70% das medidas europeias de apoio não chegaram a quem mais precisou
70% das medidas europeias de apoio não chegaram a quem mais precisou
O momento é crítico, resumiu nesta tarde de terça-feira o vice-presidente da Comissão Valdis Dombrovskis na apresentação da recomendação semestral de politicas económicas para os países, conhecido como Semestre Europeu. Por ser um tempo difícil, disse, “os Estados-membros têm que coordenar as suas políticas e a nossa bússola para fazer isso é o Semestre Europeu”.
São três as prioridades que foram apresentadas: assegurar o fornecimento de energia; assegurar uma justa distribuição do “custo da crise”; garantir a implementação de políticas para debelar a inflação.
Em relação à energia, o plano RePower EU - que tem sido o porta-estandarte da renovação energética da União em face da crise provocada pela invasão da Ucrânia-, está na fase final das negociações entre o Conselho Europeu (que reúne os 27 países) e o Parlamento Europeu, e isso é a resposta da Comissão à crise energética.
Quanto à proteção dos mais desfavorecidos, Dombrovskis salientou que 70% das medidas de apoio económico não foram bem direcionadas, “o que significa que a maioria das medidas não está a ajudar aqueles que realmente precisam , e não estão focadas em reduzir a procura de energia”. Portanto, um falhanço no objetivo de garantir apoio social durante a crise criada pela guerra a leste.
Quanto às políticas para manter a inflação, a recomendação é que “a política fiscal dos países se mantenha neutra”, para não provocar subidas dos preços dos bens.
Uma longa recessão pode ser evitada
Para o comissário da Economia, Paolo Gentiloni, a convicção é de que “estamos a viver uma contração a curto termo”, mas acredita que a UE vai conseguir “evitar uma longa recessão”. O desafio é coordenar as respostas em quatro dimensões interdependentes: justiça, produtividade, ambiente e sustentabilidade e estabilidade macroeconómica.
As recomendações do Semestre Europeu destinam-se aos 19 países da zona euro e para eles Gentiloni referiu que “enquanto se vai navegar um oceano de incertezas, vai ser preciso traduzir uma agenda comum em cinco recomendações muito direcionadas”.
A primeira recomendação aos países é que enquanto fornecem apoio aos mais necessitados (um número que a crise económica está a fazer crescer), os países não devem aumentar a carga fiscal.
Por outro lado, o investimento público - que pode ser feito com os Fundos de Recuperação e Resiliência e com os restantes fundos da UE como o RePower EU e o fundo de Coesão -, deve ser mantido. O crescimento de salários deve ser aplicado para os que ganham menos.
Em quarto lugar, o apoio a empresas viáveis por causa dos elevados preços da energia deve ser temporário e bem direcionado. Por último, na zona euro deve manter-se o fluxo de crédito para a economia e fortalecer a monitorização do risco.
1,3% do PIB para pagar a crise da energia
De acordo com o que está previsto no relatório de outono do Semestre Europeu apresentado esta terça-feira, o custo das medidas de contrabalanço à subida dos preços da energia equivale a 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto) dos países da zona euro e em 2023 será de 0,9 % se as medidas não forem estendidas aos 12 meses do próximo ano. Se se continuarem a aplicar “o custo total poderá chegar a 2%, muito mais alto que em 2022”.
O oceano de incertezas de que falava o comissário europeu da Economia tem muito a ver com a duração da guerra e a chantagem que Putin vai conseguir continuar a fazer sobre a União Europeia. Ou não. Na eventualidade de os países terem que continuar a apoiar cidadãos e pequenas empresas “há um risco de que as políticas fiscais se tornem mais ‘expansionárias’ do que o atualmente projetado”, podendo por isso ter o efeito de aumentar a inflação.
No meio das muitas dificuldades que se preveem, Gentiloni salienta que há um lado positivo: “Todos os países planeiam investimentos públicos para a transição verde e segurança energética, inclusive usando fundos do Fundo de Recuperação e Resiliência”. Segundo as previsões, em 2023 “todos os países vão manter ou aumentar o investimento público e isto é um grande feito em relação a crises anteriores”.
A guerra na Ucrânia destruiu o aumento de salários: 3,3% de perda
Depois da covid-19, o mercado de trabalho europeu “recuperou com sucesso e no segundo semestre deste ano observámos uma taxa de emprego muito alta e que constitui um record”, disse na tarde desta terça-feira o comissário para o Emprego, Nicolas Schmit.
Mas, “temos que nos manter vigilantes”, defendeu. Por causa da guerra de agressão da Rússia, “o abrandamento económico, o aumento dos preços de energia e os estrangulamentos das redes de abastecimento trazem sérios riscos sobre o mercado de trabalho".
No entanto, algo de bom aconteceu: “A percentagem dos jovens entre os 15 e os 19 anos que não estão nem empregados nem a estudar diminuíram de 13,2% em 2021 para 11,6% em 2022”. No geral, o desemprego juvenil diminuiu mas ainda existe o desafio de “encontrar as medidas adequadas”, para baixar esse valor de 11,6%.
A maior preocupação do mercado de trabalho, segundo Schmit, continua a ser a falta de competências. “As vagas por ocupar duplicaram em setores chave desde o começo deste ano. Em áreas como programação informática ou construção e há falta de engenheiros”, o que significa que “à medida que aceleramos a transição verde temos também que acelerar o treino de trabalhadores nas novas competências”.
Neste momento, só 40% dos adultos têm competências digitais básicas, enquanto 90% dos trabalhos precisam de competências digitais específicas”
Quanto aos salários, cresceram em 4.1% em 2021, graças à recuperação económica pós covid, mas “esse crescimento está abaixo da inflação, pelo que na verdade houve um declínio dos salários reais.
Em verdade, os salários reais diminuíram em 3,3% no segundo trimestre de 2022 em comparação com o de 2021”. Esta erosão que a inflação provocou no poder de compra mostra, segundo o comissário luxemburguês, que “é necessário proteger as pessoas que ganham salários mínimos. E proteger os rendimentos dos mais vulneráveis”.
O Contacto tem uma nova aplicação móvel de notícias. Descarregue aqui para Android e iOS. Siga-nos no Facebook, Twitter e receba as nossas newsletters diárias.
