Floyd. Acusação agravada a polícia responsável e mais três agentes acusados
Floyd. Acusação agravada a polícia responsável e mais três agentes acusados
Os três polícias de Minneapolis, presentes na morte de George Floyd, que foi asfixiado pelo agente Derek Chauvin durante oito minutos e 46 segundos, foram acusados esta quarta-feira de terem participado na morte do afro-americano. Chauvin foi acusado de um segundo crime, desta vez homicídio em segundo grau.
O anúncio foi feito por Keith Ellison, procurador-geral do Minnesota, que foi designado pelo governador para tratar do caso. Segundo o The New York Times, Ellison pediu paciência durante o que disse ser "uma investigação morosa" e advertiu que a história revelava sérios desafios nos processos judiciais contra os agentes da polícia.
"Estamos aqui hoje porque George Floyd não está presente. Ele deveria estar aqui", disse Ellison, um antigo congressista democrata e advogado dos direitos civis, que acrescentou: "Tentar ganhar este caso não será uma coisa fácil. Ganhar uma condenação vai ser difícil". "Não tenho qualquer alegria nisto", disse. "Mas sinto um tremendo sentido de dever e responsabilidade", cita o mesmo jornal.
O governador Tim Walz do Minnesota, democrata, considerou as acusações "um passo significativo de forma a fazer-se justiça para George Floyd". Segundo o New York Times Walz acrescentou ainda: "Temos também de reconhecer que a angústia de conduzir os protestos em todo o mundo é sobre mais do que um incidente trágico".
Nas novas acusações, Chauvin, o polícia que asfixiou George Floyd, de 46 anos, com o joelho durante oito minutos e 46 segundos, foi acusado de homicídio em segundo grau, uma acusação que é mais grave e que pode acarretar uma pena de prisão mais longa do que a acusação de homicídio em terceiro grau que enfrentou inicialmente.
No Minnesota, o homicídio em segundo grau exige que os procuradores provem que Chauvin tencionava matar Floyd, ou que o fez enquanto cometia outro crime. Segundo o processo judicial a que o Times teve acesso, há indicações que os procuradores de justiça tencionam adotar esta última abordagem.
A acusação de homicídio em terceiro grau não exige a intenção de matar, de acordo com o estatuto do Minnesota, mas apenas que o autor do crime tenha causado a morte de alguém num ato perigoso "sem consideração pela vida humana". Chauvin foi também acusado de homicídio involuntário em segundo grau
Nos termos da lei deste estado norte-americano, o homicídio em segundo grau é acompanhado de uma pena máxima de 40 anos de prisão, e os cúmplices podem ser elegíveis para as mesmas penas que o arguido principal.
Os três outros agentes presentes, Thomas Lane, J. Alexander Kueng e Tou Thao, foram acusados de cumplicidade e auxílio nos dois crimes de homicídio de que Chauvin é acusado.
O New York Times escreve ainda que os advogados dos quatro oficiais recusaram-se a comentar e não responderam às questões apresentadas. As comparências em tribunal foram marcadas para esta quinta-feira, para alguns deles, mas não se sabe ao certo quem.
Chauvin, que se encontra detido desde a semana passada, estava agendado para comparecer em tribunal na segunda-feira, de acordo com os registos prisionais. Novos documentos do tribunal, divulgados na quarta-feira, lançam novas pistas sobre o que aconteceu antes da morte de Floyd, a 25 de maio.
Chauvin, o principal responsável, tinha registado pelo menos 17 queixas por má conduta ao longo de quase duas décadas no Departamento da Polícia de Minneapolis.
Já o colega, o agente Thao, de 34 anos, tinha também seis queixas por má conduta ao longo da sua carreira no mesmo departamento. Chegando mesmo a ser alvo de um processo que alegava que juntamente com outro agente teria esmurrado, pontapeado e ajoelhado um homem afro-americano, deixando-o com os dentes partidos e hematomas. Um advogado envolvido no caso afirmou que o caso foi resolvido com o pagamento de uma quantia de 25.000 dólares.
