Pobres e muito agradecidos
Pobres e muito agradecidos
A ASTI (Associação de apoio aos trabalhadores imigrados) revelou recentemente uma sondagem em que a esmagadora maioria dos imigrantes sentem-se cidadãos do Luxemburgo (cerca de 84% dos inquiridos), um número que chega aos 90% entre os portugueses. Essa identificação atinge o máximo, para 68% dos imigrantes inquiridos que se identificam como luxemburgueses.
Estes resultados não são maus: demonstram que os imigrantes gostam da terra e da sociedade que escolheram para viver.
Aquilo que é mau é que uma imensa maioria dos inquiridos não considera essencial ter os mesmos direitos políticos que o resto dos residentes que têm a nacionalidade luxemburguesa.
Apenas 33% consideram que ter direito de voto em todas as eleições que se realizam no Grão-Ducado reforçaria a coesão social do país, e só 40% pensa que essa possibilidade facilitaria a decisão sobre os desafios futuros com que se bate o Grão-Ducado.
Um preocupante resultado num país que, embora muito rico, tem mais de 104 mil pessoas no limiar da pobreza, a maiorias dos quais é imigrante e trabalha mais de 40 horas por semana.
Pelos vistos, os mais pobres do Luxemburgo– aqueles que maiores problemas têm em arranjar uma habitação ou ter um ensino para as suas crianças que contribua para que tenham uma vida melhor que os pais – não querem ter uma palavra a dizer para resolver os problemas da sociedade em que vivem.
O sucesso de uma sociedade não se mede apenas pela riqueza que produz, mas pela capacidade que tem para produzir uma democracia em que todos podem ter uma voz ativa na construção de uma sociedade mais justa.
No oitavo congresso das associações provenientes e dos herdeiros da imigração, o presidente do CSV teve duas afirmações muito importantes: que se deve poder discutir o modelo de crescimento demográfico do Grão-Ducado e que nessa discussão sobre o futuro desta terra tinham que participar toda a gente que aqui vive e trabalha. Frank Engel acrecentou ainda que este processo devia ser feito com calma e serenidade de forma que todos possam participar nesse debate.
A sociedade do Luxemburgo tem muito de bom, mas muito para melhorar. Na segunda-feira, o Contacto teve uma reportagem premiada pela Amnístia Internacional do Luxemburgo, um trabalho notável das jornalistas Paula Telo Alves e Sibila Lind que acompanharam a vida de um sem-abrigo luxemburguês. Claude teve um emprego bem pago, mas vida fê-lo cair. Desde aí, sobrevive como um miserável numa das sociedades mais ricas do mundo. Uma sociedade que apesar de muito rica não é capaz de olhar por todos os seus. Uma genial reportagem para voltar a ver, pensar e agir.
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