"Somos humanos e precisamos de nos abraçar", diz Juncker
"Somos humanos e precisamos de nos abraçar", diz Juncker
“Somos humanos e precisamos de nos encontrar, de nos tocar, de abraçarmos uns aos outros. Após a crise, espero que sejamos melhores”. Esta é a esperança do luxemburguês Jean-Claude Junker, antigo presidente da Comissão Europeia que em duas entrevistas, uma ao francês Liberation e ao luxemburguês Le Quotidien, critica a Alemanha e Holanda e aponta para a crise de solidariedade que atravessa a União Europeia.
Uma das provas da crise na união europeia é a decisão da vizinha Alemanha ter fechado as fronteiras à revelia do Luxemburgo, que é contra esta atitude como já declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros,Jean Asselborn.
“A decisão irrefletida da Alemanha de encerrar a sua fronteira é uma decisão que não tem em conta a convivência na região fronteiriça Sarre-Lorena-Luxemburgo. Temos de redescobrir a virtude de vivermos juntos. Sozinhos, nós não somos muito”, critica Jean-Claude Juncker.
Outro dos exemplos é a recusa da Holanda em apoiar a dinamização da economia dos países do sul da Europa, mais afetados pela crise sanitária, como a Itália através dos ‘coronabonds’, ou seja, de euro-obrigações.
"Bloquear a sua utilização porque teimosamente, ideologicamente, religiosamente, insistimos na aplicação de uma condicionante rigorosa é irresponsável", advertiu Jean-Claude Juncker ao Liberation. "Devemos utilizar o orçamento europeu como um instrumento de solidariedade reativo", acrescentou o luxemburguês.
Crise generalizada
A pandemia do novo coronavírus veio também pôr a descoberto uma das grandes lacunas na construção da união entre os estados-membros é a falta de poder da comissão ao nível da saúde pública europeia.
“Existe um defeito de construção na Europa. A Comissão Europeia não tem competência no domínio da saúde pública”, lembra o político em ambas as entrevistas. “As propostas nesse sentido foram rejeitadas em bloco pela maioria dos Estados-Membros aquando da adoção do Tratado de Lisboa em 2007. Assim, a ação da Comissão Europeia é atualmente extremamente limitada. A Comissão Europeia encontra-se numa situação em que só pode coordenar, o que é insuficiente no contexto da atual crise. Deve poder liderar, deve ter o direito de iniciativa, nomeadamente no domínio da saúde pública, que é, repito, a grande ausência do Tratado de Lisboa”, vinca Juncker na entrevista.
Na sua perspetiva, a Europa vai atravessar uma crise económica generalizada, em que “todos os países vão atingidos”. Uma crise diferente da de 2008, que afetou “de forma assimétrica” a Europa, como a Grécia com “dificuldades com a sua dívida pública”. Desta vez, nenhum país escapará a dificuldades porque este pandemia “é um caso de força maior”.
A favor dos 'coronabonds'
Por isso, o antigo presidente da comissão europeia defende a utilização dos coronabonds. “Os coronabonds permitiriam mutualizar a dívida que será causada pelos futuros investimentos que terão de ser maciços e que serão necessários para relançar a economia europeia. Não se trata de eliminar as dívidas públicas do passado, mas de permitir que os países afetados pela crise sanitária e os confinamentos invistam para sair da crise económica”, explicou Juncker ao Le Quotidien.
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