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A fuga ao gás e petróleo russos pode acelerar as alterações climáticas
Mundo 4 min. 08.06.2022 Do nosso arquivo online
Acordo de Paris

A fuga ao gás e petróleo russos pode acelerar as alterações climáticas

Acordo de Paris

A fuga ao gás e petróleo russos pode acelerar as alterações climáticas

Foto: Vitaly Vlasov / Pexels
Mundo 4 min. 08.06.2022 Do nosso arquivo online
Acordo de Paris

A fuga ao gás e petróleo russos pode acelerar as alterações climáticas

Telma MIGUEL
Telma MIGUEL
Prevê-se uma nova década de combustíveis fósseis, numa altura em que o mundo deveria estar a descarbonizar para cumprir o Acordo de Paris de não ultrapassar os 1.5ºC de aquecimento. O alerta é da conceituada Climate Action Tracker.

Na sequência da invasão da Ucrânia, a pressa para criar novas infraestruturas de gás para substituir o fornecimento russo poderá encerrar o mundo num aquecimento irreversível — ou criar infindáveis "elefantes brancos". A análise é do Climate Action Tracker (CAT), uma instituição científica que estuda as emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial. A análise foi apresentada esta quarta-feira em Bona, na Alemanha, na primeira reunião das Nações Unidas para preparação da COP-27 — o grande encontro sobre alterações climáticas que este ano se vai realizar em novembro, em Sharm El-Sheikh, no Egito.


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A UE paga 100 mil milhões de euros por ano à Rússia em combustíveis fósseis, mas o plano apresentado pela Comissão é para poupar, comprar a outros fornecedores e mudar para as renováveis mais depressa do que previsto. Por causa de Putin, dizem, em 2030, 45% da energia será verde.

Na COP-26, em Glasgow, as 193 nações da ONU comprometeram-se a reduzir as emissões com efeitos de estufa em pelo menos 50% em 2030, mas esse objetivo, segundo os cálculos da CAT, é cada vez mais uma miragem. E a guerra na Ucrânia está a tornar ainda mais difícil fazer com que as promessas de Glasgow correspondam ao que está a acontecer na realidade. Uma subida de temperatura de 1.5ºC (acima dos níveis pré-industriais) porá em causa a estabilidade do planeta e ameaçará a vida na Terra, segundo o consenso científico.

Uma nova “corrida ao ouro” pelos combustíveis fósseis

O CAT analisou as respostas dos vários governos mundiais à atual crise energética e constatou que a maioria preferiu explorar mais combustíveis fósseis em vez de tomar outras medidas que poderiam “descarbonizar” as economias, refere-se num comunicado.

"Estamos prestes a presenciar uma "corrida ao ouro" por novas fontes de gás, gasodutos e infraestruturas para GNL (gás natural liquefeito), o que arrisca aprisionar-nos em mais uma década de altas emissões de carbono e coloca fora de alcance o limite de 1.5ºC de aquecimento global do Acordo de Paris", alertou Niklas Höhne, do NewClimate Institute, uma das duas organizações que criaram o CAT.

Especificamente, a análise revela que as novas infraestruturas de GNL que estão previstas para substituir o fornecimento de gás russo na Alemanha, Itália, Grécia e Países Baixos podem fazer com que os fornecimentos de gás natural aumentem mais um quarto em relação à quantidade que era usada antes de se bloquearem as importações de gás russo.


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Para além disso, 3 e 14 por cento das espécies terrestres estão ameaçadas de extinção.

Também o Canadá prevê acelerar a exportação de GNL e os EUA assinaram um acordo para aumentar o fornecimento de gás aos aliados da União Europeia. O Qatar assinou um contrato novo com a Alemanha e o Egito e a Argélia com a Itália.

Em África, antigos gasodutos estão a ser recuperados e países que anteriormente não exportavam quaisquer combustíveis, como o Senegal, são agora encorajados a exportar para a Europa.

A produção doméstica de combustíveis fósseis cresceu nos EUA, no Canadá, na Noruega, Itália e Japão e novos contratos a longo prazo estão a ser feitos no Reino Unido, na Alemanha, na Polónia e em Itália. 

Governos devem reduzir subsídios às petrolíferas, diz CAT

"O mundo falhou a enorme oportunidade que tinha para usar os pacotes de recuperação pós-pandemia para apoiar a descarbonização das suas economias", disse Bill Hare, CEO da Climate Analytics, organização cofundadora do CAT. "Isto tem que mudar, não podemos continuar a responder a choques de curto prazo, quer seja a pandemia ou os choques energéticos provocados por um conflito, tomando iniciativas que aumentam as emissões e ignorando a crise iminente das alterações climáticas", acrescentou.

Alguns governos aumentaram os seus planos para as renováveis como reação à crise provocada pela invasão da Ucrânia, lê-se no relatório. Foi o que aconteceu no Reino Unido e na União Europeia. Mas, em muitos casos, os planos ficam muito aquém do que seria necessário — ou até do que é já possível.


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As oito regiões e autoridades locais estão entre as 118 escolhidas em toda a UE para implementar projetos de adaptação às alterações climáticas.

E, em todo o lado, os governos estão a compensar os consumidores pelas altas contas de energia, mas muitos apoiam os comportamentos de grande consumo de combustíveis fósseis. Muitos países estão a cortar todas as taxas sobre a gasolina e gasóleo: é o caso dos EUA e de quinze outros países identificados pelo CAT, entre os quais se encontra Portugal.

O CAT recomenda que, quando os preços de energia começarem a cair de novo, os governos agarrem a oportunidade para reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis ou aumentar as taxas sobre as emissões de carbono como forma de reduzir emissões. O que seria mais aceitável para os consumidores, uma vez que levaria à baixa dos preços.

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