Alexei Navalny, nacionalista xenófobo ou liberal pró-Ocidente?
Alexei Navalny, nacionalista xenófobo ou liberal pró-Ocidente?
Os imigrantes muçulmanos são iguais a baratas e a solução é armar os cidadãos para combater esta praga. Quem o disse foi Alexei Navalny, a estrela mediática da oposição russa, em 2007. Quando diferentes Governos, em conjunto com a União Europeia, procuram evitar o crescimento de fenómenos de extrema-direita há sinais equívocos em relação à dissidência interna na Rússia.
Alexei é de certa forma mais popular no Ocidente do que na Rússia, onde a sua incrível história - e boa aparência - capturou a imaginação do público. As suas inclinações nacionalistas e a sua anterior propensão para fazer comentários racistas sobre russos não eslavos são menos conhecidos fora do seu país de origem, escrevia o New York Post no fim de janeiro.
Navalny foi condenado na terça-feira a três anos e meio de prisão apesar dos protestos que ocuparam as principais páginas de jornais em todo o mundo. O juiz decidiu que o opositor russo - que regressou à Rússia no mês passado, depois de ter recuperado na Alemanha de um envenenamento – violou a liberdade condicional, por não ter comparecido às autoridades competentes no ano passado.
Países como os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Luxemburgo e França condenaram a decisão dos tribunais russos. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, exigiu a "libertação imediata" do dissidente e a Amnistia Internacional afirma que a Rússia destruiu o que restava de justiça e direitos humanos naquele país.
Contudo, para além da imagem de principal opositor de Vladimir Putin, pouco se sabe de Alexei Navalny e do seu projeto político. Sobre o que quer e defende para a Rússia em alternativa à liderança atual. Do que é conhecido, o arrojado dissidente de 44 anos, cabelo loiro e olhos azuis ficou famoso depois de denunciar o Presidente russo e de ter sido envenenado e levado para a Alemanha onde terá sido tratado.
Até a batalha pelo relato do envenenamento é motivo de disputa política. A Rússia alega que nada teve a ver com o caso e que não faria sentido uma vez que o principal suspeito seriam os serviços secretos russos. O Kremlin afirma que a Alemanha se recusa a entregar as provas de como houve de facto envenenamento. Do outro lado, os apoiantes de Navalny asseguram que foi uma tentativa de assassinato para arredar o opositor do caminho.
Um nacionalista xenófobo ou liberal pró-ocidental?
Alexei Navalny entrou de cabeça na política russa em 1999. É um ano chave. É o último de Boris Ieltsin à frente do Kremlin e o primeiro-ministro é Vladimir Putin, que no ano seguinte será pela primeira vez Presidente russo. Navalny opta por entrar no Yabloko, partido liberal, com algum peso no espetro político. Mas no fim de 2007 o jornal russo Gazeta noticiava a expulsão do jovem daquela formação política por danificar a imagem do Yabloko. Porquê? "Pelas suas atividades nacionalistas".
Foi então que decidiu formar o seu próprio partido, Narod, de posições nacionalistas e anti-imigração. Também por essa altura, em 2010, Alexei Navalny recebeu uma das bolsas de estudo do Programa Maurice R. Greenberg da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que procurava formar líderes globais. Foi então que se começou a apresentar como um ativista anti-corrupção e a denunciar o mau uso de dinheiros públicos.
Em 2013, teve um bom resultado na corrida à Câmara Municipal de Moscovo. Mais de 27% dos eleitores que acorreram às urnas optaram pela candidatura de Navalny, dando-lhe o segundo lugar. A partir de então, teve vários embates com a justiça que o acusou de enriquecimento ilícito e fraude. O opositor alegou estar a ser vítima de perseguição política. Ao longo da sua carreira política foi detido várias vezes também por organizar protestos sem autorização e passou a ser visto como um ativista dos direitos humanos e da democracia.
Com um canal no Youtube que publica trabalhos de investigação sobre alegados crimes de corrupção, Navalny lançou um vídeo sobre o "palácio secreto" de Putin que foi visto até ao momento por 108 milhões de vezes. Nele, fala de um enorme complexo luxuoso de mil milhões de dólares no Mar Negro que terá sido pago com dinheiro sujo e onde Putin faria enormes festas.
Contudo, atraídos pelo conteúdo da denúncia, vários órgãos de comunicação social deslocaram-se ao local e descobriam que o palácio afinal não está sequer terminado. Por dentro, o edifício ainda está em obras. De acordo com a BBC, o palácio não pertence a Putin. O dono é o multimilionário Arkady Rotenberg.
No plano político, Alexei Navalny é apresentado como o principal opositor a Vladimir Putin. Ou seja, a alternativa à gestão de mais de duas décadas do atual Presidente. Mas na verdade nas últimas eleições o segundo melhor colocado a seguir a Putin foi o candidato do Partido Comunista com 11,77%. Em terceiro, ficou o líder nacionalista russo Vladimir Zhirinovsky com 5,65% dos votos. As candidaturas mais identificadas com as posições ocidentais não conseguiram, juntas, alcançar mais do que 2,73%.
Poderia pensar-se que Navalny teria a capacidade de aglomerar o voto de protesto mas a verdade é que o Levada Center, uma organização independente de sondagens, fez um estudo questionando os inquiridos sobre que figura política russa lhes merecia mais confiança. Entre novembro de 2017 e setembro de 2020, Alexei Navalny nunca ultrapassou os 5%.
Em 19 de setembro de 2007, o famoso opositor russo fez um dos seus vídeos mais polémicos. Estava ainda no partido nacionalista Narod. Nele, compara imigrantes muçulmanos a insetos e defende o porte de armas de civis para resolverem o problema. Atualmente, o vídeo continua na sua página no Youtube. Questionado dez anos depois pelo The Guardian sobre se se arrependia do que disse respondeu que não.
O Contacto tem uma nova aplicação móvel de notícias. Descarregue aqui para Android e iOS. Siga-nos no Facebook, Twitter e receba as nossas newsletters diárias.
