriores revelaram que Seal-Evan esteve inconsciente ou mesmo já em coma, provavelmente várias horas antes do pedido de socorro.
A criança "terá morrido sufocada pelo próprio conteúdo gástrico", "enquanto estava inconsciente", precisou a procuradora. As agressões, em si, não foram fatais, “mas foi em consequência dessas agressões que a criança morreu”, acrescentou. Os quatro elementos da família foram detidos, pelo crime cometido "na presença da cunhada, e com a presença mais distante da própria mãe". Contudo, apenas o irmão mais velho ficou preso, a mãe, irmã e cunhada ficaram sob vigilância policial.
Castigos físicos eram "normais"
Em tribunal, na terça-feira, os dois mais velhos reconheceram em parte os factos, embora o homem tenha negado ter agredido Seal-Evan com o cabo da vassoura, facto que foi atestado pelo irmão mais novo, então com 11 anos. Este adolescente, que foi ouvido à porta fechada por ser menor, falou de um ato "implacável" dos mais velhos contra Seal-Evan. Segundo contou, na família, as agressões com cinto estavam reservadas para "as grandes asneiras", por vezes relacionadas com os deveres escolares. Naquele domingo, a chamada de atenção na caderneta do menino assustou os mais velhos porque a família já estava sinalizada pelos serviços sociais.
Por seu turno, o irmão mais velho contou que naquele dia a mãe estava "em modo de festa" em Paris e lhe disse, por telefone, para ele "tratar do assunto". O homem afirmou a mãe praticava "castigos físicos". “Nós crescemos num lugar onde bater é normal e batemos”. A sua irmã também admitiu ter agredido Seal-Evan, mas não de forma "voluntária". Já a ex-namorada, explicou que “reagiu mal (...). Em vez de pedir ajuda, fiquei a ver o meu namorado bater no irmão mais novo”.
A mãe negou ter pedido ao filho mais velho para bater no mais novo. "Disparate! A senhora não queria que os serviços sociais controlassem sua família e, portanto, o seu rendimento. A realidade é que pediu ao seu filho para bater", em Seal-Evan, declarou a magistrada Christine Schlumberger, presidente do Tribunal de Haut-Rhin.
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