Os portugueses de Pétange. Mónica das tatuagens
Os portugueses de Pétange. Mónica das tatuagens
Há um ano, a vida de Mónica Macedo mudou radicalmente. Aos 32 anos, decidiu deixar o seu emprego num banco, onde trabalhou durante seis anos, para começar a tatuar. Tinha estudado desenho e sempre gostou da arte de pintar o corpo. Primeiro experimentou fazer tatuagens nas amigas e nela própria, nas pernas. Depois partilhou os seus trabalhos nas redes sociais e o sucesso foi tal que abriu o seu estúdio em Pétange. "Isso mostra que se pode mudar de trabalho quando se quer", afirmou, orgulhosa, a artista portuguesa.
O nome do estúdio surgiu naturalmente. "Não pensei muito, foi uma coisa rápida. MonInk, porque junta o meu nome e ‘ink’, que quer dizer tinta", explicou. Mónica vive em Strassen, na capital, mas decidiu abrir o espaço em Pétange, porque o aluguer não era tão caro. "Agora conheço aqui toda a gente. E toda a gente conhece o estúdio, sobretudo por causa das redes sociais". Antes de abrir o estúdio, o pai já estava naquele espaço e faziam juntos esculturas de gesso das barrigas de mulheres grávidas, como recordações.
Não há nada de bruto, só fazemos coisas discretas, que dá para todas as idades. Há mulheres com 60 anos que vêm tatuar um braço e fica bem.
O início do negócio das tatuagens foi complicado, porque estava sozinha. "Comecei por fazer coisas pequenas, porque não era conhecida. Estive sozinha durante três meses, mas depois vieram mais três raparigas. Agora somos duas artistas portuguesas e duas luxemburguesas", notou. Fazem tatuagens para homens e mulheres, mas é tudo estilo ‘fine line’, com a agulha mais fina que há. "Não há nada de bruto, só fazemos coisas discretas, que dá para todas as idades. Há mulheres com 60 anos que vêm tatuar um braço e fica bem, porque é mesmo fininho. Diria que 90% dos clientes são mulheres. Os homens normalmente só pedem linha e coisas geométricas".
Mónica nasceu em Braga, mas chegou ao Luxemburgo com apenas dois meses de vida, quando os pais emigraram. "Posso dizer que sou luxemburguesa. Tenho as duas nacionalidades, porque é mais fácil para encontrar trabalho cá", referiu. O pai veio primeiro, para trabalhar construção, e a mãe só chegou cinco anos depois, ganhando a vida nas limpezas. Hoje estão quase reformados. "Depois devem voltar para Portugal, porque a vida é mais bonita lá. Eu por mim também ia", confessou a tatuadora.
Por enquanto, vai passando os seus dias no estúdio em Pétange, exceto às quartas-feiras e domingos, quando fecha. Ali recebem clientes de todo o lado. "Temos de tudo. Muitos luxemburgueses, mas também portugueses, franceses e belgas. Mas não muitos estrangeiros, porque no Luxemburgo as tatuagens são mais caras. Ainda assim, já temos marcações até dezembro, está tudo cheio", revelou a proprietária do espaço, que além do luxemburguês e português, também fala alemão, francês, inglês e um pouco de espanhol.
Antes havia aquela ideia de que a tatuagem era feita num estúdio escuro, mas isso mudou. Cada vez mais pessoas fazem tatuagens.
Os clientes pedem de tudo. "Acho que o que fiz mais foi tatuagens nas pernas. É o que as raparigas pedem mais", notou Mónica. "Onde gosto menos de tatuar é a nível do torso, porque com a respiração da pessoa tenho que andar com a máquina para cima e para baixo. O que gosto mais de tatuar são os braços. É também o que dói menos". As sessões têm uma duração máxima de quatro horas. "Normalmente as clientes não aguentam mais", explica, a rir-se. "Depois das quatro horas, o corpo começa a dizer ‘stop, stop, stop’. Se tatuar as costas, por exemplo, é mais complicado. Temos de fazer três ou quatro sessões".
A tatuagem mais longa que já fez foi um leão numas costas, que levou seis sessões de quatro horas para concluir, ou seja, 24 horas no total. Esse foi também o trabalho mais caro. "Essa tatuagem custou 2000 euros. Tinha muitos detalhes e demorou mais tempo. O mínimo que fazemos é 120 euros, mesmo que seja um coração num dedo, e o máximo por dia é 850", salientou. Mónica considera que a procura por tatuagens tem mudado muito no Luxemburgo. "Antes havia aquela ideia de que a tatuagem era feita num estúdio escuro, mas isso mudou. Cada vez mais pessoas fazem tatuagens. Acho que tem a ver com as redes sociais. As pessoas querem mostrar e ser parecidas com outras que veem nas fotografias".
Trabalho com o hospital de Strassen e enviam-me as pacientes [que tiveram cancro]. Tenho mais do que pensava. Até é triste, mas elas saem daqui todas contentes.
Além da tatuagem convencional, a artista também faz a reconstrução do mamilo em 3D para mulheres que tiveram cancro. "Trabalho com o hospital de Strassen e eles enviam-me as pacientes. Tenho mais do que pensava. Até é triste, mas elas saem daqui todas contentes. E os maridos também", brincou. Depois do estúdio em Pétange, Mónica gostava de abrir um espaço em Portugal. "Não gosto muito de viver no Luxemburgo. É muito stress. Vou a Portugal umas quatro vezes por ano e estou mesmo a pensar abrir lá um estúdio, talvez no Porto. Aqui é muito difícil para comprar alguma coisa", concluiu.
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