Nem Lane, 37 anos, nem Kueng, 26, tinham registo de queixas anteriores por má conduta, de acordo com o Departamento de Polícia.
Derek Chauvin foi despedido a 26 de maio, um dia depois do incidente, não sendo logo acusado de homicídio. Foi detido a 29 de maio, quatro dias depois do caso. Os restantes colegas tinham sido demitidos também no mesmo dia, mas sem acusações.
George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu a 25 de maio, em Minneapolis, depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de nove minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd implorar por ajuda dizendo que não conseguia respirar.
Desde a divulgação das imagens nas redes sociais têm-se sucedido protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais foram palco de atos de pilhagem.
Esta foi a nona noite consecutiva de manifestações, reunindo milhares de pessoas na quarta-feira, incluindo nas ruas de West Hollywood, Califórnia, e fora do Capitólio do Estado do Colorado. A imprensa local diz que há apelos cada vez mais intensos para mudanças no sistema de polícia norte-americano e que os manifestantes não deram sinais de parar as ações de protesto. Em Nova Iorque uma grande multidão de pessoas reuniu-se perto da residência oficial do presidente da Câmara.
Segundo o New York Times, muitos dos manifestantes afirmaram que as novas acusações não iriam pôr termo às manifestações, uma vez que procuram mudanças sistémicas mais amplas no sistema judicial do país.
Pelo menos 9.000 mil pessoas foram detidas e o recolher obrigatório foi imposto em várias cidades, incluindo Washington e Nova Iorque.
Barack Obama pronuncia-se em relação aos protestos
O ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama disse esta quarta-feira estar otimista de que existe oportunidade e uma nova mentalidade para combater o racismo, e pediu reformas da polícia a nível local.
Numa mensagem vídeo a partir da Fundação Obama, transmitida pelas televisões norte-americanas esta quarta-feira, o ex-Presidente democrata (de 2009 a 2017) disse que são mais de 18 mil jurisdições locais que devem implementar reformas no policiamento.
"Grande parte das reformas que precisamos hoje - para prevenir o tipo de violência e injustiças que vimos – [devem] acontecer a nível local", disse Barack Obama, citado pela agência Lusa. Obama relembrou o relatório que apresentou em 2015, no seu segundo mandato, depois da morte do jovem Michael Brown, às mãos da polícia.
Entre as soluções propostas no documento, encontravam-se sugestões de re-treino dos polícias, novas formas de identificar discriminações, melhor comunicação entre polícia e comunidades, e colocação estratégica das patrulhas em locais que garantam mais segurança.
Desta forma, o ex-Presidente estendeu o apelo a todos os presidentes de câmara do país, para se concentrarem em fazr e eliminar o "racismo institucionalizado", em conjunto com executivos de condados e chefes de polícia.
Segundo a agência Lusa, Obama lembrou também que todas as pessoas que ocupam as posições mais importantes para as reformas foram eleitas, assim como "são os procuradores-gerais dos distritos e dos estados que decidem o que devem investigar".
Protestos à volta do mundo
Nos últimos dias os protestos em massa motivados pelo assassinato do afro-americano ultrapassaram as fronteiras dos EUA e nem a pandemia da covid-19 travou os manifestantes de saírem às ruas.
Do Canadá ao Reino Unido, da China ao Irão, do Chile à Alemanha, de França à Síria, a imprensa internacional menciona que pelo menos 13 países se juntaram aos protestos pela justiça a Floyd, mas também abrangendo a luta contra o racismo estrutural e o abuso policial.
Será o caso do Luxemburgo, cujo protesto está marcado para sexta-feira, 5 de maio, aproveitando o movimento gerado para expor problemas de racismo locais. Também Portugal vai, este sábado, 6 de junho, juntar-se ao movimento global de protestos.
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