Xavier Bettel elogiado por afirmar que é homossexual na cimeira da Liga Árabe
Xavier Bettel elogiado por afirmar que é homossexual na cimeira da Liga Árabe
Foi uma das declarações mais polémicas da primeira cimeira entre a União Europeia e os líderes da Liga Árabe, que decorreu no Egito, mas quase teria passado despercebida, se não fosse a televisão alemã ZDF. "Não dizer nada não era uma opção", comentou o primeiro-ministro luxemburguês no Twitter, quando partilhou uma intervenção do jornalista Stefan Leifert, do canal alemão ZDF, relatando as declarações de Bettel.
Segundo o jornalista, citado pela AFP, Xavier Bettel aproveitou o discurso que fez na cimeira para dizer que é "casado com um homem" e que esta união seria "passível de pena de morte em numerosos países" presentes naquele encontro. Na Arábia Saudita ou nos Emirados Árabes Unidos, os homossexuais arriscam a pena de morte. A declaração foi recebida com "um silêncio gélido por alguns, uma alegria silenciosa para outros", comentou o jornalista alemão.
Recorde-se que Xavier Bettel casou em 2015 com o companheiro, o arquiteto belga Gauthier Desthenay, com quem vivia em união de facto desde 2010. O luxemburguês foi o segundo primeiro-ministro assumidamente homossexual na União Europeia (depois de Elio de Rupo, ex-chefe de Governo da Bélgica), e o primeiro na UE a casar-se com alguém do mesmo sexo.
A declaração de Xavier Bettel recebeu o apoio de vários ministros europeus. "Um grande senhor. Obrigado, Xavier Bettel", felicitou o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Michael Roth, no Twitter. A ministra das Finanças dinamarquesa, Kristian Jensen, elogiou igualmente a coragem do primeiro-ministro do Luxemburgo, que assume abertamente a sua homossexualidade.
Esta não é a primeira vez que Xavier Bettel defende os direitos dos homossexuais no estrangeiro. Em 2017, durante a cimeira "Pride and Prejudice", organizada pela revista The Economist para discutir os custos económicos e financeiros da discriminação das pessoas LGBT (Lésbicas, Gay, Bissexual e Transgénero), o primeiro-ministro luxemburguês arrancou gargalhadas numa vídeo-conferência transmitida em simultâneo para Londres, Hong Kong e Nova Iorque. Tudo porque contou que foi convidado a esconder o facto de ser homossexual quando visitou outro país, chamando "assessor político" ao seu companheiro. O caso passou-se há alguns anos, quando Bettel era deputado.
"Eu era deputado e tinha um encontro noutro país, e o meu companheiro - que é hoje o meu marido - ia ter comigo. E escrevi no formulário de acreditação que o meu companheiro viajava comigo. Perguntaram-me: 'Tem a certeza? Não pode escrever que é o seu assessor político, em vez de companheiro?'", contou Xavier Bettel. "Eu respondi apenas: 'Prefiro ter a fama de ser 'gay' do que acharem que tenho relações sexuais com todo o meu 'staff''".
Em 2013, a um mês de tomar posse como primeiro-ministro do Luxemburgo, Bettel disse ao site norte-americano Buzzfeed que "nunca escondeu" a homossexualidade, e brincou, recordando que uma política uma vez lhe disse que ele era "mais senhora ["lady", no original] do que ela". "Sou como sou e quero ser honesto comigo e honesto na política", disse então ao site norte-americano.
Já em 2012, o líder do partido democrático (DP) assistiu com o companheiro à cerimónia religiosa do casamento do grão-duque herdeiro com Stéphanie de Lannoy, na catedral do Luxemburgo, uma pequena revolução nos costumes num país conservador.
O Grão-Ducado, que já tinha desde 2004 uma lei que permitia a união de facto de casais homossexuais, tornou-se em junho de 2014 o 11º país da Europa a reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os primeiros casamentos foram celebrados em janeiro de 2015, altura em que a lei entrou em vigor. A proposta de legalizar o casamento homossexual já fazia parte do programa do anterior Executivo, liderado por Juncker, tendo ganho novo impulso com a chegada ao Governo de Xavier Bettel, em 2013.
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