"Só em casos extremos as escolas serão colocadas em quarentena"
"Só em casos extremos as escolas serão colocadas em quarentena"
“Não faz sentido fechar as escolas e deixar os restaurantes abertos”, afirma o ministro da Educação, Claude Meisch, em entrevista exclusiva ao Contacto. A poucos dias do arranque do novo ano lectivo, o ministro revela todas as medidas que foram adotadas para garantir “o máxido de oportunidades para a educação e o mínimo de oportunidades para o vírus” nas escolas. Diaramente, todas as noites, será feita a análise dos estabelecimentos em que forem detectados casos positivos por uma comissão conjunta das autoridades sanitárias e o Ministério da Educação. Para depois decidir que medidas serão tomadas. Mas “só em casos extremos toda a escola será colocada em quarentena”.
Mas o paradigma de abordagem mudou: as medidas tomadas serão adaptadas à realidade de cada escola, deixando de ser aplicadas medidas iguais para todos os estabelecimentos, como acontecia até agora.
O ministro da Educação anuncia hoje as medidas para o próximo ano letivo.
“O máximo de oportunidades para a educação, o mínimo de oportunidades para o vírus” é a palavra de ordem neste regresso às aulas. Como é que vai concretizar essa máxima?
Construímos um plano de regresso às aulas, baseado na experiência que tivemos antes do verão. Em primeiro lugar, durante a fase do confinamento em que os alunos estiveram em casa, o que nos permitiu ter uma grande experiência com a aprendizagem à distância, com as ferramentas digitais, os conteúdos digitais. Claro que não podemos dizer que, em regra, tudo funcionou bem, Mas com base nessa experiência, neste momento, podemos prever a fórmula de aprendizagem à distância que poderá ser utilizada. Estamos preparados para proteger os alunos e os efetivos e queremos evitar que haja muitas crianças nas salas de aula.
Em segundo lugar, fizemos uma experiência, sobretudo, nas últimas semanas, antes das férias escolares, em que todos os alunos voltaram às escolas e analisámos a evolução da covid-19 nas escolas e estruturas de acolhimento. Analisámos sobretudo a origem das infeções. É muito claro que, quando há um certo número de infeções na população, encontramos também infeções no meio escolar. Mas a questão que colocamos é: Se estas infeções são produzidas na escola ou noutra estrutura eucativa? Ou se são produzidas em casa? A maioria das infeções acontece em casa. Analisando todas as informações chegámos à conclusão que só cerca de 11% dos contágios têm origem na escola e cerca de 40% acontecem em casa.
“A escola não é o local privilegiado para a contaminação com o vírus”.
Assim, a escola não é o local privilegiado para a contaminação com o vírus. O que resulta de todas as retrições e todas as medidas sanitárias que tomamos. O que nos mostra que essas medidas sanitárias conseguriam minimizar o risco de infeção nas escolas. Neste momento, revimos, reduzimos e intensificámos algumas medidas
A grande diferença na estratégia deste regresso às aulas, relativamente à utilizada antes das férias escolares é que, agora, vamos reagir de uma forma mais ajustada a cada realidade.
Até agora tínhamos as mesmas medidas sanitárias para as escolas de todo o país, seja os estabelecimentos frequentados pelos mais pequenos até aos estudantes, maiores de idade, que frequentam os últimos anos dos liceus.
“Se tivermos infeções detectadas nessa escola será imposto o uso da máscara na salas de aula”
O risco de transmissão é muito mais baixo para os adolescentes e temos muito mais alunos por turma nos liceus do que na escolas primárias. Por isso tomámos medidas suplementares para os liceus. Por exemplo, introduzir a obrigação de uso da máscara. O que significa que tínhamos que usar a máscara na escola, no corredor, no recreio e que só a podíamos tirar durante as aulas. Agora damos a possibilidade de impor o uso da máscara também durante as aulas, se a escola assim o decidir.
Se tivermos infeções detectadas nessa escola será imposto o uso da máscara, de acordo com um entendimento entre as autoridades de saúde e o Ministério da Educação. Existe uma segunda via: para os alunos adolescentes das classes do liceu, a partir da “quatrième”, existe a possibilidade de reduzir o número de alunos por turma para garantir um distanciamento social na sala de aula. E o grupo de alunos que ficará em casa, vai acompanhar as mesmas aulas, através de um “streaming” da aula transmitido em direto. Na prática, a aula é filmada e transmitida em direto para a casa do alunos.
No caso dos alunos que não tenham computadores?
Temos todas as instalações técnicas e os equipamentos, e encomendamos “tablets” e “laptops” suplementares para os casos em que haja jovens que não dispõem dos meios para seguir as aulas, esses equipamentos informáticos serão disponibilizados pelo ministério ds Educação.
Também temos uma certa experiència porque em muitos sítios que o sistema funcionou desta forma, e há muitos alunos vulnaráveis que ficaram em casa e seguiram as aulas.
