Lula, o líder progressista aclamado e odiado por milhões
Lula, o líder progressista aclamado e odiado por milhões
É aclamado pelos apoiantes como símbolo da luta contra a pobreza e odiado por aqueles que defendem o ‘mito’ Jair Bolsonaro, derrotado nas eleições presidenciais de domingo. Luiz Inácio Lula da Silva volta a governar o Brasil, 20 anos depois do primeiro mandato.
Lula venceu um sufrágio cujo resultado pareceu incerto até o fim devido à grande popularidade de Bolsonaro e tornou-se o primeiro chefe de Estado a ter três mandatos na história recente do Brasil, aos 77 anos.
O atual Presidente nasceu numa zona pobre de Pernambuco, na região nordeste, de onde emigrou aos sete anos, fugindo da fome com seis irmãos e a mãe para o estado de São Paulo.
Candidato seis vezes à presidência da República do Brasil, foi o primeiro líder operário a chegar ao posto mais importante do comando político do país.
O trabalhador que virou presidente
Lula da Silva conseguiu o seu primeiro emprego aos 12 anos. Aos 19, quando era empregado numa metalúrgica, teve o dedo mindinho da mão esquerda decepado num acidente de trabalho.
A sua entrada no movimento sindical, que o catapultou para o mundo da política, aconteceu em 1969, quando Lula da Silva concorreu ao primeiro cargo no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo.
Foi eleito presidente da mesma entidade em 1975, onde se tornou conhecido dos brasileiros ao liderar as primeiras greves de trabalhadores contra o regime militar (1964-1985), tendo chegado a ser preso.
Em fevereiro de 1980, Lula da Silva participou com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais, da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Dois anos depois, fez sua estreia na vida pública, disputou a sua primeira eleição, então para o governo de São Paulo, ficando como quarto colocado.
Em 1986, Lula da Silva foi eleito para a Assembleia Constituinte como deputado federal mais votado do país, com 650,1 mil votos, pelo Estado de São Paulo.
Na primeira eleição direta para Presidente, realizada em 1989, lançou-se candidato ao cargo máximo do Executivo numa disputa dura na qual foi derrotado pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Em 1994, disputou novamente a Presidência brasileira, mas acabou derrotado na primeira volta pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, com a popularidade em alta com o lançamento do projeto de estabilização da economia brasileira, o Plano Real.
Quatro anos mais tarde, Lula da Silva lançou novamente candidatura presidencial, mas acabou derrotado novamente na primeira volta pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso.
A derrota em três eleições presidenciais levou o maior líder da esquerda brasileira a mudar a estratégia para a quarta disputa, abandonando teses radicais e ampliando apoios políticos para outros segmentos.
Com um slogan "paz e amor", Lula da Silva passou a campanha evitando grandes polémicas e sinalizando para o mercado que respeitaria os contratos e acordos, venceu as presidenciais pela primeira vez em 2022 e levou o Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder no Brasil.
Depois de dois mandatos que concluiu com sucesso, Lula da Silva deixou a governação do país sul-americano com 87% de aprovação e por algum tempo pareceu que nada poderia apagar o brilho da maior estrela PT.
O escândalo da Lava Jato
A partir de 2014, porém, um novo calvário se apresentou na trajetória política e de vida do líder progressista, acusado de corrupção pela Operação Lava Jato, uma 'task force' que investigou desvios na Petrobras e noutros órgãos públicos do país, e que provocou a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff.
As investigações da Lava Jato resultaram em duas condenações que o levaram à prisão em 2018. Declarando-se sempre inocente, o líder ‘petista’ cumpriu 580 dias de prisão até ser libertado em 2020 para recorrer das penas impostas contra si em liberdade.
Em 2021, porém, uma reviravolta iluminou novamente o caminho da maior estrela progressista da política brasileira. Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os processos que o levaram a prisão em razão de vários erros e irregularidades processuais, restabelecendo a sua liberdade plena e seus direitos políticos.
Livre para lutar pelo protagonismo na política brasileira, Lula da Silva candidatou-se à Presidência do Brasil liderando uma frente ampla que fosse além do PT e dos partidos de esquerda.
O primeiro passo foi convidar o ex-governador e antigo adversário político Geraldo Alckmin para vice na sua candidatura, gesto que sinalizou moderação e a intenção de caminhar para o centro em busca de apoios e de governabilidade.
Numa campanha dura em que enfrentou o uso de dinheiro público por parte de Bolsonaro e seus aliados, notícias falsas, ataques e críticas, sagrou-se vencedor defendendo basicamente seu legado passado e sinalizando a sua massa de eleitores, na maioria pobres, que trabalhará para acabar com a fome, para pacificar o país convulsionado pela divisão política e para recuperar a imagem do Brasil no mundo.
Nas últimas semanas da campanha, Lula da Silva conseguiu uma série de apoios de artistas e também personalidades políticas com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, do primeiro-ministro português, António Costa, na qualidade de secretário-geral do PS, e do chefe de governo e líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sanchéz que o ajudaram a pavimentar o caminho da vitória.
Lula da Silva também recebeu apoio de personalidades como a ambientalista e deputada eleita Marina Silva, a senadora Simone Tebet, que ficou em terceiro lugar na primeira volta da corrida presidencial e o ex-juiz do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, algoz do PT durante o julgamento de um escândalo de corrupção, o Mensalão, que marcou o seu primeiro Governo.
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