Grão-Duque Henri pela primeira vez em Cabo Verde
Grão-Duque Henri pela primeira vez em Cabo Verde
A visita do Grão-Duque a Cabo Verde que arrancou na segunda-feira e se prolonga até quinta era a deslocação que faltava para cimentar a estreita relação de cooperação existente entre os dois países desde a década de 80.
Do lado cabo-verdiano, o presidente José Carlos Fonseca esteve no Grão-Ducado em Setembro de 2013 e o primeiro-ministro José Maria Neves visitou o país pela última vez em Abril de 2012.
Do lado luxemburguês, o actual primeiro-ministro Xavier Bettel escolheu visitar o arquipélago na sua primeira visita a um país fora da Europa, há um ano – a 4 de Março de 2014, precisamente para preparar o 4° PIC. O seu antecessor e precursor das relações bilaterais entre os dois Estados, Jean-Claude Juncker, esteve mais de uma vez em Cabo Verde, a última das quais em Janeiro de 2008.
Três décadas após o início das relações entre os três países, esta visita do Grão-Duque acaba por ser o corolário de uma relação de amizade, disse o soberano.
“Cabo Verde é um país exemplar do ponto de vista político e económico. É por isso que vemos com muito interesse o desenvolvimento do país. Temos uma cooperação agora verdadeiramente económica que se está a levar a cabo e é assim que vemos a evolução da nossa ajuda ao desenvolvimento. A comunidade cabo-verdiana no Luxemburgo é extraordinariamente bem integrada. Estamos contentes por ter os cabo-verdianos entre nós, porque não somente trazem o sol de Cabo Verde, mas esta maravilhosa forma de vida”, disse o Grão-Duque durante o encontro com o Presidente de Cabo Verde.
Para o Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, esta deslocação do Grão-Duque só foi possível porque existe entre o Luxemburgo e Cabo Verde “uma relação verdadeiramente amistosa, de cumplicidade e de excelência”. “Esta visita representa também um momento particular de reafirmação das relações de cooperação. Um dos elementos que suporta essa relação de excelência é a presença de uma comunidade cabo-verdiana no Luxemburgo que se sente muito bem integrada e que vê no Luxemburgo quase uma segunda pátria e que tem merecido das autoridades luxemburguesas um tratamento muito digno”, conclui Jorge Carlos Fonseca.
GRÃO-DUQUE INAUGURA CENTRO DE FORMAÇÃO
O Grão-Duque inaugura esta quarta-feira a residência de estudantes da Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde (EHTCV). A nova estrutura vai poder acolher a partir de agora estudantes de todas as ilhas, depois de a cooperação luxemburguesa ter financiado em 2011 a construção da EHTCV, que tem capacidade para receber 450 formandos por ano em formação contínua.
Alguns desses formandos vão confeccionar e servir na quarta-feira o almoço às comitivas luxemburguesa e cabo-verdiana. “Vão mostrar o que aprenderam durante a formação. Vão cozinhar e servir pratos locais, mas vai haver também um toque luxemburguês, com o nosso vinho e um bolo típico”, garantiu a relações públicas do Palácio Grão-ducal, Isabelle Faber.
Na terça, foi a vez da inauguração do Centro de Energia Renováveis e Manutenção Industrial, também construídas com financiamento concedido pelo Governo do Luxemburgo.
O programa oficial inclui ainda esta quarta-feira uma visita cultural à Cidade Velha, o berço da nação cabo-verdiana e património da UNESCO desde 2009, onde o ministro da Cultura e músico Mário Lúcio vai actuar, juntamente com o percussionista luxemburguês radicado em Nova Iorque Jerome Goldschmidt. O Grão-Duque vai ainda assistir a uma tocatina e visitar o antigo mercado dos escravos.
A comitiva partiu na terça-feira para Mindelo, em S. Vicente, onde vai ser recebida pelo autarca local, Augusto Neves, seguindo viagem de ferryboat para Santo Antão, a ilha de onde vem a maioria dos cabo-verdianos no Luxemburgo.
Em Santo Antão, o Grão-duque é recebido às 17h locais (19h do Luxemburgo) pelos três autarcas da ilha, terminando o dia com uma visita ao projecto da ONG luxemburguesa Cap Vert Espoir et Development, que está a levar a cabo a construção de um mercado informal que visa “permitir melhores condições de trabalho para os vendedores ambulantes locais e melhores condições de higiene”, referiu a responsável do Serviço de Informação e Imprensa do Estado, Stefanie Simonelli.
Este é um dos exemplos da cooperação luxemburguesa que fica fora do âmbito bilateral, e que representa uma pequena fatia dos números da ajuda ao desenvolvimento – 486 mil euros em 2013. Diversas ONG luxemburguesas estão ainda no terreno com projectos em Cabo Verde. Na quinta-feira, o Grão-Duque vai encontrar-se com os alunos do liceu António Silva Pinto, em Ribeira das Patas, que beneficiaram de um projecto de apoio humanitário por parte da ONG Athénée action humanitaire. A delegação visita também um projecto da OGBL-Solidariedade Sindical levado a cabo pelo Sindicato Livre dos Trabalhadores de Santo Antão, antes de regressar ao aeroporto Cesária Évora, em Mindelo, para a despedida com honras militares.
O Grão-Duque teve já vários encontros com as autoridades cabo-verdianas esta terça-feira. Além do Presidente de Cabo Verde, recebeu das mãos do autarca da capital, Ulisses Correia, a chave da cidade da Praia, e depositou uma coroa de flores no monumento a Amílcar Cabral, juntamente com Jorge Carlos Fonseca e a ministra das Comunidades Cabo-verdianas, Fernanda Fernandes.
O Grão-Duque foi ainda recebido pelo primeiro-ministro José Maria Neves num almoço na sala de banquetes do Palácio do Governo e esteve numa sessão solene na Assembleia Nacional, presidida por Basílio Mosso Ramos, durante a qual foram ouvidos os hinos nacionais dos dois países.
As relações de cooperação entre o Estado de Cabo Verde e Luxemburgo datam dos anos 80 e, em 1993, Cabo Verde torna-se um país parceiro privilegiado da cooperação Luxemburguesa para o desenvolvimento, após a assinatura do primeiro Acordo Geral de Cooperação, a 3 de Agosto de 1993, definindo o quadro geral da actividade de Cooperação nos domínios, cultural, científico, técnico, financeiro e económico entre os dois países.
Desde 1999, realizam-se, a um ritmo anual – em alternância entre Praia e Luxemburgo – as comissões de parceria entre os dois Estados.
Em Janeiro de 2002, os dois países assinaram o primeiro Programa Indicativo de Cooperação (PIC), durante uma visita a Cabo Verde do antigo primeiro-ministro Jean-Claude Juncker.
O primeiro acordo de cooperação (2002-2005) representou um investimento de 33,5 milhões de euros, tendo o segundo protocolo envolvido 45 milhões de euros (2006-2010).
O 3° PIC, que termina em 2015, ronda os 60 milhões de euros, e o 4° (2016-2020), que deverá ser assinado na quarta-feira na Câmara Municipal de Ribeira Grande, reduz aquele montante em 15 milhões de euros, para 45 milhões.
Henrique de Burgo, em Cabo Verde
