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Regresso do lobo. Regras para uma coabitação pacífica no Luxemburgo
Luxemburgo 6 min. 31.01.2023
Natureza

Regresso do lobo. Regras para uma coabitação pacífica no Luxemburgo

O território de uma matilha de cinco a onze lobos pode estender-se a 200 ou 300 quilómetros quadrados.
Natureza

Regresso do lobo. Regras para uma coabitação pacífica no Luxemburgo

O território de uma matilha de cinco a onze lobos pode estender-se a 200 ou 300 quilómetros quadrados.
Photo: Sibila Lind
Luxemburgo 6 min. 31.01.2023
Natureza

Regresso do lobo. Regras para uma coabitação pacífica no Luxemburgo

Nadine SCHARTZ
Nadine SCHARTZ
Desde que a espécie está protegida por lei há cada vez mais lobos a aparecer. Mesmo no Luxemburgo já começam a ser avistados. Saiba o que fazer se encontrar um lobo e como proteger os seus animais.

Seja nos contos ou na mitologia, o lobo está sempre associado ao mal. Nos contos de Grimm, ele come a avó do Capuchinho Vermelho ou devora sete cabras. Na mitologia, reina a crença de que o homem pode fazer um pacto com o diabo e se transformar num lobisomem. Uma ideia deve ser "claramente rejeitada", declarou Laurent Schley, vice-diretor da Administração da Natureza, há alguns dias na prefeitura de Troisvierges, que estava quase lotada.  

 Os habitantes da comuna vieram em grande número. Em dezembro, uma ovelha foi morta nas proximidades - provavelmente após um ataque de um lobo. Não surpreende, portanto, que a presença do animal na região desperte tamanho interesse. Sob o mote “O regresso do lobo: realismo ou utopia?”, o biólogo detalhou o lento aparecimento do lobo, os possíveis conflitos, as regras de comportamento e o seu impacto na biodiversidade.  

O último lobo no Luxemburgo foi baleado em 1893

Para compreender bem a situação há que recuar no tempo. Originalmente, o lobo (Canis lupus) era a espécie dominante no mundo, entre todos os mamíferos. Um animal que desde cedo foi considerado um perigo para os humanos - principalmente devido à raiva - e para os animais das quintas. Demonizados, a caça do lobo foi permitida. No Luxemburgo, foi inscrito no Memorial em 1849. 

Mas a caça ao lobo levou ao extermínio da espécie. No Luxemburgo, o último lobo foi baleado e morto a 24 de abril de 1893, em Olingen. Agora estão a voltar, devido a uma diretiva da União Europeia (Diretiva Habitat), criada em 1992, que dita a forte proteção desta espécie.

No Luxemburgo, o regresso do lobo foi comprovado, pela primeira vez, em 2017, em Garnich. Desde então, foi avistado em Fouhren (2018), Niederanven (2020) e Wintger (2022). Mas foi apenas em dezembro passado que foi encontrada uma ovelha morta num pasto, sem que seja possível confirmar ou excluir a 100% a culpa de um lobo nesta morte. Contudo, nas buscas feitas por um cão especialmente treinado para detetar o cheiro do lobo este "detetive" reagiu aos seus odores nos arredores do local da morte.

"Cada vez mais os lobos aparecem no Benelux, assim como na Grande Região, por isso é importante informar previamente os cidadãos sobre esta situação", frisa Laurent Schley. Estima-se que 17 mil lobos vivam atualmente na Europa (excluindo a Rússia, Bielorrússia, Ucrânia e Moldávia).


O lobo instalou-se nas regiões fronteiriças do Luxemburgo durante vários anos.
Dois lobos instalam-se perto da fronteira do Luxemburgo
Era uma probabilidade até há pouco tempo, mas agora é uma certeza: dois lobos fixaram-se na região de Eifel na Bélgica e na Alemanha, não muito longe da fronteira do Luxemburgo.

