Cada país tem os governantes que merece
Cada país tem os governantes que merece
Protestos este sábado nas 20 maiores cidades brasileiras. Antes limitados a gritar das suas varandas e bater em tachos e panelas, os manifestantes desta vez meteram-se nos carros e foram em caravana pelas ruas. Gritavam pela destituição do presidente Bolsonaro, responsável pela criminosa gestão da pandemia: 218 mil mortos, em segundo lugar mundial no macabro ranking (apenas atrás dos EUA). No mesmo dia, surgiram notícias de que Bolsonaro pode vir a ser julgado por crimes contra a Humanidade – a destruição da Amazónia e matança dos seus habitantes indígenas – no Tribunal Internacional da Haia.
Abrindo tardiamente os olhos para a total incompetência, a malvadez, a proto-ditadura, ou a crise económica que já criou 15 milhões de desempregados (com tendência para subir), muitos dos que exigem hoje o despedimento imediato do presidente são seus ex-apoiantes. Há pouco mais de dois anos, com plena consciência de quem era Bolsonaro, 58 milhões votaram num neofascista. Em Manaus a percentagem que obteve foi de 65% dos votos; em Rio Branco, outra capital estadual da floresta, chegou aos 83%. É um pouco difícil sentir pena por quem só está a colher as ervas daninhas que semeou.
Dizem que o Brasil é uma espécie de Portugal à solta, o que significa que tudo ali é amplificado: as coisas boas são muito boas, as más são radicalmente más. Em vez de eleger uma sátira neofascista, os portugueses são um pouco menos tontos – apenas insistem em votar em políticos que mantêm o status quo da corrupção e do marasmo.
Já tinha acontecido nas últimas legislativas, onde nem a avalanche de casos de desvio de fundos públicos, evasão fiscal, subornos, tráfico de influências e lavagem de dinheiro (a lista é longa: Face Oculta, operação Marquês, operação Montebranco, operação Lex, saco azul do BES, caso BPN, Vistos Gold, Orlando Figueira, operação Fizz, e-toupeira, etc.) impediu os contribuintes de reeleger de forma confortável o antigo número 2 de José Sócrates como primeiro-ministro.
No domingo, no pico de uma pandemia gerida de forma totalmente irresponsável, com uma crise económica brutal ao virar da esquina, os portugueses reelegeram (com mais de 60% dos votos) o outro máximo representante deste lamentável pântano em que o país se encontra (enquanto outros 12% desperdiçaram o seu voto num imitador de Bolsonaro que ajuda criminosos ricos a esconderem o dinheiro em off-shores).
Marcelo e Costa estão bem um para o outro. Entenderam-se para substituir a incómoda procuradora-geral, e assim terminar de paralisar a justiça. Aficionados dos jogos políticos, entenderam-se para que cada um assegurasse a reeleição do outro, mesmo contra os seus próprios parceiros de partido. O filão do turismo secou, e nem assim se conhece de um deles alguma ideia estratégica, um rumo para o país.
Agora vem aí uma bonança de dinheiros europeus, concedidos a Portugal pela Europa na ingénua convicção de vão servir para a recuperação e a reinvenção da economia. Na verdade serão distribuídos pela meia-dúzia de amigos lisboetas do costume... e mesmo assim, a cada oportunidade, os portugueses dizem nas urnas: "mais do mesmo, por favor".
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