Portugueses no Luxemburgo mais indecisos quanto a regressar a Portugal
Portugueses no Luxemburgo mais indecisos quanto a regressar a Portugal
Os portugueses que emigraram para o Luxemburgo são os mais indecisos em relação a um futuro regresso ao país de origem. Esta é uma das conclusões da primeira análise aos dados obtidos através de um inquérito, que está a ser promovido pelo CICS.Nova.Instituto Politécnico de Leiria, pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e pelo CIES, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.
Sob o tema “Emigração e Retorno. Expetativas de regresso de emigrantes portugueses”, uma equipa investigadores das duas instituições comparou as comunidades de quatro países europeus que são destinos de acolhimento da diáspora portuguesa: Reino Unido, França, Suíça e Luxemburgo. Em todos eles se verificou a tendência comum da maioria dos inquiridos pretender regressar a Portugal, mas também algumas variações de comunidade para comunidade.
Os dados foram obtidos através de um inquérito enquadrado naquele projeto de investigação e realizado de forma presencial, online, telefónica e com recurso à internet e redes sociais. Responderam 2.349 portugueses residentes no estrangeiro, que emigraram a partir do ano 2000, sendo que as respostas analisadas nesta síntese são relativas apenas às dos residentes num daqueles quatro países, selecionados para uma abordagem mais aprofundada, e correspondentes a um total de 1.126 respondentes.
À semelhança de estudos anteriores, este inquérito mostrou também que “o regresso a Portugal constitui a expetativa mais exteriorizada pelos inquiridos (44,6%), seguindo-se a indecisão em relação ao projeto migratório futuro (27,7%)”, refere o texto que acompanha os dados e aos quais o Contacto teve acesso.
Os portugueses que emigraram para o Luxemburgo, por exemplo, são os que manifestam maior indecisão quanto a retornar ao país de origem, por comparação com os restantes países analisados, correspondendo a quase um terço (29,3%) dos inquiridos da comunidade lusa no Grão-Ducado.
Já no que respeita à intenção de regresso, ela atinge a sua maior expressão entre os portugueses residentes na Suíça (52,6%). Em contrapartida, é entre os que emigraram para o Reino Unido que o desejo de permanecer é maior, com 28,1% dos portugueses aí residentes a apontarem o desejo de ficar.
Em termos gerais, a ideia de permanecer no destino de acolhimento ronda os 24,7% e a intenção de migrar para outro país é residual, ficando-se pelos 3%.
Emigrantes no Luxemburgo são os que mais adiam o regresso devido à pandemia
O questionário a que se reporta esta análise, e que se realizou ao longo de 2020, espelha também as expectativas de regresso face aos efeitos que a pandemia tem provocado. Apesar do seu impacto a vários níveis, a maioria dos inquiridos afirmou que a sua intenção de voltar não foi afetada pela atual crise da covid-19. Grande parte dos inquéritos – 68% – foram respondidos entre junho e outubro, por isso, segundo os investigadores, estes resultados podem ser explicados pelo facto de essas respostas terem sido dadas “num momento em que os efeitos da crise sanitária ainda não se encontravam perfeitamente visíveis e em que se tendia a perspetivar o regresso, a curto prazo, a uma situação de normalidade (testemunhada, por exemplo, pelas perspetivas económicas genericamente otimistas para o ano de 2021)”.
Por outro lado, a análise realça que a situação de pandemia já produzia, naquela altura, “reflexos, ainda que pouco expressivos, na situação laboral e económica dos inquiridos”. Assim, a suspensão da atividade laboral surge como a consequência mais assinalada pelos inquiridos (15%), seguindo-se as situações de desemprego (2%).
Os resultados mostram ainda que parte dos inquiridos afirma ter sido afetada “de formas variadas e não especificadas, relacionadas, provavelmente, com a redução do horário laboral”. “Em linha com estes dados, 34% dos inquiridos registaram uma diminuição do seu rendimento e/ou dos rendimentos da sua família, 24% dos quais de forma substancial”, sinalizam os investigadores.
Entre os emigrantes que decidiram adiar o regresso a Portugal devido à pandemia observam-se algumas diferenças entre os países e, mais uma vez, o Luxemburgo destaca-se, sendo aquele, no grupo dos estados analisados, em que mais portugueses residentes admitem ter adiado o retorno por causa da covid-19, com uma percentagem pouco acima dos 10%.
