Uma campanha alegre
Uma campanha alegre
“Se o crescimento económico fosse fantástico as pessoas não se iam embora”, disse o líder do PSD, Rui Rio, ao primeiro-ministro português, António Costa. O dirigente do maior partido da direita portuguesa garantiu que emigraram 330 mil portugueses entre 2016 e 2019, o equivalente à debandada de toda a população do Porto e de Viana do Castelo.
O número citado pelo líder da direita verificou-se não ser totalmente rigoroso, mas denuncia uma situação real com culpas dos dois partidos: entre 2011 e 2018, emigraram, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, mais de 846 mil portugueses. Um movimento migratório semelhante, na sua intensidade, com os anos 60 e 70 do século passado. Apesar de já não vivermos em ditadura, esta sangria é bastante grave: muitos dos imigrantes são das camadas mais jovens e qualificadas da população; e esta perda de gente dá-se num país cada vez mais envelhecido.
Em cerca de 45 anos de democracia, governados à vez por PS e PSD, os portugueses não conseguiram construir um projeto de desenvolvimento que permita aproveitar devidamente o jovens que o país forma e dar condições dignas de vida a toda a sua população. A democracia não rompeu devidamente com as desigualdades do modelo económico da ditadura.
Os processos económicos de globalização e integração europeia agravaram a situação ao remeterem Portugal para um lugar marginal na divisão internacional do trabalho. O país foi empurrado sobretudo para atividades que pedem mão de obra não qualificada, como em muitas áreas do setor do turismo; e conta com um tecido empresarial que aposta nos baixos salários como uma única estratégia de concorrência. No mundo da globalização e do domínio do capital financeiro, os resultados estão à vista: há empresários ricos com trabalhadores cada vez mais pobres. Portugal não consegue uma economia que dê uma vida digna às pessoas que aí vivem.
Dizia o célebre economista Keynes que “a longo prazo estamos todos mortos”. Mas as previsões demográficas para os próximos séculos, embora falíveis, garantem que do ponto de vista demográfico os portugueses arriscam-se a desaparecer mais depressa que outros povos da Europa.
Perante este quadro pouco animador há duas coisas que se impõem, também aqui nos portugueses do Luxemburgo, num momento em que Portugal está em campanha eleitoral: o que fazer para que seja possível um modelo de desenvolvimento que responda aos anseios das pessoas que vivem e trabalham em Portugal? E quais são as políticas necessárias para manter a riqueza cultural específica das diferentes populações portuguesas que trabalham em todo o mundo?
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