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Empresa luxemburguesa envolvida no desaparecimento de dois ativistas no México
Mundo 4 min. 08.03.2023
Crime

Empresa luxemburguesa envolvida no desaparecimento de dois ativistas no México

Antonio Díaz Valencia e Ricardo Arturo Lagunes Gasca desapareceram em janeiro.
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Empresa luxemburguesa envolvida no desaparecimento de dois ativistas no México

Antonio Díaz Valencia e Ricardo Arturo Lagunes Gasca desapareceram em janeiro.
Foto: DR
Mundo 4 min. 08.03.2023
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Empresa luxemburguesa envolvida no desaparecimento de dois ativistas no México

Simon MARTIN
Simon MARTIN
Uma empresa especializada na produção de aço na América Latina, sediada no Grão-Ducado, pode estar implicada no mistério.

O México é certamente um dos países mais perigosos do mundo para os ativistas ambientais. Ali, grupos criminosos e altos funcionários corruptos não hesitam em ameaçar e atacar as comunidades com total impunidade, crimes que podem ir até ao desaparecimento forçado e assassinato. É neste contexto que se insere o sombrio caso do desaparecimento de dois ativistas ambientais mexicanos, ligado a uma empresa siderúrgica com sede no Luxemburgo.


Um manifestante ergue um cartaz com os rostos de Dom Phillips e Bruno Pereira na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, Brasil.
ONG. Brasil foi o país mais perigoso para ativistas ambientais na última década
Pelo menos 1.733 ativistas foram mortos em todo o mundo entre 2012 e 2021, o que representa, em média, um homicídio a cada dois dias, com o Brasil a registar o número mais elevado.

O caso remonta a 15 de janeiro, dia em que o representante da comunidade indígena Aquila, Antonio Díaz Valencia (71 anos) e o advogado especializado na defesa dos direitos humanos Ricardo Arturo Lagunes Gasca (41 anos) desapareceram ao longo da fronteira entre os estados de Colima e Michoacán. Surpreendentemente, o desaparecimento foi reportado após uma reunião sobre o não cumprimento de acordos relativos à exploração da mina de Las Encinas por parte de uma empresa siderúrgica.

A empresa que explora a mina, chamada Ternium, é um dos atores económicos mais poderosos da região e mesmo de toda a América Latina. No entanto, as suas atividades causam muitos danos ambientais e prejudicam o tecido social da região, o que já levou a muitos conflitos e violência dentro da própria comunidade. Nesse sentido, os dois homens estavam a lutar por uma compensação justa por parte da empresa.

Suspeitas de conluio com os cartéis

Para os familiares dos dois homens, não há dúvida de que a empresa esteve envolvida no seu desaparecimento súbito e brutal. "A empresa mantém relações com todos os atores locais, incluindo com os prováveis autores do desaparecimento", disse a irmã de Ricardo Arturo Lagunes Gasca numa conferência de imprensa. Alguns meios de comunicação também mencionaram suspeitas de ligações entre a empresa siderúrgica e o poderoso Cartel Jalisco Nueva Generación, um dos mais poderosos e influentes cartéis do mundo, ainda mais do que o não menos conhecido Cartel de Sinaloa.

Algumas testemunhas disseram aos jornais locais que os dois ativistas tinham sido ameaçados várias vezes por um membro da Ternium antes do seu desaparecimento. A 15 de janeiro, terão sido seguidos por vários homens num carro e numa mota, depois de saírem da reunião com a empresa. Os dois homens deslocavam-se numa carrinha pick-up branca, que foi encontrada abandonada na berma de uma autoestrada. Embora o veículo estivesse perfurado por balas, não foi encontrado sangue no interior. 

Desde então, os dois homens ainda não foram encontrados. As famílias estão a fazer tudo para esclarecer os contornos desta tragédia. Foi lançado um aviso de desaparecimento, prometendo uma recompensa de 500.000 dólares (cerca de 474 mil euros) a quem possa fornecer informações para ajudar na investigação.

Um inquérito que pode envolver o Luxemburgo. Enquanto que os 18 locais de produção do gigante do aço se situam no continente americano e as suas duas minas estão no México, a sede da Ternium fica na capital luxemburguesa, num edifício na Boulevard Royal, na capital.


Os protestos juvenis estão de volta
Quando se fala da grande crise académica de 1962, que abalou o regime, raramente se fala de um movimento que conquistou a pulso a sua importância. O movimento dos alunos do secundário. Volvidos 60 anos, há coisas que não mudam.

Ministros pedem esclarecimentos 

Naturalmente, todos os olhos se voltaram para a empresa, que respondeu às acusações com um simples comunicado de imprensa. A Ternium afirmou estar "a colaborar ativamente com as autoridades mexicanas, fazendo tudo ao seu alcance para encontrar as duas pessoas desaparecidas". A empresa disse estar "chocada" com os factos e expressou a sua "solidariedade" com as famílias de Antonio e Ricardo. "Negamos e rejeitamos publicamente qualquer especulação de que a Ternium ou [a mina de] Las Encinas esteja envolvida ou ligada aos desaparecimentos". A Ternium considera estar "profundamente comprometida com as comunidades em que opera".

É provável que ainda corra muita tinta sobre o desaparecimento dos dois ativistas, inclusive no Luxemburgo. Alertados pelos factos, os deputados Stéphanie Empain e Charles Margue (déi gréng) questionaram os ministros da Economia Franz Fayot e dos Negócios Estrangeiros Jean Asselborn (ambos LSAP) sobre o assunto. O relatório afirma também que os dois ministros enviaram uma carta à Ternium no final de janeiro pedindo explicações sobre o assunto. O Estado luxemburguês parece estar a levar este assunto muito a sério.

As Organizações Não Governamentais (ONGs), como a Frontline Defenders, que também se envolveram no caso. Foi também lançada uma petição exigindo justiça para os dois ativistas, que já reuniu mais de dez mil assinaturas.

O México é o país com o maior número de assassinatos de ativistas ambientais. De acordo com a ONG Global Witness, em 2021, 54 pessoas morreram em defesa das suas convicções, mais 30 do que em 2020.

(Artigo originalmente publicado no Virgule e adaptado para o Contacto por Maria Monteiro.)

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