"É o nosso herói". Zelensky: judeu, resistente, humorista, o presidente da Ucrânia
"É o nosso herói". Zelensky: judeu, resistente, humorista, o presidente da Ucrânia
Volodymyr Zelensky é o homem do momento. O Presidente do país que a Rússia invadiu é agora visto como o homem que não abandonou o seu país e que insiste numa só palavra: resistência. "Ele não fugiu. É o nosso herói", ouviu-se, dito por ucranianos, em vários pontos do mundo, também esta tarde, em Lisboa.
No país que a esta hora dorme - ou tenta dormir - o medo engana-se nos bunkers improvisados (estações de metro - que por agora não circulam - ou em parques de estacionamento subterrâneos). O barulho das sirenes e das bombas é o som do medo, em Kiev, mas não só. Em Portugal, no Luxemburgo, em todo o mundo, há ucranianos que temem pela família: deixaram lá pais, irmãos, sogros, amigos.
Zelensky poderia ser uma anedota. Afinal, apareceu pela primeira vez na televisão do país como presidente da Ucrânia. Era um papel que interpretava numa série cómica. Sim, o resistente presidente da Ucrânia, era humorista. Em abril de 2019 a ficção torna-se vida real e Zelensky tornou-se o Chefe de Estado do país. Venceu as eleições com 73% dos votos, numa segunda volta em que se apresentou como o candidato de uma Ucrânia aberta e virada para o Ocidente. O opositor era o oligarca Petro Poroshenko.
Num vídeo pulicado ontem na rede social Twitter, o presidente ucraniano falou: "Estamos todos aqui - defendendo a nossa independência, o nosso estado! Vamos continuar assim. Glória aos nossos defensores! Glória à Ucrânia!"
Zelensky tem 44 anos e nasceu na cidade central de Kryvyi Rih, no sudeste da Ucrânia, numa família judia que falava russo em casa e licenciou-se em Direito pela Universidade Nacional de Economia de Kiev.
Na década de 1990, com o seu coletivo de comédia, o Kvartal 95, fez parte da geração ucraniana que começou a pôr em causa a herança soviética através de sátira política. “A melhor forma de garantir que os ucranianos não se conformam com o estado das coisas é apresentar-lhes o absurdo da política num novo formato”, disse Zelenskii, em 2016, num artigo da revista Foreign Policy, citado pelo jornal Público.
O presidente mais popular desde a independência
Foi o presidente mais popular desde que a Ucrânia se tornara independente, em 1991, após o desmembramento da União Soviética. Queria desfazer o ninho de oligarcas do seu país, afirmava.
Não foi fácil - nem simples - passar da sátira política para a política a sério. Havia problemas com a Rússia de Putin e com os EUA de Trump. A Administração Trump congelou um pacote de quase 400 milhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia, numa altura em que os combates prosseguiam nas províncias do Donbass, contra os separatistas pró-russos.
Depois, no final do ano passado, começaram as manobras militares russas na fronteira com a Ucrânia. Volodymyr Zelensky já não era, então, o presidente popular nem o salvador da pátria, o que iria dizimar a corrupção.
Mas, na quarta-feira, falou na televisão ucraniana para avisar que o país estava prestes a ser atacado e invadido pela Rússia. Falou em russo, num apelo velado para que Putin desistisse da invasão. Mas, não vacilou: “Quando nos atacarem, verão as nossas caras, e não as nossas costas".
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