Quem não votar tem direito a subsídios no Luxemburgo?
Quem não votar tem direito a subsídios no Luxemburgo?
Apesar de ser, de longe, a maior comunidade estrangeira a viver no Grão-Ducado, os portugueses estão apenas no quinto lugar entre os estrangeiros quando o assunto é votar.
Este ano, pela primeira vez, todos os residentes do país poderão ir às urnas nas eleições locais, independentemente de viverem aqui há 20 dias ou 20 anos. A única coisa que têm de fazer é dirigirem-se à comuna onde residem e inscreverem-se nos cadernos eleitorais. Ou, ainda mais simples, ir ao site MyGuichet.lu e cumprir online a inscrição. Mas os números dos registos lusófonos são, até agora, embaraçosos.
O problema é português – e não apenas no Luxemburgo.
São pouco mais de 16%, os residentes portugueses que se inscreveram para votar até agora. Menos do que dinamarqueses, alemães, belgas e holandeses – menores em população, mas mais comprometidos com estas eleições.
Os lusófonos estão, por isso, a entregar de mão beijada aos outros a definição do futuro de cada município luxemburguês. Mesmo que sejam a comunidade maioritária, passam a mensagem de que pouco têm a acrescentar aos lugares onde vivem.
O problema é português – e não apenas no Luxemburgo. Há um par de semanas, a revista The Economist publicou o seu habitual ranking da qualidade das democracias mundiais. Até 2019, Portugal era avaliado como uma 'democracia plena'. A partir daí, caiu e apresenta-se como uma 'democracia com falhas'. Um dos principais critérios de avaliação é a participação eleitoral. E os portugueses têm números cada vez mais baixos.
A democracia é o pior de todos os sistemas, com exceção de todos os outros – cantava o Sérgio Godinho quando a ditadura acabou em Portugal. E está certo que muita gente que não se sente representada, que lamenta uma certa decadência na classe política, que vê pouco esforço na defesa dos interesses coletivos.
Mas eu penso que, ao escolher não votar, estamos a autorizar os piores dos piores a assumirem o controlo das nossas vidas. Mais vale votar em branco, ou nulo, do que não dizer nada. Não escolher é perigoso – porque deixamos os outros escolherem por nós.
O Luxemburgo foi generoso quando estendeu a mão aos residentes estrangeiros e pediu-lhes para decidirem o futuro dos lugares onde vivem. Chegar aqui envolveu anos de luta de muitos portugueses e luxemburgueses e cabo-verdianos e guineenses e brasileiros e gente das muitas nacionalidades que habitam o Grão-Ducado.
Ao recusarmos participar, também dizemos a este país que não fazemos nem queremos fazer parte de nenhuma solução. E é aqui que as coisas se tornam perigosas.
O crescimento de movimentos nacionalistas por toda a Europa criam discursos de ódio e exclusão sobre os residentes estrangeiros. Cada vez mais vozes se levantam contra os apoios sociais aos imigrantes. Há partidos que defendem isto: mesmo que tenhas trabalhado e descontado toda a vida, se ficares desempregado ou tiveres um acidente de trabalho, deves voltar ao teu país, para não pesares nos custos da balança do Estado. E estes partidos estão a crescer.
A resposta ao título desta crónica é por enquanto, sim, quem não votar ainda tem direito a apoios sociais. Mas o perigo de que se torne num não redondo está mais próximo do que possamos pensar.
Ao abstermo-nos mostramos que não contamos para nada. Está na hora de nos inscrevermos nas listas. Pelo Luxemburgo, sim, mas também por cada um de nós.
(Grande Repórter)
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