Coronavírus. Japão "violou todos os princípios de controlo de infeções"
Coronavírus. Japão "violou todos os princípios de controlo de infeções"
São cada vez mais as vozes críticas em relação à forma como o Japão tem gerido os casos de infeção por coronavírus, no cruzeiro Diamond Princess, onde, esta quinta-feira, morreram duas pessoas - um homem de 87 anos e uma mulher de 84, ambos de nacionalidade japonesa.
As duas vítimas mortais incluíam-se num grupo de 621 passageiros contagiados pelo vírus, num navio que foi posto sob quarentena no início de fevereiro, com 3700 pessoas a bordo. O número de infetados no navio, que se encontra no porto de Yokohama desde então, faz do país o segundo com mais casos identificados, a seguir à China, epicentro do vírus.
Entre os críticos à gestão feita à situação dos passageiros do navio, está Kentaro Iwata, um especialista japonês em doenças infecciosas da universidade nipónica de Kobe, que visitou o Diamond Princess na terça-feira.
Kentaro Iwata esteve no barco um dia antes do governo do Japão autorizar o desembarque de alguns dos passageiros e mostrou-se chocado com as condições que viu, dizendo que as mesmas violaram "todos os princípios de controlo de infeções" e descrevendo as condições que encontrou como "completamente caóticas".
"Não foi feita distinção entre a zona verde, livre de infeção, e a zona vermelha, potencialmente contaminada pelo vírus", exemplificou Iwata num vídeo partilhado no YouTube, na terça-feira à noite, e citado pela revista 'Science'.
Em declarações à mesma publicação, na quarta-feira, o especialista afirmou esperar que o vídeo de 12 minutos que gravou com detalhes sobre a gestão ao surto no navio possa contribuir para mudanças e uma abordagem menos burocrática do problema para prevenir a infeção.
Por outro lado, sublinha que, na ausência de estudos efetuados a bordo, "não há forma de dizer se as infeções secundárias aconteceram [ou não] depois de ter sido imposta a quarentena".
Esta sexta-feira foi noticiado que dois australianos repatriados do cruzeiro Diamond Princess, foram contagiados com o Covid-19.
As duas pessoas foram isoladas, juntamente com outras quatro, à chegada ao centro de quarentena em Darwin, no norte da Austrália, depois de terem manifestado problemas respiratórios e febre, indicou, em comunicado, o responsável sanitário do Governo australiano, Brendan Murphy.
Uma escolha difícil
A decisão de manter 3700 passageiros em quarentena num navio de cruzeiro, depois de serem conhecidos os primeiros casos de infeção a bordo teve como objetivo impedir a entrada do vírus em território japonês. Mas o método escolhido pelas autoridades nipónicas não terá sido o mais eficaz.
Para alguns investigadores, ouvidos pela revista 'Science', como Simon Clarke, microbiologista da Universidade de Reading, no Reino Unido, teria sido preferível acomodar os passageiros e a tripulação do barco em terra, junto ao porto, durante os 14 dias de quarentena.
Contudo, o investigador admitiu que acomodar 3700 pessoas, durante duas semanas, sob observação de médicos especializados, "poderia ter sido um obstáculo significativo", sobretudo se o vírus se tivesse espalhado para a população local.
Informação retida
Outras das críticas dos cientistas à resposta das autoridades japonesas, prende-se com a demora na revelação de dados epidemiológicos sobre os passageiros do navio e que poderiam ter ajudado noutras situações do género.
As autoridades japonesas recolheram dados que vão analisar e garantiram que serão publicados em "breve", segundo afirmou, na segunda-feira, Takaji Wakita, director-geral do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas japonês.
O atraso, porém, pode ter comprometido o avanço dos esforços mundiais para compreender a doença, considera Hitoshi Oshitani, virologista especialista em saúde pública, da Universidade de Tohoku, também citado pela 'Science'. O especialista diz ter pedido às autoridades de saúde japonesas para "partilharem" o que sabem com "a comunidade internacional o mais rápido possível".
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