Os portugueses de Pétange. Anabela e Manuel da mercearia
Os portugueses de Pétange. Anabela e Manuel da mercearia
Abrir uma loja portuguesa no Luxemburgo pode ser um grande desafio. A escolha do nome tem de ser original para não se correr o risco de ser "só mais uma". Foi por isso que há seis anos, quando decidiram abrir uma pequena mercearia, Anabela Oliveira e Manuel Pena optaram pelo nome "A Despensa". "Tínhamos que ser criativos e fazer algo diferente. Arranjar um nome que se destacasse. Escolhemos ‘A Despensa’ porque não somos um grande hipermercado, mas temos um pouco de tudo aquilo que a pessoa precisa de ter em casa e encontra na sua despensa", explicou a mulher, de 44 anos.
A Despensa já existe desde 2016. Começou em Differdange como uma pequena mercearia e três anos depois instalou-se em Pétange. "Também abrimos uma loja em Athus, na Bélgica, que no início até funcionou melhor. Agora as duas já têm o seu peso, a sua carteira de clientes. Mas a de Pétange é a principal", afirmou Anabela. Pouco depois de se instalarem na nova loja, veio a pandemia, mas acabou por ter um efeito positivo: "A clientela disparou, porque as grandes superfícies tinham muitas restrições, então as pessoas vinham aqui. Depois da pandemia, estabilizou. Pensamos que ia baixar imenso, mas manteve".
Não somos um grande hipermercado, mas temos um pouco de tudo aquilo que a pessoa precisa de ter em casa e encontra na sua despensa.
Anabela Oliveira
A proprietária diz ter consciência de que as pessoas não fazem as compras do mês naquela loja, mas quando falta alguma coisa em casa "sabem que encontram n’A Despensa". Grande parte dos clientes são portugueses, mas também há luxemburgueses e franceses, que procuram mais a fruta e o vinho. "Mas o nosso foco é na comunidade portuguesa, porque temos outros conhecimentos. Se quiséssemos virar-nos para outros clientes, tínhamos de fazer um estudo sobre os produtos. Com os produtos portugueses é mais fácil", admitiu.
Anabela é de Santa Comba Dão, no distrito de Viseu. Chegou ao Luxemburgo com 15 anos. O pai já tinha emigrado antes, então quando acabou a escola decidiu ir ter com ele. Começou por trabalhar numa pensão portuguesa, mas uns anos depois casou e não conseguia conciliar o emprego com a família. "A partir daí, trabalhei sempre no catering da Luxair, a preparar as refeições para os aviões. Ainda continuo a meio tempo, já tenho 23 anos de casa. Ao mesmo tempo trabalho na mercearia", contou.
O marido, Manuel, 45 anos, de Tondela, tinha decidido abrir o próprio negócio porque esteve perto de perder o seu emprego como gerente de um supermercado. "Começamos a investir no nosso futuro e em nós próprios. Era uma profissão que ele já conhecia. É o que ele sabe e gosta de fazer. Foi o nosso primeiro negócio juntos. Ele tinha essa vontade e eu senti-me na obrigação de o encorajar. Fomos juntos à luta", contou ela. Hoje vivem juntos em Bascharage, mas passam os dias em Pétange e em Athus.
Trabalhei sempre no catering da Luxair, a preparar as refeições para os aviões. Tenho 23 anos de casa. Ao mesmo tempo trabalho na mercearia.
Anabela Oliveira
Para Anabela, foi o descobrir de uma nova profissão. "Gosto deste trabalho. Não conhecia nada disto, tive de aprender e evoluir. Fi-lo para ajudar o meu marido e chegamos à conclusão que tinha de ficar mais integrada no projeto". Todos os dias, por volta das 7h30, ela vai para a loja e prepara tudo para a abertura às 9h. Depois vai fazendo "um pouco de tudo", desde caixa ao atendimento dos clientes, juntamente com outra funcionária, Catarina, de 28 anos. Ali vendem todo o tipo de produtos, mas apostam mais na charcutaria, que vem de Viseu, e no peixe congelado. Tudo 100% português, garantem.
Manuel e Anabela decidiram abrir a loja em Pétange porque é uma cidade fronteiriça. "Escolhemos este sítio precisamente porque conseguimos ajudar as pessoas de França, da Bélgica, do sul do Luxemburgo, que tem muitos portugueses. Tem ótimos acessos", notou. O objetivo para o futuro é manter o projeto e, se possível, expandi-lo. "Seja no Luxemburgo ou nos países à volta, porque também apostamos muito na Bélgica. Queremos simplesmente expandir, sem limites", afirmou a proprietária.
Esse é o plano pelo menos até se reformarem. "O meu marido diz que no dia em que chegar à reforma faz as malas e vai embora para Portugal. É um trabalho que nos desgasta muito física e psicologicamente. Não temos tempo nenhum. É sempre a correr", referiu Anabela, admitindo que também voltaria com o marido, apesar de gostar mais de estar no Luxemburgo. "Aqui sinto-me em casa. Em Portugal sou uma estrangeira. O Luxemburgo é o meu país. Quando um dia chegar à reforma e voltar para Portugal, aí serei 100% portuguesa".
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