Cidadãos finlandeses recebem treino militar para responder a ameaça russa
Cidadãos finlandeses recebem treino militar para responder a ameaça russa
Numa ilha ventosa ao largo da costa de Helsínquia, finlandeses de todas as camadas sociais passaram o último fim de semana em treino militar, com uma vaga de voluntários numa altura em que o país quer juntar-se à NATO para se proteger da Rússia.
Embora o exército finlandês tenha apenas 13 mil profissionais, o país de 5,5 milhões de habitantes tem um número impressionante de 900 mil militares de reserva, com um exército em tempo de guerra capaz de atingir um total de 280 mil soldados. O símbolo de um país que sempre quis estar preparado para o pior.
Para muitos dos presentes na ilha militar de Santahamina no sábado passado, 14 de maio, a invasão russa da Ucrânia foi uma chamada de atenção. "Foi o último sinal de que se tem de estar preparado na vida. Que se algo acontece, é preciso estar mais equipado para uma crise", disse Ville Mukka, engenheiro de 30 anos, à AFP.
Inscrições em programas de defesa dispararam após a guerra
Uns com equipamento de camuflagem, outros com capacetes cobertos de ramos, Ville e os seus camaradas aprendem a lutar corpo a corpo, a detetar explosivos ou a mover-se de forma coordenada na floresta.
Na primeira semana da guerra na Ucrânia, as inscrições em programas de defesa voluntária dispararam na Finlândia. "O interesse tem sido cerca de dez vezes maior do que nos anos normais", revelou Ossi Hietala, 29 anos, representante da MPK, a Associação Nacional de Formação de Defesa da Finlândia.
Em vez dos 600 voluntários por semana, o número aumentou para 6.000, levando o Estado finlandês a pagar à MPK mais três milhões de euros.
Independente da Rússia desde 1917 e depois invadida pela União Soviética em 1939, a Finlândia esteve em guerra com o poderoso vizinho durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial, acabando numa aliança de facto com a Alemanha nazi.
O conflito resultou na perda de uma grande parte do seu território, após décadas de neutralidade forçada sob o olhar de Moscovo durante a Guerra Fria.
"Não é preciso recuar muito na história para encontrar pontos de convergência" com a guerra na Ucrânia, o que é bastante preocupante", afirmou Tuomas Vare, outro voluntário de 43 anos. "Essa é sem dúvida a razão pela qual sou mais ativo na minha formação".
Mais de 75% dos finlandeses apoiam adesão à NATO
A Finlândia, no domingo, e a Suécia, na segunda-feira, anunciaram a sua adesão "histórica" à NATO como uma consequência direta da invasão russa da Ucrânia, virando a página sobre décadas de não-alinhamento militar.
Desde o início do conflito na Ucrânia, a Finlândia viu o número de apoiantes da aliança ocidental triplicar em poucos meses, atingindo agora um pico superior a 75%.
"Penso que a Finlândia, como país pequeno, não tem outra forma razoável de se defender a si própria e à sua soberania. Eu sou a favor da aliança", garantiu Ville Mukka.
Moscovo expressou a sua irritação com os planos de adesão dos dois países nórdicos, ameaçando uma "resposta".
Os cursos de formação da MPK, que oferecem uma vasta gama de cursos para preparar os cidadãos para as crises, são frequentados por 40 mil pessoas por ano. A maioria dos participantes são militares de reserva que querem voltar a treinar as suas competências.
A formação vai desde a leitura básica de mapas e acampamentos florestais até ao treino de atiradores furtivos e armas anti-tanque. "Os que vêm são apenas finlandeses comuns. Estas pessoas querem vir e desenvolver as suas competências, treinar e aprender coisas novas", explicou Ossi Hietala da MPK.
Serviço militar obrigatório para os homens
Ao contrário da maioria dos países europeus, a Finlândia baseia a sua defesa no serviço militar obrigatório.
Todos os homens entre os 18 e os 60 anos estão sujeitos ao recrutamento, enquanto as mulheres estão sujeitas ao serviço militar numa base voluntária.
Todos os anos, mais de 20 mil jovens recrutas fazem o seu serviço, que varia de seis meses a quase um ano. Depois disso, entram nas reservas.
"Os militares de reserva representam 96% das forças em tempo de guerra, pelo que são uma parte muito importante da defesa militar finlandesa", apontou Hietala. "Uma proporção muito grande da população adulta teve formação militar em algum momento das suas vidas".
Siga-nos no Facebook, Twitter e receba as nossas newsletters diárias.
