Quando os indispensáveis se tornam descartáveis
Quando os indispensáveis se tornam descartáveis
Com a ameaça do crescimento exponencial da pandemia, a estender-se também ao Luxemburgo, fica o alerta dos investigadores: é preciso cumprir todas regras para evitar que o aumento de contágios provoque um colapso do sistema de saúde do Grão-Ducado.
Nesta edição publicamos também as conclusões inquietantes de um relatório da OCDE sobre migrações. O estudo revela que os cidadãos nacionais correm menos risco de apanhar a covid-19 que os migrantes. Os migrantes têm maior probabilidade de contrair a covid-19 que os nascidos no Luxemburgo. A muitas outras formas de discriminação junta-se, agora, a de uma maior vulnerabilidade à covid-19.
"Os migrantes estão altamente expostos aos impactos da pandemia, pelo facto de estarem a trabalhar na linha da frente", revela o relatório da OCDE "International Migration Outlook 2020" que acaba de ser divulgado. Porque são muitos os migrantes que asseguram atividades indispensáveis para que a sociedade continue a funcionar, em tempos de pandemia. E que não podem ser desempenhadas em teletrabalho.
Só no setor da saúde, mais de metade dos médicos (55%) que trabalha no Grão-Ducado nasceu no estrangeiro, assim como um em cada três enfermeiros. Os migrantes são uma força de trabalho essencial à construção da sociedade luxemburguesa como reconhece o Governo. "O Luxemburgo não seria o país que é sem os imigrantes portugueses", afirmou recentemente o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean Asselborn, no âmbito de uma visita de trabalho a Portugal.
Dias depois, o mesmo governante luxemburguês, afirmou que se deveriam obrigar os Estados-membros da União Europeia a acolher os migrantes. Asselborn afirmou que a UE vai continuar a ser impactada por mais crises migratórias, daí ser necessário que o novo pacto europeu sobre esta matéria tenha um "instrumento" que torne o acolhimento de migrantes "obrigatório", caso contrário, não vai funcionar.
Mas o relatório da OCDE lança o alerta: a covid 19 está a colocar em risco as migrações e o progresso na integração dos migrantes. Só nos primeiros seis meses deste ano, o número de vistos e autorizações atribuídos caiu para quase metade (46%). É a maior queda alguma vez registada. E os números não vão ficar por aqui. A OCDE prevê que a quebra atinja os 72% até ao final do ano. E nada deverá voltar a ser como antes.
"Há fortes sinais que a mobilidade dos migrantes não voltará aos níveis anteriores à pandemia", pode ler-se no documento. Diminuição da procura por parte dos empregadores, fortes restrições na circulação, generalização do teletrabalho nas profissões mais qualificadas e ensino à distância são alguns dos fatores que explicam esta realidade. Mas a sociedade europeia não pode dispensar a contribuição essencial dos migrantes.
"Os migrantes continuam a desempenhar um papel económico importante para o crescimento económico e inovação, assim como a responder rapidamente às mudanças dos mercados de trabalho", sublinhou o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, no lançamento do relatório. Agora é urgente assegurar a integração efetiva destes migrantes nos países de acolhimento.
Amigos improváveis
Uma amizade improvável que atravessa continentes é o destaque desta semana do Contacto. O jornalistas Ricardo J. Rodrigues descobriu o melhor amigo da adolescência do Presidente da Coreia do Norte. É um emigrante português, cresceram juntos até aos 16 na Suíça e reencontraram-se adultos em Pyongyang. João Micaelo, cozinheiro português é o melhor amigo de King Jong-un.
Na edição desta semana falamos também do risco do crescimento exponencial da covid-19 no Luxemburgo. Traçamos um quadro das recentes medidas aprovadas pelo Governo e publicamos as conclusões de um relatório do Research Luxembourg que alerta que se poderão atingir os 1.400 casos diários nas próximas semanas, no Luxemburgo. Para que o sistema de saúde não entre em colapso, avisam os investigadores, é essencial cumprir à risca todas as regras.
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