No geral, e apesar da intenção de regresso ao país de origem assumir uma posição preponderante no conjunto dos inquiridos, 40% não definiram o momento para o concretizar. De acordo com o estudo, apenas um quinto dos inquiridos que deseja voltar espera fazê-lo no curto prazo, enquanto outro quinto manifesta a intenção de regressar no médio prazo, entre 2022 e 2024. Para os restantes emigrantes que têm como objetivo o retorno, esse cenário só se coloca a partir de 2025.
“Solicitados a indicar a probabilidade de se encontrarem a residir em Portugal em três momentos específicos (no próximo ano, daqui a 5 anos e daqui a 10 anos), os inquiridos indicaram que, à medida que aumentava o espaço temporal considerado, se ampliava a percentagem dos que consideravam provável ou mesmo muito provável vir a residir no país (de 14%, para 35% e para 53% no caso do período temporal mais dilatado)”, detalham os investigadores nestas primeiras conclusões do inquérito.
Família, saudades, clima e comida: as motivações para o regresso
O estudo procurou também compreender os principais motivos que levam os emigrantes a querer regressar e conclui que, entre os inquiridos que têm a expetativa de voltar para Portugal, os fatores que mais pesam na decisão relacionam-se com a vontade de estar perto da família, com características do próprio país e com motivações de carácter mais afetivo. Em termos genéricos, “o desejo de estar próximo da família, as saudades, o clima, o apoio de familiares e o maior acesso à cultura e à gastronomia portuguesas são, individualmente, considerados relevantes por mais de 70% dos respondentes”, indica a análise. Em contrapartida, o peso de fatores atribuídos ao país de acolhimento que possam contribuir para a decisão de voltar para a Portugal são, em geral, considerados menos relevantes por parte dos inquiridos. A desilusão com o país de residência e a degradação do contexto económico são os únicos que são apontados por mais de 20% dos inquiridos, ultrapassando as dificuldades de adaptação ao país para onde se emigrou – frequentemente identificadas como razão central dos regressos -, que são apenas referidas por 16% dos inquiridos.
Se os motivos relativos ao país de origem influenciam mais a decisão de regresso e têm associadas motivações sobretudo subjetivas, para aqueles que não pretendem voltar sobrepõem-se os aspetos objetivos, com destaque para os benefícios económicos e sociais que os países de destino lhes oferecem. A situação profissional, o rendimento ou as oportunidades de progressão na carreira são fatores apontados para essa decisão. A estes juntam-se outros de carácter menos individual, mas que acabam por ser reconhecidos como mais vantajosos, pelos emigrantes portugueses, face aos do seu país de origem, como o sistema educativo e os benefícios sociais.
Homens manifestam mais vontade de voltar
As primeiras conclusões ao inquérito permitem ainda compreender as diferenças na intenção de regressar a Portugal de acordo com o género e a faixa etária dos emigrantes inquiridos. Embora a análise sustente que no que respeita aos sexos não se registam diferenças significativas nos projetos migratórios, evidencia, ainda assim, que o desejo de regressar é maior nos homens (44,2%) do que nas mulheres (41,3%), que correspondem atualmente a pouco menos de metade do total de saídas e que nas últimas três décadas têm emigrado mais de forma individual. Por outro lado, entre os emigrantes que respondem pretender ficar no país que os acolheu as mulheres representam 26,3% e os homens 25,1%. E nos que ainda estão indecisos em relação ao seu futuro migratório, a percentagem também é superior no sexo feminino (29,9%, por comparação com 26,3% do sexo masculino).
Já no que respeita à idade, e sem surpresas, é nas faixas etárias mais avançadas que se concentram as maiores percentagens de emigrantes que pretendem regressar. O grupo dos inquiridos com 50 ou mais anos é aquele que mais refere a vontade de retornar a Portugal (59,8% dos inquiridos desta faixa etária), enquanto a expetativa de permanecer no país de acolhimento ou de remigração se verifica, sobretudo, nas faixas etárias com idades inferiores, com 30% dos inquiridos com menos de 50 anos a indicarem uma destas opções. Por fim, são ainda os mais jovens aqueles que apresentam uma maior indefinição quanto ao seu projeto migratório futuro (30%).
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