Do Luxemburgo à Suíça. Como a Europa está a viver a seca
Do Luxemburgo à Suíça. Como a Europa está a viver a seca
Luxemburgo. Elétricas do Moselle reduzidas. Há cerca de um mês, o governo fez um apelo à população para reduzir o consumo de água. Na região de Moselle, o alerta de seca foi reforçado e o tempo de proibição de uso de água para rega foi alargado. No rio Moselle, os barcos são concentrados nas eclusas (para passarem juntos) e as centrais eletricas do rio foram encerradas. Para combater a seca, e quando soam novos avisos para a subida das temperaturas, a região da Moselle reforçou as medidas de contenção e poupança de água. Embora não esteja no grupo dos países em situação mais dramática, a seca no Luxemburgo deverá agravar-se ao longo do verão.
Portugal: barragens nos mínimos. No Alto Minho já se avalia a possibilidade de haver corte de água para consumo humano neste mês de agosto e possivelmente em setembro. Quem anunciou a medida foi o presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, Manoel Batista."É possível que, nalgum momento, alguns sistemas não tenham capacidade de se abastecer de água", disse ao jornal Público. Em Melgaço, já há bombeiros a levar água para abastecer cisternas das populações. No resto do país foi declarada seca, mas apenas com um pedido aos cidadãos de adotarem medidas responsáveis de poupança. E por enquanto as explorações agrícolas ainda não foram afetadas.
As várias barragens do país estão em níveis muito baixos, sendo que a energia hidroelétrica armazenada em barragens está a metade da média dos últimos sete anos. Em julho, a energia hidroelétrica produzida foi um quarto do mês anterior, e isto está a acontecer quando a UE precisa de se socorrer de fontes de energia que não o gás russo. E com a seca e as ondas de calor, o país teve incêndios florestais de grandes dimensões, de norte a sul, mesmo se os principais parques florestais foram vários dias encerrados.
França. Mais de 100 municípios sem água corrente. A primeira-ministra, Élisabeth Borne, ativou uma unidade de crise. A instituição mteorológica francesa considerou esta seca a pior desde que o país começou a fazer registos, em 1958. O ministro da Transição Verde, Christophe Béchu, salientou ao jornal inglês Guardian, que “a adaptação a estes episódios já não é uma opção, é uma obrigação”. Em 93 dos 96 departamentos franceses existem proibições ou restrições de irrigação. Várias localidades já estão a ser abastecidas por camião.
A colheita de milho em França deverá ser pelo menos 18% inferior ao ano passado. E um dos reatores nucleares no sudeste francês reduziu o seu funcionamento por causa das altas temperaturas no rio Garonne (as águas dos rios servem para arrefecer as turbinas, mas a partir de um certo nível podem causar danos para o meio ambiente). Várias outras centrais nucleares francesas poderão ter que baixar a sua produção.
Espanha. O mais seco em 60 anos. Espanha é considerada a horta da Europa, e o uso de água é 90% destinado à agricultura. As reservas de água estão ao nível mais baixo de sempre, a 40% da capacidade dos reservatórios, e estão a baixar a um ritmo de 1.5% a cada semana. O governo considerou que este é o ano mais seco dos últimos 60 anos. Estão em vigor restrições ao consumo de água em várias regiões do norte ao sul do país. Devido às condições extremas, e segundo o Sistema de Informação de Fogos Florestais europeu, este é o pior ano de fogos florestais em Espanha desde há 30 anos.
O acréscimo de turismo – após as restrições da pandemia – também levou ao aumento do consumo de água. Segundo o Guardian, cidades como Barcelona (um dos destinos de topo europeus), aumentaram o seu consumo de água em 10%. Citada pelo jornal britânico, Nuria Hernández-Mora, co-fundadora da organização não governamental Nova Cultura de Água, salientou que "isto vai ser o novo normal e, no entanto, continuamos a permitir o aumento do consumo de um recurso que não temos e que está a tornar-se escasso".
Itália. Um Pó seco. Este ano também vai ser o mais quente e mais seco desde que há registos em Itália. O fluxo do Pó, o maior rio de Itália, com uma extensão de 652 km, caiu para um décimo do habitual, com o nível da água 2 metros abaixo do normal. Uma emergência de seca vigora em cinco regiões da rica região norte. As cidades e vilas do Lago Maggiore estão a ser abastecidas por camião. O arroz para risotto, cultivado no vale do Pó, está ameaçado.
Por causa do baixo caudal do rio, as zonas alagadas acabam invadidas pelas águas salgadas que provêm do mar Adriático, onde o rio desagua. 60% do arroz do norte de Itália está em perigo. A produção de energia hidroelétrica, devido ao baixo caudal dos rios, caiu em 40% comparado com o ano anterior. "Não sei o que temos que fazer para tornar a crise climática um tema político", disse ao Guardian Luca Mercalli, o presidente da Sociedade Meteorológica Italiana.
"Nenhuns dados semelhantes dos últimos 230 anos se comparam com a seca e calor que estamos a viver este ano. E depois temos tempestades. Estes episódios estão a aumentar de frequência e intensidade, exatamente como previsto por jornalistas especializados em clima nos últimos 30 anos. Porque continuamos a esperar para fazer disto uma prioridade?", questionou.
Alemanha. O carvão do Reno. Usado também como via mercante para transportar matérias-primas entre os portos de Antuérpia e Roterdão e as zonas industriais alemãs, essa utilização está em risco no Reno. Os barcos estão a operar a uma capacidade de um quarto para evitar encalhar no leito do Reno. E isto torna-se mais preocupante para o governo de Olaf Scholz quando é através do Reno que os barcos devem conduzir o carvão para as centrais reativadas para substituir o gás que vinha da Rússia.
Suíça. Menos gruyère em 2023. A indústria do leite está a sofrer um rude golpe, com as pastagens nas zonas mais altas já secas, o que nunca acontece nesta época do ano. A produção de leite e queijo – um dos principais produtos de exportação suíços – será afetada. Haverá menos gruyère nos supermercados europeus no próximo inverno.
Países Baixos. Medidas de precaução. As autoridades declararam oficialmente crise de água na semana passada. Por enquanto só foi pedido aos holandeses que reflitam se precisam mesmo de encher a piscina e lavar o carro.
Bélgica. O mês mais seco desde 1855. O país prepara-se para a primeira vaga de calor de código laranja do ano, com máximas entre os 28 e os 35 graus. Será a semana mais quente de 2022. Segundo os dados do Instituto Meteorológico Real, citados pelo jornal Le Soir, este mês de julho foi o mais seco desde 1885.
As turfeiras (zonas alagadiças com grande potencial ecológico) da Flandres estão em risco de secar. Os canais e os rios belgas estão também em perigo, com muitos animais a morrer devido também ao facto, sublinhado pelo Guardian, de que muito do que resta de líquido no leito dos rios é esgoto e descargas industriais. Na zona das Ardenas as pessoas foram proibidas de encher piscinas.
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