De Hanovre a Bremerhaven passando por Niederanven

O lobo que matou três ovelhas em Niederanven, em abril de 2020, vive agora em Bremerhaven, na Alemanha, onde criou uma matilha. As análises de ADN revelaram que se trata de um macho nascido na região de Hanover. O lobo em questão, não tinha sido identificado nessa altura, mas os seus pais sim, faziam parte da matilha de Rodewalder. Presume-se que o animal tenha chegado a Niederanven através da Holanda e da região belga de Flandres.  

Nesta sua viagem, o animal percorreu várias centenas de quilómetros. Uma longa distância que não surpreende, considerando que uma matilha de cinco a onze lobos pode deslocar-se numa área de 200 a 300 quilómetros quadrados. Em termos de habitat, estes animais são muito adaptáveis ​​e podem viver em qualquer lugar, desde que haja comida suficiente. A sua dieta consiste principalmente da caça, de ovelhas, lebres, castores, ratos, ou ainda de raposas, texugos e guaxinins. O lobo “torna-se assim um importante regulador da floresta”, explica Laurent Schley. O problema, é que os animais das quintas, como ovelhas e cabras, também fazem parte de sua lista de caça.  

Neste contexto, o vice-diretor da Administração da Natureza referiu os potenciais conflitos que a presença do lobo pode gerar. Devido à sua ascendência comum, os cruzamentos destes animais com cães são bastante possíveis. Em áreas onde a presença do lobo esteja comprovada, é aconselhável manter o seu cão com a coleira, por segurança. Se entrar num território de lobos, pode ser considerado um concorrente.

Medidas de proteção do gado

Em muitos casos, os ataques ao gado não são causados por lobos, mas por outros animais. No entanto, a mera possibilidade de uma cabra ou ovelha ter sido morta por um lobo faz manchetes, e gera medo entre a população. Mas Laurent Schley também sabe que no local onde um lobo se instala, pode haver ataques a ovelhas e cabras. 

Para proteger os seus animais, os criadores podem adotar várias medidas, como “a compra de um cão de guarda, a instalação de cabos elétricos ou ter um pastor para a manada”. Estas medidas de proteção fazem parte do Plano de Ação e Gestão do Lobo, de 2017.

Em relação aos ataques de lobos a humanos, Schley refuta qualquer receio: “Segundo estudos, houve 21 acidentes com lobos não raivosos na Europa entre 1950 e 2000, quatro dos quais foram fatais”. Número bem reduzido em relação aos ataques de cães domésticos ao homem. Na Alemanha, registaram-se 39 ataques fatais de cães domésticos entre 1998 e 2007, e a cada ano, ocorrem 30 mil acidentes de mordidas de cães domésticos. Embora no Luxemburgo a raiva esteja radicada do país, desde há 15 a 20 anos, no domínio da vida selvagem, o vice-diretor da Administração da Natureza aconselha a consulta imediata a um médico em caso de uma mordida, para se vacinar contra a raiva.


Pas de panique : ce loup se tient sagement debout dans le zoo Hexentanzplatz, dans les montagnes du Harz
Ovelha encontrada morta em Troisvierges poderá ter sido atacada por lobo
Poderá ser agora a vez de Troisvierges testemunhar a passagem de um lobo pelo seu território.

Quanto ao medo dos caçadores profissionais de verem o seu trabalho reduzido devido à presença do lobo, Laurent Schley também exclui tal hipótese. “Há muito espaço para caçadores e lobos”, especifica, acrescentando que, “o lobo sozinho certamente não resolverá o problema do javali”. Pelo contrário, contribui para uma regulamentação adicional na floresta, ajudando a reduzir a população de caça e contribuindo assim para a proteção das florestas.

Para Laurent Schley, uma coisa é certa: “Quem encontra um lobo deve aproveitar esse momento único. Porque nem toda a gente tem a oportunidade de conhecer um animal assim". Um dos presentes no público naquela sessão confirma. Originário da Baixa Saxónia, na Alemanha, ele já encontrou cinco lobos. “Nunca houve problemas”, diz.

Artigo publicado originalmente no Luxemburger Wort e traduzido para o Contacto por Paula Santos Ferreira

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Contacto , Latina Radio , Foto: Anouk Antony/Luxemburger Wort
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