Por isso dizemos que podemos minimizar o risco das infeções das escolas. Não podemos dizer que o risco é nulo, porque há muitos contactos sociais nas escolas, mas não será na escola o vector principal de transmissão do vírus entre os jovens.
Podemos dizer que as escolas são lugares seguros?
Pusemos a questão: “Será que haverá um momento em que estaremos novamente numa situação de fechar a escolas, ou fechar parcialmente a escola, ou fazer com que os alunos passem a ter semanas alternadas em casa? Atualmente podemos dizer que, se todas as outras actividades estão abertas, o comércio, os restaurantes, os locais público onde os jovens se podem encontrar, os locais em que fazem desporto, porque constatámos que as escolas são mais seguras e menos expostos ao covid-19, não faz sentido fechar os estabelecimentos de ensino.
Estamos disponíveis a retornar a um sistema, em que o modelo de aprendizagem seja de semanas em alternância para reduzir os efetivos e o número de estudantes que circulam nas escolas e reduzir o risco de infeção. Mas isso só faz sentido se houver um lockdown parcial de outras atividades sociais e económicas do país. Não faz sentido deixar os restaurantes abertos e fechar as escolas. Deixar as associações desportivas receber jovens e fechar as escolas.
Em França, pouco depois do arranque do ano letivo, cerca de 30 escolas foram encerradas por causa do aumento dos contágios. Poderá acontecer o mesmo no Luxemburgo?
Claro que haverá casos positivos e que serão acompanhados diariamente. Temos definido com as instâncias sanitárias, a inspeção sanitária e a direção-geral da saúde, três cenários diferentes. O primeiro é o caso de uma infeção isolada: se um aluno é o único positivo da sua turma, do seu grupo de amigos e da sua escola. Neste caso se tivermos fortes indícios que a infeção foi contraída fora da escola, em casa, não faremos quarentena. Mas vamos isolar a classe, ou o grupo de alunos no interior da escola para evitar que haja uma transmissão desse grupo para outros alunos. Neste casos todos os alunos devem usar a máscara e serão testados. Se testarem negativo tudo voltará à normalidade.
Se os resultados forem positivos e passarmos a uma situação em que há vários casos na turma e se não soubermos, ainda, se a infeção se produziu no interior da escola - mas constatarmos que há vários casos num grupo de alunos que frequentam regularmente, à mesma hora, a cantina escolar ou que se encontram na biblioteca - nesse caso, a turma em causa será colocada em quarentena e os alunos serão testados. Em caso de resultado negativo poderão regressar à escola.
O terceiro cenário aplica-se quando houver uma suspeição forte que a infeção se produziu na escola. Nesse caso, é evidente que parte das turmas e eventualmente uma parte da escola serão colocadas em quarentena.
E poderá ser colocada a totalidade da escola em quarentena?
Sim. Mas só em casos extremos a quarentena se aplicará a toda a escola. Se houver um círculo em volta de um caso positivo, seja aluno, seja professor, que esteja em contacto com toda a escola. Nesse caso todo o estabelecimento será colocada em quarentena. Não o podemos excluir, mas a regra geral é que, apenas uma ou parte das turmas sejam colocadas em quarentena e testadas. Todos os que tiverem resultado negativo poderão regressar à escola. Mas neste terceiro cenário decidiremos medidas suplementares.
Se tivermos a certeza que a infeção aconteceu no interior da escola ou estrutura de acolhimento, o caso será analisado uma comissão mista sanitária e educativa. Diaramente, todas as noites, será feita a análise dos estabelecimentos em que forem detectados casos positivos.
Que medidas suplementares poderão ser tomadas?
Poderemos impor o uso de máscara a todos os alunos na sala de aula. E quando tivermos uma suspeição que a infeção se deu na escola e informações sobre como aconteceu, por exemplo se soubermos que os alunos comiam juntos na cantina da escola ela deverá ser encerrada. Ou impomos outras medidas sanitárias mais rigorosas. Se tivermos a certeza que a infeção aconteceu durante a prática de desporto, agiremos nessa direção. Se os casos se verificarem apenas numa turma, que têm um número de estudantes muito elevado (em regra geral temos um número máximo de 29 alunos por turma) podemos colocar uma parte dos alunos a acompanhar as aulas à distância. São medidas possíveis mas que serão aplicadas de uma forma ajustada. Essa é a grande mudança de paradigma relativamente à estratégia anterior aplicada antes das férias escolares. Porque nessa altura eram adotadas medidas idênticas para todas s situações. Constatámos que há uma repartição geográfica diferente dos vírus no país. E encontramos a mesma repartição geográfica nas escolas. É claro que na cidade do Luxemburgo e nas aglomerações urbanas, no sul do país, em que há muito mais casos positivos há mais contágios nas escolas do que noutras regiões mais rurais . O que queremos é reduzir o funcionamento da educação, unicamente de forma mais ajustada onde há de facto um problema. E se quisermos modificar o ritmo de funcionamento das escolas, deveremos fazê-lo sem que haja uma grande repercursão negativa para os alunos.
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